Cor: Azul
Símbolo matemático: Divisão
Temas: Crise, tristeza, desânimo, ruptura, falta, incompatibilidade, queda, infelicidade, filtragem, quebra, reparação, relato, instantaneidade, tempo, cansaço
Data aproximada de escrita: início de maio a novembro de 2022
1. Intermitente
Tô achando tudo tão chato
O povo vivendo um modo estereotipado
Será que eu tô sendo ingrato?
Com a vida que parece um fardo
O tempo que hoje é preemente
Cada dia inventam mais tecnologia
A sociedade está dormente
Se lixando pra sua biografia
Sim, estou intermitente
Sim, estou um pouco ausente
Sim, a vida que se sente
Sim, o amor que não se mente
Sim, estou intermitente
Sim, estou talvez presente
Sim, a lida que se tente
Sim, o amor que não se invente
Tô achando tudo tão parado
Sinto muita falta da dignidade
Será que eu tô sendo errado?
Quando não expulso essa maldade
A iniquidade é difusa
Todo dia aumenta esse horror
A verdade está confusa
Discutindo o seu próprio valor
Sim, estou intermitente
Sim, estou um pouco ausente
Sim, a vida que se sente
Sim, o amor que não se mente
Sim, estou intermitente
Sim, estou talvez presente
Sim, a lida que se tente
Sim, o amor que não se invente
Intermitente
2. Monólogo antes de dormir
Eu sei que inventar algo novo é totalmente impossível na atualidade.
Romper com os modelos já construídos e consagrados pela inerte sociedade.
Como posso preencher o vazio deixado por essa ruptura?
Sinto que me despedacei em milhões de pedaços.
Não poderei mais retornar ao estado anterior da mesmice cotidiana.
Essa sensação de que o mundo está cada dia mais chato.
Ter que lidar com o vazio em uma era que deveria ser cheia de possibilidades.
A falsidade vigente impede a captação verdadeira da essência particular.
Será que consigo passar por esses processos existenciais?
Talvez o melhor seja se acautelar e deixar o tempo trazer as devidas respostas.
3. Falta
A falta é um fato
Um fato pra mim
Talvez um extrato
O extrato do fim
A falta é uma carência
Um carência enfim
Decerto a ausência
A ausência do sim
A falta é uma projeção
Uma projeção da necessidade
Talvez uma rejeição
A rejeição da pessoalidade
A falta é uma limitação
Uma limitação da possibilidade
Decerto uma aspiração
A aspiração da mediocridade
A falta
Exalta
Maltrata
Faz falta
A falta
Distrata
Retrata
Faz falta
4. Incompatível
Aquilo que você quer
Você não pode ter
Aquilo que eu quero ter
Eu não posso ter
Não posso ter
Não pode ter
Pra que sofrer?
Se o que queremos é...
Incompatível
Inconcebível
Insuscetível
Irredutível
Incompatível
Irresistível
Indescritível
Imprescritível
Aquilo que você quer ser
Você não pode ser
Aquilo que eu quero ser
Eu não posso ser
Não posso ser
Não pode ser
Pra que sofrer?
Se o que queremos é...
Incompatível
Inconcebível
Insuscetível
Irredutível
Incompatível
Irresistível
Indescritível
Imprescritível
5. Afundando
Afundando, cada vez mais
Me arriscando, cada vez mais
Me afastando, cada vez mais
Maltratando
Eu sei que estou me afundando
Eu sei que estou arriscando
Eu seu que estou afastando
Eu sei que estou me maltratando
No meio dessa loucura, eu vejo que...
Tá todo mundo meio vazio
Tá todo mundo meio carente
E eu, cada dia mais me afundando
Nesse mundo inconsequente
Tá todo mundo meio ansioso
Tá todo mundo meio doente
E eu, cada dia mais me afundando
Nessa vida incongruente
Afundando
Arriscando
Afastando
Maltratando
Afundando
6. Manifesto da Infelicidade
Este é o Manifesto da Infelicidade.
A felicidade foi enterrada pela sociedade contemporânea.
É chegada uma nova era para a indecisa humanidade.
Os infelizes poderão exercer sua infelicidade sem repressões alheias.
Infelizes de todo o planeta Terra poderão ser infelizes sem medo.
A Felicidade foi uma construção conveniente para a ilusão da humanidade.
É o momento dos infelizes mostrarem toda a hipocrisia dessa instituição falida.
Os infelizes deverão mostrar que não se pode ser feliz por muito tempo nesse mundo de terríveis desgraças.
Infelizes, sejam infelizes.
Cada dia mais infelizes.
Até a Infelicidade se tornar insuportável.
Aí teremos que inventar outra Infelicidade.
7. Processo
Processo
Relevo
Não digo
Que te clamo
Processo
Espero
Não sinto
Que te chamo
Processo, tradicional
Início, com um meio, com um fim
Processo, disfuncional
Início, talvez um meio, sem um fim
Processo, intermitente
Necessidade da instabilidade
Processo, inconsequente
Falta da própria realidade
Processo
Flagelo
Não penso
Que te amo
Processo
Anseio
Não lembro
Que te estranho
Processo, tradicional
Início, com um meio, com um fim
Processo, disfuncional
Início, talvez um meio, sem um fim
Processo, intermitente
Necessidade da instabilidade
Processo, inconsequente
Falta da própria realidade
Processo
8. Peneiro
Peneiro daqui
Peneiro acolá
Peneiro espelhos
Tentando me amar
Peneiro daqui
Peneiro acolá
Peneiro histórias
Tentando me achar
Peneiro daqui
Peneiro acolá
Peneiro amores
Que não vão rolar
Peneiro daqui
Peneiro acolá
Peneiro temores
Que não vão passar
Peneiro areias
Pessoas, sentimentos
Todo o tempo, todo o espaço
Movimentos, um processo salutar
Peneiro expressões
Essências, conhecimentos
Toda a ideia, toda o opaco
Experimentos, uma intermitência exemplar
Peneiro todo dia, pra tentar separar
Separar a impureza, que insiste em ficar
Peneiro todo dia, pra tentar esquecer
Esquecer a solidão, que insiste em sofrer
9. Pratos
Estou quebrando pratos
Pratos de muitas eras
Estou quebrando fatos
Fatos de muitas feras
Estou quebrando pratos
Pratos de muitos insanos
Estou quebrando gratos
Gratos de muitos danos
Eu quebrando pratos
Pratos do inconsciente
Estou quebrando autos
Autos de muita gente
Estou quebrando pratos
Pratos da inconsequência
Estou quebrando chatos
Chatos de muita ausência
Eu preciso quebrar esses pratos
Esmigalhá-los nas minhas mãos
Esmigalhá-los até se tornarem pó
Só assim conseguirei ter um pouco de paz
Eu preciso quebrar esses pratos
Não me importo que seja uma tarefa contínua
Eu preciso urgentemente quebrar esses pratos
Se eu não quebrar esses pratos eles me quebrarão sem dó
Estou quebrando pratos
Não se preocupe se eu não quebrar alguns pratos agora
Eu vou quebrar esses pratos na hora certa
Há muitos pratos a serem quebrados no mundo
10. Versos Reparadores
Reparem
Não calem
Exalem
Reparem
Reparem
Não falhem
Espalhem
Reparem
Reparem versos! Reparem!
Esses versos são reparadores
Reparadores de todas as situações desagradáveis
Reparadores de todas as atitudes que causaram algum dano
Reparadores de muitas feridas que ainda não cicatrizaram
Esses versos são reparadores
Reparadores de todas as histórias negligenciadas ao longo da história da humanidade
Reparadores de todo o sofrimento provocado pela ação humana
Reparadores de toda a prepotência humana de atingir o poder a custa da vida dos seres humanos, animais e de toda a natureza
Esses versos são reparadores
Mas também são versos transcendentes
São versos que ultrapassam as coisas materiais e banais
São versos que ligam um passado sofrido, um presente questionador e um futuro de possibilidades melhores
Reparar é mais que restaurar
É possibilitar um novo recomeço
Um recomeço sem amarras
Reparar é uma forma de respeitar
O respeito é sempre bem-vindo
É uma condição importante da vida
Reparem versos, reparem cada vez mais
Reparar é um ato de amor
Um amor que não se limita
Reparem versos, eu peço, por favor, reparem
Somente reparando o ser humano vai aprender a importância desse ato
Um ato essencial para a vida na Terra
Reparem
Não calem
Exalem
Reparem
Reparem
Não falhem
Espalhem
Reparem
Reparem versos! Reparem!
11. Carta-relato
Oi, tudo bem?
Essa carta-relato é para você
Você achou que eu tinha te esquecido?
Eu espero que um dia você possa ter a alegria
A alegria de poder ser quem você realmente é
Eu espero quem um dia você deixe essa vida de mentiras
De mentiras que te machucam e te impedem de conhecer seu verdadeiro eu
Quando eu me descobri, era tudo hipocrisia
Achava que o mundo era vida que eu levava
Mas naquela queda eu percebi, sobretudo eu já sentia
Que o castelo de areia já estava desabando
O primeiro andar desabou aos 16
Cadê todo suporte? Tô no fim da adolescência
Mudança de cidade, mudança de comportamento
Comecei a faculdade, imagina o tormento
O segundo andar desabou aos 20
Como suportar a sociedade? Tô só a revolta
Mudança de mentalidade, uma nova consciência
Tive uma epifania, aumentou minha confusão
O terceiro andar desabou aos 22
Como encarar a ociosidade? Tô me sentindo muito vazio
Mudança de personalidade, o surgimento do pessimismo
Me afastei de tudo, enxerguei muita coisa
O quarto andar pode desabar aos 25 ou 26
Como aguentar essa falsidade? Tô cada diz mais cansado
Mudança de afinidade, a decepção com os seres humanos
Busquei alteridade, encontrei futilidade
Enfim, existem muitos andares para desabar
Essa carta-relato foi para você
Espero que você tenha apreciado
Estou esperando a sua resposta em forma de carta-relato
12. Instantâneo
Não gostei
Passei pro próximo
Me irritei
Bloqueei sem dó
Não gostei
Faltou a beleza
Me decepcionei
Era um perfil falso
Me desapeguei
Tenho muitas opções
Já fui ignorado
Quebrei a cara e continuei
Me apaixonei
Era tudo cilada
Desviei do golpe
Percebi a enganação
Hoje tudo é instantâneo
Se começou vai terminar
O mundo todo em simultâneo
Na ansiedade sem melhorar
Hoje tudo é instantâneo
Se não agradou vai descartar
O povo todo é conterrâneo
De um consumismo sem cessar
Instantâneo
Simultâneo
Conterrâneo
Instantâneo
Simultâneo
Conterrâneo
Instantâneo
13. Tenho tempos para mim
O tempo para mim é estranho
As vezes não sinto seu efeito
O tempo para mim é um ganho
Numa vida que só tem mais defeito
O tempo para mim passa devagar
Sinto a necessidade da rapidez
O tempo para mim passa depressa
Desejo a existência da tepidez
Tenho tempos para mim
Mas muitos não têm esses tempos
Os meus tempos fazem assim
Vão criando meus intentos
Tenho tempos para mim
Mas muitos não ouvem esses tempos
Os meus tempos mudam sim
Vão trazendo meus inventos
Tenho tempos para mim
Mas muitos não expressam esses tempos
Os meus tempos traduzem enfim
Vão melhorando meus talentos
Tenho tempos para mim
Mas muitos não questionam esses tempos
Os meus tempos pedem em mim
Vão mudando meus sustentos
Tenho tempos para mim
14. Cansei
Quem deveria me apoiar não me apoiou
Quem deveria me negar não me negou
Quem deveria me ajudou não me ajudou
Quem deveria me evitar não me evitou
Quem deveria me abraçar não me abraçou
Quem deveria me criticar não me criticou
Quem deveria me motivar não me motivou
Quem deveria me excluir não me excluiu
Cansei dessa falta empatia
Bela máscara da hipocrisia
Indiferente a tudo que eu sofria
A tranquilidade que eu queria
Cansei dessa falsa alteridade
Bom pretexto pra maldade
Persistente em toda a hostilidade
Eu queria mais sinceridade
Cansei, vivo minha vida sem ligar para essa falsidade que a cada dia cresce mais
Vou vivendo minha vida de acordo com minhas convicções pessoais
Tenho a impressão que os resultados dessas ações serão letais
Não me sustento em vaidades humanas que são banais
Cansei, se o mundo quiser ele pode se lascar
Não vou ficar evitando mais um outro atacar
Tenho muita noção que tentei sempre melhorar
Não me apego a humanidade que insiste em piorar
Cansei
É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.
Todos os direitos reservados.