quarta-feira, 15 de março de 2023

Processo Intermitente - As crises de Felipe Prasino (2022). Obs:. 3° livro de Felipe Prasino.

Cor: Azul

Símbolo matemático: Divisão

Temas: Crise, tristeza, desânimo, ruptura, falta, incompatibilidade, queda, infelicidade, filtragem, quebra, reparação, relato, instantaneidade, tempo, cansaço

Data aproximada de escrita: início de maio a novembro de 2022


1. Intermitente


Tô achando tudo tão chato

O povo vivendo um modo estereotipado

Será que eu tô sendo ingrato?

Com a vida que parece um fardo


O tempo que hoje é preemente

Cada dia inventam mais tecnologia

A sociedade está dormente

Se lixando pra sua biografia


Sim, estou intermitente

Sim, estou um pouco ausente

Sim, a vida que se sente

Sim, o amor que não se mente


Sim, estou intermitente

Sim, estou talvez presente

Sim, a lida que se tente

Sim, o amor que não se invente


Tô achando tudo tão parado

Sinto muita falta da dignidade

Será que eu tô sendo errado?

Quando não expulso essa maldade


A iniquidade é difusa

Todo dia aumenta esse horror

A verdade está confusa

Discutindo o seu próprio valor


Sim, estou intermitente

Sim, estou um pouco ausente

Sim, a vida que se sente

Sim, o amor que não se mente


Sim, estou intermitente

Sim, estou talvez presente

Sim, a lida que se tente

Sim, o amor que não se invente


Intermitente


2. Monólogo antes de dormir


Eu sei que inventar algo novo é totalmente impossível na atualidade.

Romper com os modelos já construídos e consagrados pela inerte sociedade.

Como posso preencher o vazio deixado por essa ruptura?

Sinto que me despedacei em milhões de pedaços.

Não poderei mais retornar ao estado anterior da mesmice cotidiana.

Essa sensação de que o mundo está cada dia mais chato.

Ter que lidar com o vazio em uma era que deveria ser cheia de possibilidades. 

A falsidade vigente impede a captação verdadeira da essência particular. 


Será que consigo passar por esses processos existenciais?

Talvez o melhor seja se acautelar e deixar o tempo trazer as devidas respostas.


3. Falta


A falta é um fato

Um fato pra mim

Talvez um extrato

O extrato do fim 


A falta é uma carência

Um carência enfim

Decerto a ausência

A ausência do sim 


A falta é uma projeção

Uma projeção da necessidade

Talvez uma rejeição

A rejeição da pessoalidade 


A falta é uma limitação

Uma limitação da possibilidade

Decerto uma aspiração

A aspiração da mediocridade 


A falta

Exalta

Maltrata

Faz falta 


A falta

Distrata

Retrata

Faz falta


4. Incompatível


Aquilo que você quer

Você não pode ter

Aquilo que eu quero ter

Eu não posso ter 


Não posso ter

Não pode ter

Pra que sofrer?

Se o que queremos é...


Incompatível

Inconcebível

Insuscetível

Irredutível 


Incompatível

Irresistível

Indescritível

Imprescritível 


Aquilo que você quer ser

Você não pode ser

Aquilo que eu quero ser

Eu não posso ser 


Não posso ser

Não pode ser

Pra que sofrer?

Se o que queremos é...


Incompatível

Inconcebível

Insuscetível

Irredutível


Incompatível

Irresistível

Indescritível

Imprescritível



5. Afundando


Afundando, cada vez mais

Me arriscando, cada vez mais

Me afastando, cada vez mais

Maltratando


Eu sei que estou me afundando

Eu sei que estou arriscando

Eu seu que estou afastando

Eu sei que estou me maltratando


No meio dessa loucura, eu vejo que...


Tá todo mundo meio vazio

Tá todo mundo meio carente

E eu, cada dia mais me afundando

Nesse mundo inconsequente


Tá todo mundo meio ansioso

Tá todo mundo meio doente

E eu, cada dia mais me afundando

Nessa vida incongruente


Afundando

Arriscando

Afastando

Maltratando


Afundando


6. Manifesto da Infelicidade


Este é o Manifesto da Infelicidade.

A felicidade foi enterrada pela sociedade contemporânea.

É chegada uma nova era para a indecisa humanidade.

Os infelizes poderão exercer sua infelicidade sem repressões alheias.


Infelizes de todo o planeta Terra poderão ser infelizes sem medo.

A Felicidade foi uma construção conveniente para a ilusão da humanidade.

É o momento dos infelizes mostrarem toda a hipocrisia dessa instituição falida.

Os infelizes deverão mostrar que não se pode ser feliz por muito tempo nesse mundo de terríveis desgraças.


Infelizes, sejam infelizes.

Cada dia mais infelizes.

Até a Infelicidade se tornar insuportável.

Aí teremos que inventar outra Infelicidade.


7. Processo


Processo

Relevo

Não digo

Que te clamo


Processo

Espero

Não sinto

Que te chamo


Processo, tradicional

Início, com um meio, com um fim

Processo, disfuncional

Início, talvez um meio, sem um fim


Processo, intermitente

Necessidade da instabilidade

Processo, inconsequente

Falta da própria realidade


Processo

Flagelo

Não penso

Que te amo


Processo

Anseio

Não lembro

Que te estranho


Processo, tradicional

Início, com um meio, com um fim

Processo, disfuncional

Início, talvez um meio, sem um fim


Processo, intermitente

Necessidade da instabilidade

Processo, inconsequente

Falta da própria realidade


Processo


8. Peneiro


Peneiro daqui

Peneiro acolá

Peneiro espelhos

Tentando me amar


Peneiro daqui

Peneiro acolá

Peneiro histórias

Tentando me achar


Peneiro daqui 

Peneiro acolá

Peneiro amores

Que não vão rolar


Peneiro daqui

Peneiro acolá

Peneiro temores

Que não vão passar


Peneiro areias

Pessoas, sentimentos

Todo o tempo, todo o espaço

Movimentos, um processo salutar


Peneiro expressões

Essências, conhecimentos

Toda a ideia, toda o opaco

Experimentos, uma intermitência exemplar


Peneiro todo dia, pra tentar separar

Separar a impureza, que insiste em ficar


Peneiro todo dia, pra tentar esquecer

Esquecer a solidão, que insiste em sofrer


9. Pratos


Estou quebrando pratos

Pratos de muitas eras

Estou quebrando fatos

Fatos de muitas feras


Estou quebrando pratos

Pratos de muitos insanos

Estou quebrando gratos

Gratos de muitos danos


Eu quebrando pratos

Pratos do inconsciente

Estou quebrando autos

Autos de muita gente


Estou quebrando pratos

Pratos da inconsequência

Estou quebrando chatos

Chatos de muita ausência


Eu preciso quebrar esses pratos

Esmigalhá-los nas minhas mãos

Esmigalhá-los até se tornarem pó

Só assim conseguirei ter um pouco de paz


Eu preciso quebrar esses pratos

Não me importo que seja uma tarefa contínua

Eu preciso urgentemente quebrar esses pratos

Se eu não quebrar esses pratos eles me quebrarão sem dó


Estou quebrando pratos

Não se preocupe se eu não quebrar alguns pratos agora

Eu vou quebrar esses pratos na hora certa

Há muitos pratos a serem quebrados no mundo


10. Versos Reparadores


Reparem

Não calem

Exalem

Reparem


Reparem

Não falhem

Espalhem

Reparem


Reparem versos! Reparem!


Esses versos são reparadores

Reparadores de todas as situações desagradáveis

Reparadores de todas as atitudes que causaram algum dano

Reparadores de muitas feridas que ainda não cicatrizaram


Esses versos são reparadores

Reparadores de todas as histórias negligenciadas ao longo da história da humanidade

Reparadores de todo o sofrimento provocado pela ação humana

Reparadores de toda a prepotência humana de atingir o poder a custa da vida dos seres humanos, animais e de toda a natureza


Esses versos são reparadores

Mas também são versos transcendentes

São versos que ultrapassam as coisas materiais e banais

São versos que ligam um passado sofrido, um presente questionador e um futuro de possibilidades melhores


Reparar é mais que restaurar

É possibilitar um novo recomeço

Um recomeço sem amarras


Reparar é uma forma de respeitar

O respeito é sempre bem-vindo

É uma condição importante da vida


Reparem versos, reparem cada vez mais

Reparar é um ato de amor

Um amor que não se limita


Reparem versos, eu peço, por favor, reparem

Somente reparando o ser humano vai aprender a importância desse ato

Um ato essencial para a vida na Terra


Reparem

Não calem

Exalem

Reparem


Reparem

Não falhem

Espalhem

Reparem

Reparem versos! Reparem!


11. Carta-relato


Oi, tudo bem?

Essa carta-relato é para você

Você achou que eu tinha te esquecido?


Eu espero que um dia você possa ter a alegria

A alegria de poder ser quem você realmente é


Eu espero quem um dia você deixe essa vida de mentiras

De mentiras que te machucam e te impedem de conhecer seu verdadeiro eu


Quando eu me descobri, era tudo hipocrisia

Achava que o mundo era vida que eu levava

Mas naquela queda eu percebi, sobretudo eu já sentia

Que o castelo de areia já estava desabando


O primeiro andar desabou aos 16

Cadê todo suporte? Tô no fim da adolescência

Mudança de cidade, mudança de comportamento

Comecei a faculdade, imagina o tormento


O segundo andar desabou aos 20

Como suportar a sociedade? Tô só a revolta

Mudança de mentalidade, uma nova consciência

Tive uma epifania, aumentou minha confusão


O terceiro andar desabou aos 22

Como encarar a ociosidade? Tô me sentindo muito vazio

Mudança de personalidade, o surgimento do pessimismo

Me afastei de tudo, enxerguei muita coisa


O quarto andar pode desabar aos 25 ou 26

Como aguentar essa falsidade? Tô cada diz mais cansado

Mudança de afinidade, a decepção com os seres humanos

Busquei alteridade, encontrei futilidade


Enfim, existem muitos andares para desabar


Essa carta-relato foi para você

Espero que você tenha apreciado

Estou esperando a sua resposta em forma de carta-relato


12. Instantâneo


Não gostei

Passei pro próximo

Me irritei

Bloqueei sem dó


Não gostei

Faltou a beleza

Me decepcionei

Era um perfil falso


Me desapeguei

Tenho muitas opções

Já fui ignorado

Quebrei a cara e continuei


Me apaixonei

Era tudo cilada

Desviei do golpe

Percebi a enganação


Hoje tudo é instantâneo

Se começou vai terminar

O mundo todo em simultâneo

Na ansiedade sem melhorar


Hoje tudo é instantâneo

Se não agradou vai descartar

O povo todo é conterrâneo

De um consumismo sem cessar


Instantâneo

Simultâneo

Conterrâneo


Instantâneo

Simultâneo

Conterrâneo


Instantâneo


13. Tenho tempos para mim


O tempo para mim é estranho

As vezes não sinto seu efeito

O tempo para mim é um ganho

Numa vida que só tem mais defeito


O tempo para mim passa devagar

Sinto a necessidade da rapidez

O tempo para mim passa depressa

Desejo a existência da tepidez


Tenho tempos para mim

Mas muitos não têm esses tempos

Os meus tempos fazem assim

Vão criando meus intentos


Tenho tempos para mim

Mas muitos não ouvem esses tempos

Os meus tempos mudam sim

Vão trazendo meus inventos


Tenho tempos para mim

Mas muitos não expressam esses tempos

Os meus tempos traduzem enfim

Vão melhorando meus talentos


Tenho tempos para mim

Mas muitos não questionam esses tempos

Os meus tempos pedem em mim

Vão mudando meus sustentos


Tenho tempos para mim


14. Cansei


Quem deveria me apoiar não me apoiou

Quem deveria me negar não me negou

Quem deveria me ajudou não me ajudou

Quem deveria me evitar não me evitou


Quem deveria me abraçar não me abraçou

Quem deveria me criticar não me criticou

Quem deveria me motivar não me motivou

Quem deveria me excluir não me excluiu


Cansei dessa falta empatia

Bela máscara da hipocrisia

Indiferente a tudo que eu sofria

A tranquilidade que eu queria


Cansei dessa falsa alteridade

Bom pretexto pra maldade

Persistente em toda a hostilidade

Eu queria mais sinceridade


Cansei, vivo minha vida sem ligar para essa falsidade que a cada dia cresce mais

Vou vivendo minha vida de acordo com minhas convicções pessoais

Tenho a impressão que os resultados dessas ações serão letais

Não me sustento em vaidades humanas que são banais


Cansei, se o mundo quiser ele pode se lascar 

Não vou ficar evitando mais um outro atacar

Tenho muita noção que tentei sempre melhorar

Não me apego a humanidade que insiste em piorar


Cansei


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.

Todos os direitos reservados.





Pra fora - As revoltas de Felipe Prasino (2022). Obs:. 2° livro de Felipe Prasino.

Cor: Vermelho

Símbolo matemático: Menos

Temas: Revolta, alienação, exploração, conivência, indignação, incômodo, machismo, intenção, violência, transgressão, comprometimento, falsidade, vazio existencial, questionamento

Data aproximada de escrita: início de 2021 a fim de 2021


1. Conivente sem memória


Se não me importa o que tu sentes

Eu estou sendo conivente

Se não me incomoda o que piora

Eu vou indo sem memória


Viver, e não transformar

É compactuar

É perpetuar

O sofrimento existente


Saber, e não questionar

É trapacear

É menosprezar

O trabalho da mente


Um convivente sem memória

Apoia todo erro da história


Um conivente sem memória

Não hesita em apoiar a escória


Se não me importa o que tu sentes

Eu estou sendo conivente

Se não me incomoda o que piora

Eu vou indo sem memória


2. Chega


Chega

Eu necessito te contar

Chega

Eu necessito desabafar


Chega

Eu necessito te mostrar

Chega

Eu necessito acordar


Chega, porque...


Chega de fingir

Que não tô vendo

O que está me acontecendo?

Amanhã já não me lembro

Não importa o que eu fiz


Chega de mentir

Que não tá morrendo

O que está te aborrecendo?

Hoje já fiquei sabendo

Me aflige o que tu tens


Chega

Vou sentir

Todo aquele momento

Que eu tive que partir


Chega

Vou viver

Toda aquela existência

Que eu tive que ceder


Chega

Vou sorrir

Toda felicidade

Que insiste em abrir


Chega

Vou querer

Toda humanidade

Que persiste em meu ser


Chega de fingir

Que não tô vendo

O que está me acontecendo?

Amanhã já não me lembro

Não importa o que eu fiz


Chega de mentir

Que não tá morrendo

O que está te aborrecendo?

Hoje já fiquei sabendo

Me aflige o que tu tens


3. Meu incômodo


Meu incômodo só piora

Fecho a rede social na mesma hora

Meu incômodo só melhora

Quando esqueço aquela história


Meu incômodo só sente

Toda mentira existente

A falsidade envolvente

O vazio persistente


Meu incômodo quer mostrar

A necessidade de agradar

A vontade de enquadrar

Uma existência singular


Meu incômodo quer crer

A alteridade para o ser

A possibilidade para viver

Uma liberdade sem sofrer


Meu incômodo não é cômodo

Que se acomoda em um lugar


4. Santa


Morreu

Era uma santa

Mas, talvez, não foi tanta

A vontade de santificá-la


Viveu

Era uma santa

Mas, por certo, não foi tanta

A vontade de respeitá-la


Sofreu

Era uma santa

Mas, contudo, não foi tanta

A vontade de poupá-la


Adoeceu

Era uma santa

Mas, porém, não foi tanta

A vontade de curá-la


Santa porquê?

Por que morreu?

Por que viveu?


Por que sofreu?

Por que adoeceu?

Por que me doeu?


Será que toda santa

Quer o título de santa?

Será que toda santa

Quis a vida de santa?


Ser santa dói

Ser santa destrói


A santificação oculta algo

A santificação perpetua algo


Morreu

Era uma santa

Mas, talvez, a santa

Não quisesse ser santa


5. Intenção


Coitado, foi sem intenção

Roubou meu emprego

Mas foi sem intenção


Coitada, foi sem intenção

Roubou meu sossego

Mas foi sem intenção


Coitado, foi sem intenção

Trouxe minha tristeza

Mas foi sem intenção


Coitada, foi sem intenção

Trouxe minha dureza

Mas foi sem intenção


A intenção é sorrateira

Vai comendo pelas beiradas

A intenção é bem treteira

Vai enganando toda a cambada


A intenção é inconsciente

Vai aflorando pela sociedade

A intenção é existente

Vai carregando toda a banalidade


Coitado, foi sem intenção

Roubei esses versos

Mas foi com muita intenção



6. Pra fora


O dia está chegando

Eu vou botar pra fora

Estou indignado

Com o mundo que piora


O dia está chegando

Eu vou botar pra fora

Estou horrorizado

Com o mundo que explora


Pra fora

Sem demora

Qualquer hora

Vai embora


Pra fora

Não chora

Vai agora

Sem melhora


Pra fora

Piora

Pra fora

Explora


Pra fora

Embora

Pra fora

Sem demora


O dia está chegando

Eu vou botar pra fora

Estou indignado

Com a calma que implora


O dia está chegando

Eu vou botar pra fora

Estou horrorizado

Com o medo que aflora


Pra fora

Sem demora

Qualquer hora

Vai embora


Pra fora

Não chora

Vai agora

Sem melhora


Pra fora

Implora

Pra fora

Aflora


Pra fora

Embora

Pra fora

Sem demora



7. Eu não quero


Duas pessoas de sexo desconhecido

Foram vistos saindo de um recinto particular

O que foram fazer naquele lugar?


Toda transgressão

É também uma precaução

Mostra todo um grupão

Que vive em opressão


Toda resistência

É também sobrevivência

Mostra toda uma aparência

Que vive em conveniência


Eu não quero ser fácil

Eu não quero ser vulgar

Eu não quero ser grácil

Eu não quero ser altar


Eu não quero ser usado

Eu não quero ser horror

Eu não quero ser rotulado

Eu não quero ser louvor


Duas pessoas de sexo desconhecido

Foram vistos saindo de um recinto particular

O que foram fazer naquele lugar?


8. Comprometido


Não importa o que eu faça

Tudo fica sem sentido

Cada crítica é uma ameaça

Estou cada vez mais comprometido


Comprometido com minhas falas

Comprometido com meus pensamentos

Comprometido com minhas escalas

Comprometido com meu sofrimento


Comprometido com minhas escolhas

Comprometido com minhas amizades

Comprometido com minhas folhas

Comprometido com minhas rivalidades


Sim, comprometido

Sim, comprometido

Cada passo é um convite

Pra ficar mais comedido


Sim, comprometido

Sim, comprometido

Cada passo é uma forma

Pra ficar mais ressentido

 

9. Eu tô sabendo, eu tô vendo


Não adianta você bancar o legal

Eu tô sabendo

Não adianta você se achar o maioral

Eu tô vendo


Não adianta você me ignorar

Eu tô sabendo

Não adianta você disfarçar

Eu tô vendo


Eu tô sabendo, eu tô vendo

Essa sua personagem

Tá usando uma imagem

Que não corresponde a realidade


Eu tô sabendo, eu tô vendo

Essa sua pilantragem

Tá montando uma colagem

Que não é sua personalidade 


Sabendo e vendo

Esperando a oportunidade

De contar pra sociedade

Revelando tua improbidade

Mostrando quem você é na verdade


Sabendo e vendo

Almejando a possibilidade

De você viver com humidade

Respeitando sua própria dignidade

Dispensando toda essa falsidade


Eu tô sabendo, eu tô vendo


10. Ele ali


Leio

Escrevo

Sinto

Mas ele continua ali


Vejo

Estudo

Crio

Mas ele persiste ali


Penso

Viajo

Trabalho

Mas ele permanece ali


Durmo

Acordo

Vivo

Mas ele está ali


Ele é oco?

Bem opaco?

Talvez redondo

Talvez quadrado


Ele é franco?

Bem ousado?

Talvez preso

Talvez exato


Findo estes versos

Mas olha ele ali


11. Passaram


Passaram

Talvez me amaram

Talvez me adoraram

Mas eu sei que passaram 


Passaram

Talvez me odiaram

Talvez me criticaram

Mas eu sei que passaram


Passaram

Talvez me magoaram

Talvez me incomodaram

Mas eu sei que passaram


Passaram

Talvez me evitaram

Talvez me ignoraram

Mas eu sei que passaram


O problema não é passar

O problema é passar sem marcar

O problema é passar por passar

O problema é não respeitar


O problema é sobre esquecer

O problema é viver por viver

O problema é viver sem prever

O problema é não compreender


Passaram

Talvez me perdoaram

Talvez me libertaram

Mas eu sei que não me levaram


12. Artista, Arteiro


Artista

Arteiro

Inconformista

Rebusqueiro


Artista

Arteiro

Detalhista

Mensageiro


Arte

Dar-te

Amar-te

Pensar-te 


Arte

Questionar-te

Expressar-te

Incomodar-te


Arte

Revelar-te

Imaginar-te

Conquistar-te


Arte

Odiar-te

Espelhar-te

Contestar-te


Artista

Manifesta-te em tua arte

Pois, porém, o mundo insano

Afasta-te de teu baluarte


Arteiro

Transcenda-te em tua arte

Pois, contudo, o ser cotidiano

Limita-te em teu estandarte


Artista

Arteiro

Inconformista

Rebusqueiro


Artista

Arteiro

Detalhista

Mensageiro


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.

Todos os direitos reservados.

Ser Assim - As identidades de Felipe Prasino (2021). Obs:. 1° livro de Felipe Prasino.

Cor: Verde

Símbolo matemático: Mais

Temas: Identidade, liberdade, existência, instrospecção, escolhas, ausências, perdas, efemeridade, permanência, perspicácia, autorespeito, dúvidas, término, estigmas, perpetuação, preocupação, empoderamento, adversidade, resistência

Data aproximada de escrita: início de 2020 a final de 2021


Um livro sobre as existências e resistências humanas


1. Ser Assim


Um poema sobre a liberdade pessoal


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Cansei de

Ser usado

Maltratado, humilhado

Renegado, por nascer assim


Pensei que o

Novo amanhecer

Fosse capaz de fazer

Você pensar enfim


Por que não volta o seu olhar?

Será meu fim?


Por que não volta o seu olhar?

Será meu fim?


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Criei a nova forma

Sobre o mundo, que absurdo

Bem no fundo

Você disse sim


Larguei

Todo aquele pensamento

Parecia mais tormento

Me levar ao fim


Por que não volta o seu olhar?

Será meu fim?


Por que não volta o seu olhar?

Será meu fim?


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Porque?

Recusa olhar

Quer evitar

Que eu seja assim


Sim

Eu vou mudar

Vou me expressar

Além do fim


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


Eu

Dono de mim

Não abro mão

De ser assim


2. Soturno


Um poema sobre a introspecção pessoal


Eu me distraio desse mundo

Louco, insano, fundo

Eu me conecto com o soturno

Pensativo, calmo

Sempre taciturno


Na solidão eu não me iludo

Quieto, enxergo tudo

Eu me conservo no refúgio

Cansativo, salvo

Quase que sucumbo


Mas sei

Que não é hábil

Me sentir assim


Lembrei

Quando deixei

Que me enganasse enfim


Pisei

Qual sentimento

Que não tinha fim


Pensei

Pensei

Pensei


Eu me distraio desse mundo

Louco, insano, fundo

Eu me conecto com o soturno

Pensativo, calmo

Sempre taciturno


Na solidão eu não me iludo

Quieto, enxergo tudo

Eu me conservo no refúgio

Cansativo, salvo

Quase que sucumbo


Mas sei

Que não é fácil

Me encontrar assim


Achei

Aquela força

Neste ínterim


Livrei

Tal persistência

Que dizia sim


Mudei

Mudei

Mudei


Eu me distraio desse mundo

Louco, insano, fundo

Eu me conecto com o soturno

Pensativo, calmo

Sempre taciturno


Na solidão eu não me iludo

Quieto, enxergo tudo

Eu me conservo no refúgio

Cansativo, salvo

Quase que sucumbo


3. Sigo


Um poema sobre as escolhas pessoais


Eu sigo meu caminho

Procurando minha verdade

Sendo a comodidade

Um motivo pra ficar


Eu me afasto da ilusão

Procurando a novidade

Sendo a possibilidade

De um novo transformar


Nesta busca incessante

Tão difícil, tão marcante

É preciso tomar fôlego

Eu preciso me afastar


Aquilo que não acrescenta

Só atrapalha, só atormenta

Eu vivo numa eterna luta

Sobre o que deixar ou levar


Ainda tento entender

Qual a necessidade?

Da mentira, da vaidade

Que provoca frustração


Mas sei que é difícil

Existir ou resistir

Nesse mundo, nessa vida

Onde inexiste perfeição


Porém, é preciso persistir

E mostrar no meu agir

O que é limite, o que é respeito

Respeitando minha ação


É preciso conviver

Respeitando esse cuidado

Tão importante, tão lembrado

Que merece minha atenção


4. Verde Sede


Um poema sobre as ausências e as perdas.


Verde

Tu que vistes tudo

Tudo o que tu

Verde


Sede

Tu que sedes tudo

Tudo o que tu

Sede


Verde

Tu que aguentas tudo

Tu que aguentas

Sede


Sede

Tu que almejas tudo

Tu que almejas

Verde


Verde

Tu que escondes tudo

Tu que escondes

Sede


Sede

Tu que avistas longe

Tu que avistas

Verde


5. Tive


Um poema sobre os efêmeros e as permanências.


Tive paz e não me conhecia

Me conheci, não tive paz

Mas, talvez, eu já sabia

Que a consciência nunca traz

 

Tive medo e não me pertencia

Me pertenci, eu fui audaz

Mas, decerto, eu não sentia

Que a essência sempre faz

 

Tive culpa e não me resolvia

Me resolvi, não fui fugaz

Mas, contudo, eu já temia

Que o perdão nunca esvai

 

Tive alegria e não me merecia

Me mereci, eu fui capaz

Mas, porém, eu não diria

Que a tristeza sempre sai

 

Tive dúvida e não me respondia

Me respondi, não fui tenaz

Mas, destarte, eu já intuía

Que a certeza nunca atrai

 

Tive ódio e não me ouvia

Me ouvi, eu fui loquaz

Mas, aliás, eu não entendia

Que a causa sempre distrai

 

Tive amor e não me servia

Me servi, não fui mordaz

Mas, entretanto, eu já defendia

Que o afeto nunca subtrai

 

Tive tudo e não me desprendia

Me desprendi, não fui voraz

Mas, portanto, eu não sabia

Que a criação sempre vai


6. Você acha (Eu sei)


Um poema sobre a perspicácia e o respeito próprio.

 

Você acha

Que eu não vejo

Toda a sua impaciência

Demonstrando sua imprudência

Evitando me encarar

 

Você acha

Que eu não sirvo

Não me encaixo no seu mundo

Não percebe este absurdo

Desejando me julgar

 

Você acha

Que eu não percebo

Toda esta tua ausência

Mas parece inconsequência

Procurando me afastar

 

Você acha

Que eu não sinto

O maldito sofrimento

Não percebe tal lamento

Empatando me ajudar

 

Eu sei, eu sei de tudo

Eu sei que por você eu não mudo

Eu sei da minha essência

Não te entrego minha existência

Não te entrego não


7. Como posso?

 

Um poema sobre os questionamentos humanos

 

Como posso gostar de algo que me faz mal?

Como posso achar normal toda essa perversidade?

Como posso suportar algo tão banal?

Como posso pensar isto dentro da humanidade?

 

Como posso gostar de uma pessoa que não me merece?

Como posso me acostumar com toda essa passividade?

Como posso mudar tudo o que acontece?

Como posso alertar toda a coletividade?

 

Como posso?

Como posso?

Como posso?

Como posso?

 

Perversidade, culpa, impotência

Sociedade, julga, existência

Modernidade, ultra, sobrevivência

Autoridade, simula, prepotência

 

Liberdade, luta, vivência

Prosperidade, funda, benevolência

Tranquilidade, almeja, essência

Capacidade, muda, resiliência


8. Fim

 

Um poema sobre o término de algo

 

Acabou

Não preciso mais

Já desandou

Durou demais

 

Perpetuou

Não foi atrás

Já desabou

Ferrou demais

 

O fim

Enfim

Talvez

Não seja assim

 

O fim

No fim

Quem sabe

Não traz um sim?

 

O fim

Pra mim

Floresce

Não importa o delfim

 

O fim

Por fim

Liberta

Não espera por mim



9. Eles nunca foram


Um poema sobre um estigma e sua perpetuação


Eles nunca foram

Objeto de defeito

Eles nunca foram

Objeto de desejo


Eles nunca foram

O medo da sociedade

Eles nunca foram

O risco da virilidade


Eles nunca foram

A questão não resolvida

Eles nunca foram

A paixão não esquecida


Eles nunca foram

Aquilo que puderam ser

Eles nunca foram

O medo de poder viver


Eles nunca foram

Eles


10. Neste alvoroço febril


Um poema sobre uma situação preocupante


O que é que vai voltar?

O que é que vai mudar?

O que vai afundar?

Neste alvoroço febril

Neste alvoroço febril


Quem é que vai lembrar?

Quem vai criticar?

Quem é que vai lutar?

Neste alvoroço febril

Neste alvoroço febril


Quem é que vai morrer?

Quem vai se esconder?

Quem vai ascender?

Neste alvoroço febril

Neste alvoroço febril


Quem é que vai sorrir?

Quem é que vai sair?

Quem vai resistir?

Neste alvoroço febril

Neste alvoroço febril


Febril

Febril


11. Meu tom de pele

 

Um poema sobre a valorização de um tom de pele


Meu tom de pele

Não me interfere

Quer que eu te entregue

O meu pensar?

 

Meu tom de pele

Não me impede

Quer que eu espere

Seu aprovar?

 

Meu tom de pele

Sei que percebe

Quer que eu encerre

Pra te acalmar?

 

Meu tom de pele

Sei que te impede

Quer que eu renegue?

Pra te agradar?

 

Meu tom de pele

É um tom entre os demais

Mas é um tom que carrega sais

Sais de lágrimas provocadas por outros tons

 

Tons que excluem outros tons

Tons que machucam outros tons

Tons que não enxergam outros tons

Tons que precisam ajudar outros tons

 

Seus tons de pele

Não se exasperem

Que sempre podem

Modificar-se

 

Meu tom de pele


12. Tentativa

 

Um poema sobre as adversidades humanas

 

Sério

Tentativa de fazer um

Mistério

Tentativa de ser um

Etéreo

 

Tentativa de que?

Tudo isso pra me ver

Pra tentar me convencer

 

Sinto

Cada vez que me dói

Eu existo

Cada vez que destrói

Eu resisto

 

Cada vez que o que?

Tudo isso pra te ver

Pra tentar te convencer

 

Sério, mistério, etéreo...

Sinto, existo, resisto...

 

Tudo isso pra ouvir

Pra tentar não sucumbir


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terça-feira, 14 de março de 2023

Começo

Oi.

Espero que esse blog seja o começo de muitas possibilidades para expressar os meus processos existenciais.

Sei que a vida nunca é como imaginamos, mas isso não pode ser uma limitação para sonharmos e criarmos coisas.

Acredito que a arte, no meu caso a literatura, permite a expressão de muitos sentimentos humanos, inclusive aqueles ignorados.

Sinto que estou me encontrando depois de um longo tempo de lutas comigo mesmo, apesar de saber a importância dessas lutas.