quinta-feira, 18 de maio de 2023

Calcanhar - As lutas de Felipe Prasino (2023). Obs:. 6° livro de Felipe Prasino.

Cor: Roxo

Símbolo matemático: Infinito

Temas: Sexualidade, questões corporais, autoestima, hipocrisia, solidão, desejos, sexualização, monotomia, ignorância e despertar espiritual

Data aproximada de escrita: abril a maio de 2023


1. Corpos


Corpos desejados

Não valorizados

Marginalizados

Pelo desprezo de outrem


Corpos variados

Não padronizados

Categorizados

Pelo vezo de alguém


Corpos que almejam

Serem bem tratados

Não coisificados

Pelo vezo de outrem


Corpos que pleiteiam

Serem bem amados

Não desrespeitados

Pelo desprezo de outrem


Corpos

Quebrem todos os preconceitos

Das discriminações e insinuações

Libertem todos os sujeitos

Das violações e opressões


Corpos

Carreguem toda a diversidade

Das cores e formatos

Anulem todos os efeitos

Das dores e boatos


Corpos


2. Chamariz/Chafariz


O meu corpo é um chamariz

Que emana alguns defeitos

A minha mente é um chafariz

Que enfrenta alguns desejos


O meu corpo é um chamariz

Apesar de não querer sofrer

A minha mente é um chafariz

Apesar de não querer saber


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


Não quero ser só um corpo

Não quero ser só minha mente

Quero que entendam minhas lutas

E tudo aquilo que eu tente


Não quero ser só um jogo

Não quero ser só inteligente

Quero que entendam minhas falas

E tudo aquilo que eu invente


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


O meu corpo é um instrumento

Um instrumento da minha expressão

O meu corpo é um portal

Um portal da minha imaginação


O meu corpo tem que ser respeitado

Tem que ser amado, considerado

O meu corpo tem quer ouvido

Tem que ser sentido, vivido


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


Respeite meu corpo!

Respeite meu corpo!

Me respeite!

Me respeite!


3. Calo


Você sabe que meu calo aperta

E faz tudo pra me provocar

Você sabe que eu penso à beça

E faz tudo pra me ver pirar


Você sabe onde meu calo aperta

E faz tudo pra me abalar

Você sabe que eu lembro da peça

E faz tudo pra me ver chorar


Calo


Você sabe que meu calo

É o lugar onde eu falo

Quem consegue irritá-lo

Não deverá evitá-lo


Você sabe que meu calo

É a vida onde eu estalo

Quem consegue pisá-lo

Não poderá estancá-lo


Calo


Desde que me entendo por gente

Fizeram questão de pisar no meu calo

Só que agora, daqui pra frente

Responderei esse ralo


Desde que me entendo em sociedade

Fizeram questão de mostrar nosso calo

Só que agora, contra toda maldade

Provocarei muito abalo


Calo


Você nunca se importaram com o outro

Viviam de falsidade e afins

Sempre puderam não pisar no nosso calo

Mas gostavam de ser ruins


Vocês nunca se perguntaram a razão

Adoravam a maldade e chacotas

Sempre puderam respeitar o que eu falo

Mas gostavam de ser idiotas 


Calo


Calo

Calo

Calo

Calo


4. Malabares


Minha alma deseja transcendência

Meu corpo deseja futilidade

Meu cérebro deseja razão

E vou vivendo nesses malabares


Minha vida deseja equilíbrio

Meu trabalho deseja atividade

Minha arte deseja inspiração

E vou vivendo nesses malabares


Malabares


Tentar me equilibrar

Me libertar, me motivar

Me apreciar


Tentar me inovar

Me respeitar, me nortear

Me conservar


Malabares


Malabares

Onde testo meu equílibrio

Confirmo meu raciocínio

Sobre tudo que me aflige


Malabares

Onde escrevo minhas teorias

Testo minhas poesias

Sobre tudo que me atinge


Malabares

Onde enfrento meus devaneios

Questiono meus passeios

Sobre tudo que me desperta


Malabares

Onde ensaio meus projetos

Altero meus trajetos

Sobre tudo que me liberta


Malabares


Malabares de todas as lutas

Malabares de todos os pesares


Malabares de todas as lidas

Malabares de todos os olhares


Malabares


Malabares

Malabares

Malabares


5. Colapso


Acabou a beleza

Acabou o desejo

Acabou o amor

Quem já vazou?


Acabou o dinheiro

Acabou o status

Acabou a fama

Quem te salvou?


Nós fomos criados nas mentiras

As verdades estão vindo à tona

Enquanto focarmos apenas no corpo

As vidas estarão sempre tontas


Nós fomos criados para competir

As competições estão piorando

Enquanto pensarmos apenas no dinheiro

As vidas ficarão em segundo plano


Colapso

De toda sociedade

Baseada na mentira

Exploração, violência

Na sexualização


Colapso

De toda humanidade

Baseada na esperteza

Traição, ganância

Na espoliação


Colapso

De toda existência

Baseada na conivência

Mesmice, unidade

Na alienação


Colapso

De toda sexualidade

Baseada no controle

Recalque, hipocrisia

Na repressão


Acabou a mentira

Acabou a esperteza

Acabou o terror

Quem colapsou?


Acabou a conivência

Acabou o controle

Acabou o torpor

Quem colapsou?


6. Perigoso e fatal


Você achou que eu não sabia

Seu falso amor era letal

Até pensei que me entendia

Depois vi que é teatral


Você achou que eu não sofria

Seu falso papo era imoral

Até pensei que te envolvia

Depois vi que é desleal


Você achou que eu não via

Seu falso sonho era anormal

Até pensei que te movia

Depois vi que é parcial


Você achou que eu não lia

Seu falso riso era sinal

Até pensei que me supria

Depois vi que é casual


Perigoso e fatal

Capaz de ser mais legal

Capaz de ver todo o mal

Capaz de livrar outro igual


Perigoso e fatal

Capaz de ser racional

Capaz de ter outro astral

Capaz de ver mais geral


Perigoso e fatal

Não quer mais outro brutal 

Não quer mais ser desleal

Não quer mais ter ventaval 


Perigoso e fatal

Não quer mais ser visceral

Não quer ver outro banal

Não quer mais ter lamaçal


Perigoso é quem decide sobre o próprio corpo, sobre o autopertencimento

Fatal é quem mostra seu valor, sobre o automelhoramento


Perigoso e fatal


7. Calcanhar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu desejei

Tudo que eu vou desejar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu pensei

Tudo que eu vou pensar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu amei

Tudo que eu vou amar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu criei

Tudo que eu vou criar


Sempre atacaram meu calcanhar

E isso marcou meu modo de crer

Senti que precisava me reservar

Caso contrário iria perecer


Sempre via na outra aparência

Aquilo que não encontrava em mim

Compreendi que a carência

Nunca impedia a solidão no fim


Sempre esperava a alteração

Onde eu teria uma nova vida

Colhi com minha própria ação

Toda força que estava escondida


Sempre escolhia o que falar

Temendo as malvadas opiniões

Resolvi não acompanhar

Todas as tristes repressões


Calcanhar

Minha chance de mudar

Minha vida é perguntar

Não me canso ao lembrar

Calcanhar


Calcanhar

Minha garra pra vencer

Minha sina é defender

Não me deixo esquecer

Calcanhar


Calcanhar

Minha busca por valor

Minha arte é compor

Não me moldo ao horror

Calcanhar


Calcanhar

Minha fala é construir

Minha sede é exprimir

Não me deixo ressentir


Calcanhar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu derrubei

Tudo que eu vou derrubar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu alcançei

Tudo que vou alcançar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu provoquei

Tudo que eu vou provocar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu enfrentei

Tudo que eu vou enfrentar


8. Alegre


Alegre

Alegre


Meu amor

Estou muito alegre

Correrei feito lebres

Nas virtudes que plantar


Meu amor

Estou muito alegre

Sondarei igual enquetes

Até a hora que terminar


Meu amor

Estou muito alegre

Jogarei igual raquetes

Até a vitória que surgir


Meu amor

Estou muito alegre

Pularei feito confetes

Nas bençãos que possuir


Alegre

Alegre


Meu amor

Eu sei que ser alegre

Nem sempre é legal

Muitas vezes é fatal

No mundo intolerante


Meu amor

Eu sei que ser alegre

Já veio de nascença

Marca toda existência

Daqueles muito alegres


Meu amor

Eu sei que ser alegre

É cuidar de outros alegres

Apesar das intempéries

De outros temporais


Meu amor

Eu sei que ser alegre

É lutar com outros alegres

Apesar das divergências

Em vários procederes


Meu amor

Estou muito alegre


Alegre

Alegre


9. Lutas


A luta é diária

A luta é contínua

Afasta, descansa

Mas não desanima


A luta é pesada

A luta é sofrida

Retoma, aclama

Mas não se irrita


A luta do pária

A luta da vida

Levanta, inspira

Mas não subestima


A luta da margem

A luta da lida

Convoca, declama

Mas não se intimida


Lutas

Lutas com fundo

Lutas e mundos

Pelas crias, que em segundos

Saem


Lutas

Lutas com nada 

Lutas e fachadas

Pelas sinas, que em escadas

Sobem


Lutas

Lutas por direitos

Lutas e respeitos

Pelas marcas, que em suspeitos

Caem


Lutas

Lutas por mudanças

Lutas e esperanças

Pelas crenças, que em memórias

Vivem


Lutas

Saem

Sobem

Caem 

Vivem


Lutas

Vivem

Caem

Sobem

Saem


10. Minhas formas


Eu sinto que eu sou a mesma coisa

Eu sinto que todos são a mesma coisa

Eu perdi a confiança na humanidade?

Eu perdi a esperança na humanidade?


Um mundo muito egoísta

Esquecendo a sinceridade

Ao invés de pensarem no outro

Se ocupam com a própria vaidade


A cópia da cópia é o que fazem

Tentando fingir ser o que não é

Esquecem de buscar a autenticidade

No próprio poder que é a sua fé


Olho pro lado e não vejo

Aquilo que eu sempre vi

Não sou mais do mesmo jeito

Estou mais longe, eu sei


Olho pra gente e não vejo

Aquilo que eu sempre curti

Não sou mais do mesmo feito

Estou bem chato, eu sei


Mais do mesmo

Atos previsíveis

Rotas desprezíveis

Forçando o viver


Mais do mesmo

Rancores conservados

Desejos represados

Marcando o querer


Mais do mesmo

Egoístas descarados

Humanos maltratados

Prolongando o sofrer


Mais do mesmo

Posses impossíveis

Rostos insensíveis

Disfarçando o romper


Eu sinto que tudo que eu falo é a mesma coisa

Eu sinto que tudo que vocês falam é a mesma coisa

Eu perdi toda a minha criatividade?

Eu perdi toda a minha sinceridade?


Serei eu mais do mesmo?

Serão vocês mais do mesmo?


Seremos nós mais do mesmo?


12. Sozinho


Eu sempre fui sozinho

Desde a tenra idade

Não imaginava que ser sozinho

Fosse influência da sobriedade


Eu sempre fui sozinho

Mesmo na mocidade

Eu pensava que ser sozinho

Fosse refúgio contra a maldade


Eu sempre estou sozinho

Mesmo na juventude

Eu penso que ser sozinho

É começo de plenitude


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na meia-idade

Eu penso que ser sozinho

Sempre trará sagacidade


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na velhice

Eu penso que ser sozinho

Sempre trará chatice


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na eternidade

Eu penso que ser sozinho

É a forma de liberdade


Eu quero transformar a minha solidão

Transformar a solidão em solitude

Já usei os recursos em vão

Sei que a mudança vem da atitude


Atitude de entender que viverei sozinho

Posso não estar preso a ninguém

A solidão é um difícil pergaminho

Melhor decifrar que ser refém


Eu quero orientar a minha decisão

Orientar a decisão em ato

Já avisei que tenho expressão

Apesar de todo tipo de boato


Boato que não me traz benefício

Posso questionar a injustiça

A coragem é um difícil ofício

Melhor inspirar que ter preguiça


Sozinho, sozinho

Sentindo sempre o espinho

Sentido a crítica do vizinho

Melhor que preso no ninho


Sozinho, sozinho

Sentindo sempre o redemoinho

Sentido a paz em desalinho

Bem consciente do caminho


Sozinho


13. Vertigem no despertar


Desperto

Verto

Cresço

Excedo


Desperto

Verto

Percebo

Transcedo


A vertigem no despertar

É uma lógica consequência

Quem lembrou que aprimorar

É uma forma de previdência?


A vertigem no despertar

É uma mudança no existir

Quem lembrou que acreditar

É uma maneira de construir?


A vertigem no despertar

É uma conta da vida que chegou

Quem lembrou que relembrar

É uma via que já passou?


A vertigem no despertar

É uma luta em sua essência

Quem lembrou que contestar

É uma meio de sobrevivência?


Desperto

Verto

Almejo

Recebo


Desperto

Verto

Expresso

Conecto


Vertigem no despertar

Despertar na vertigem

A ordem pode mudar

Mas conserva toda a origem


Vertigem no despertar

Despertar na vertigem

Humanos podem mudar

A dor que mais os afligem


14. Santificou


Santificou

Só mudou de religião

Se salvou

Só mudou de restrição


Santificou

Não mudou a percepção

Se consertou

Não mudou a condenação


Santificou

Só mudou de exaltação

Se respaldou

Só mudou de suspeição


Santificou

Não mudou a recepção

Se limitou

Não mudou a conclusão


Santificou

Pensando que tinha apagado os seus erros anteriores

Santificou

Pensando que isso lhe dava o direito de criticar quem cometeu os mesmos erros


Santificou

Pensando que era exemplo para muitas outras pessoas

Santificou

Pensando que era uma forma de encobrir as suas ações maldosas


Santificou

Pensando que poderia propagar dissabores e ir para um bom lugar

Santificou

Pensando que era um meio de validar os seus atos hipócritas


Santificou

Pensando que poderia enganar ao ser humano falho

Santificou

Pensando que poderia escapar da vista divina


Santificou

Só mudou de religião

Se salvou

Só mudou de restrição


Santificou

Não mudou a percepção

Se consertou

Não mudou a condenação


Santificou

Só mudou de exaltação

Se respaldou

Só mudou de suspeição


Santificou

Não mudou a recepção

Se limitou

Não mudou a conclusão


Santificou


15. O preço das provações


Negro

Gay

Pobre

Vascaíno

Suburbano


Poeta

Brasileiro

Espírita

Socialista

Interiorano


Só isso, quer mais?


Triste

Revoltado

Criticado

Incomodado


Consciente

Magoado

Ignorado

Afastado


Sou isso, quer mais?


Acelerado

Desprezado

Lapidador

Perguntador


Introvertido

Provocado

Divagador

Observador


Sou tudo isso, quer mais?


O preço das provações

Eu vou lembrando todo dia

Parecem infinitas prestações

Que vou pagando minha ousadia


O preço das provações

Eu vou tentando entender

Parecem infinitas obrigações

Que vou sempre satisfazer


O preço das provações

O preço, enfim, o preço


O preço das provações

Eu conheço, enfim, eu conheço


16. Felipe Prasino (Amigo, cavalo, verde)


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Verde-liberdade

Vermelho-revolta

Azul-crise


Amarelo-reparação

Marrom-lembrança

Roxo-luta


Cores-possibilidades


Identidades

Explosões

Ruínas


Libertações

Afetos

Desejos


Interpretações


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


As posturas

As resistências

As desigualdades

As angústias


As tentativas

As histórias

As privações

As energias


As obras prasinianas

As multiplicidades

Felipe Prasino


As ideias prasinianas

As possibilidades

Felipe Prasino


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Amigo, cavalo, verde

Cavalo, verde, amigo

Poeta que não se decide

Se quer tudo ou nada


Cavalo, verde, amigo

Amigo, cavalo, verde

Poeta que não se decide

Se quer juntar ou espalhar


Felipe Prasino!


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.

Todos os direitos reservados.

Retrospecto - As recordações de Felipe Prasino (2023). Obs:. 5° livro de Felipe Prasino.

Cor: Marrom

Símbolo matemático: Igual

Temas: Memória, lembrete, infância, adolescência, escrita, leitura, lar, casas, livros, utensílios domésticos, trajetória, árvores, quintal, frutas, comidas, relações sociais, diferenças, saudades, escola, aulas, arte, religião, natureza, família, culinária, sensações

Data aproximada de escrita: março de 2023


1. Não te quero na minha vida


Não te quero, já te suportei bastante

Não te quero, já te ajudei bastante


Não te quero, já me fez sofrer bastante

Não te quero, já me fez errar bastante


Não te quero....


Não te quero na minha vida

Não esqueci que me fez muito mal

Por mais que eu possa ter uma recaída

Te afastar de mim foi fundamental


Não te quero na minha vida

Não esqueci todo o seu desprezo 

Por mais que eu possa ter uma retraída

Te situar no seu lugar foi bem coeso


Não quero te quero na minha vida

Não esqueci sua falta de respeito

Por mais que eu possa ter uma saída

Te lembrar seus intentos é o único jeito


Não quero você na minha vida

Não esqueci todos os seus ardis

Por mais que eu possa ter uma ferida

Te alertar foi o que eu sempre quiz


Talvez...


Talvez pode estar arrependido

Suponho já tenha até repensado

Penso em tudo o que tenho vivido

Procuro não ficar mais ressentido


Talvez pode estar transfigurado

Suponho já tenha até melhorado

Penso em tudo o que tenho rechaçado 

Procuro não ficar mais preocupado



Na retrospectiva da minha vida

Você foi um ponto do passado

Pode até ser mencionado

Mas não merece ser festejado


Na retrospectiva da minha vida

Você foi um erro a ser analisado

Pode até ser suscitado

Mas não merecer ser destacado


Não te quero na minha vida


2. Minhas paródias


(Nas minhas aulas de Artes

A professora sempre pedia uma paródia de uma música

E eu adorava fazer paródias

Talvez ali estava o começo da minha vontade de brincar com as palavras)


Qual o tema da paródia que eu vou fazer?

Como é possível rimar sem sofrer?


Qual a música da paródia que eu vou fazer?

Como é possível cantar sem sofrer?


Qual o sentido da paródia que eu vou fazer?

Como é possível criar sem sofrer?


Qual a nota da paródia que eu vou fazer?

Como é possível mudar sem sofrer?


Nas minhas paródias

Invento histórias

Talvez trajetórias

De outros viveres


Nas minhas paródias

Evoco memórias

Talvez transitórias

De outros saberes


Por meio das minhas paródias

Exercitei minha liberdade criativa

Apesar delas ainda serem gérmens

Foi com elas que fui construindo a minha vida


Por meio das minhas paródias

Demonstrei minhas várias emoções

Apesar delas ainda serem simples

Foi com elas que fui criando as minhas expressões


Obrigado minhas paródias, muito obrigado


3. Chinelos marrons


Aqueles chinelos marrons

Teve que decifrar outros tons

Teve que burilar alguns dons

Aqueles chinelos marrons


Aqueles chinelos marrons

Teve que escutar outros sons

Teve que guiar alguns bons

Aqueles chinelos marrons


Aqueles chinelos marrons viram muitas novidades

Viram casas construídas, viram comportamentos mudados


Aqueles chinelos marrons viram muitas histórias

Viram gerações se sucederem, viram calendários trocados


Aqueles chinelos marrons tiveram muitas lembranças

Lembraram fatos esquecidos, lembraram pessoas ignoradas


Aqueles chinelos marrons tiveram muitos amores

Amaram galhos da mesma árvore, amaram árvores do mesmo pomar


Aqueles chinelos marrons suportaram muitos dissabores

Suportaram a incompreensão, suportaram o sofrimento


Aqueles chinelos marrons suportaram muitas ramificações

Suportaram rupturas, suportaram despedidas


Mas, apesar de suportar muitas coisas

Aqueles chinelos marrons foram muito inspiradores

Inspiraram resiliência, inspiraram saudade


Aqueles chinelos marrons legaram coragem

Legaram tantas coisas boas que não podem ser resumidas em poucas palavras


Aos chinelos marrons, desejo toda a gratidão possível e impossível


4. Casa de adobo, fundação de pedra


Casa de adobo, fundação de pedra

A vida se expressa na mais simples união

Casa de adobo, fundação de pedra

A vida se rebela contra toda ingratidão


Casa de adobo, fundação de pedra

O mundo se eleva na mais pura emoção

Casa de adobo, fundação de pedra

O mundo se revela contra toda dispersão


Casa que foi feita pelas mãos de alguns pendores

Casa que foi feita pelas mãos de algumas flores 


Casa que foi eleita para o lar de alguns louvores

Casa que foi eleita para o lar de algumas dores


Casa que foi base para algumas gerações

Casa que foi base para algumas divisões


Casa que foi fase para um prosseguir maduro

Casa que foi fase para um refletir seguro


Casa, adobo, fundação, pedra

Pedra, fundação, adobo, casa


Casa, adobo, fundação, pedra

Pedra, fundação, adobo, casa


Não deixem a casa desabar!

Se a casa acabar acabam-se histórias, memórias

Acabam-se personagens e cenários

Acabam-se afetos e identidades


Não deixem a casa desabar!

Se a casa acabar tudo vai se perder

Não vai adiantar se comover depois

A decisão precisa ser direta e simples


Não deixem a casa desabar!


Casa de adobo, fundação de pedra

A vida se expressa na mais simples união

Casa de adobo, fundação de pedra

A vida se rebela contra toda ingratidão


Casa de adobo, fundação de pedra

O mundo se eleva na mais pura emoção

Casa de adobo, fundação de pedra

O mundo se revela contra dispersão


5. Livro de Português


De Português?

Sim, tenho certeza

Era o livro didático de Português


De Português?

Sim, tenho certeza

É o livro do primário que me fez


Hoje eu lembrei

Eu lendo aquele livro de Português

A série era a terceira do Fundamental

Pensando que o tempo não volta outra vez


Hoje eu lembrei

Eu lendo aquele livro de Português

A capa era azul claro

Pensando que a memória é um gosto da infância  


Hoje eu lembrei

Eu lendo aquele livro de Português

Na casa de adobo, fundação de pedra

Piso vermelhão bem encerado

Pensando quão agradável era aquela leitura no chão


Hoje eu lembrei

Eu lendo aquele livro de Português

Livro bem ilustrado, textos interessantes

Pensando quão agradável pode ser a leitura infantil


De Português

Sim, de Português

O livro que me fazia viajar nas histórias

Era o livro de Português


De português

Sim, de Português

O livro que me faz evocar minhas lembranças

É o livro de Português


6. Filtro de barro


O filtro de barro, com a água espalhada

Arruma o filtro, com a vela quebrada


Completa o filtro, com a água esperada

Repara na água, que sai bem filtrada


O filtro de barro, com portes diversos

Marrom e vermelho, nuances dispersos


Contempla o filtro, a linda estética

Peças e linhas, a forma sincrética


O filtro de barro pesava na espinha

O filtro de barro gostava da despensa

O filtro de barro ficava na cozinha

O filtro de barro estava na expensa


O filtro de barro, se abro agora

Recordo da minha essência

Talvez da minha existência


O filtro de barro, se tampo agora

Recordo dos meus cuidados

Talvez dos meus legados


O filtro de barro, se encho agora

Assumo os ritos das minhas memórias

Talvez de muitas histórias


O filtro de barro, se limpo agora

Repito os atos dos meus precedentes

Talvez dos meus subsequentes


O filtro de barro

O filtro de barro


O filtro de barro

A brasilidade

Na localidade

Do lar brasileiro


O filtro de barro

A criatividade

Na plasticidade

Da argila moldada


O filtro de barro


7. Retrospecto


Quando penso em mim

Sobre tudo que eu fiz

Vejo a vida lembrar outros inventos


Quando entro em mim

Sobre tudo que eu quis

Vejo a vida lembrar outros momentos


Quando olho em mim

Sobre tudo que eu fiz

Vejo a vida em um introspecto


Quando sinto em mim

Sobre tudo que eu quis

Vejo a vida em um retrospecto


Retrospecto

De tudo que eu perdi

De tudo que eu achei


Retrospecto

De tudo que eu parti

De tudo que eu ganhei


Retrospecto

De tudo que eu criei

De tudo que eu sofri


Retrospecto

De tudo que eu falei

De tudo que que eu vivi


A minha vida é uma eclética caminhada

Eu já fui assim, assado

Eu já coloquei tudo o que sentia para fora


A minha vida é um eclético aprendizado

Eu já fiz parte de um processo intermitente

Eu já desamarguei, ou, pelo menos, tentei


No futuro mostrarei meu calcanhar para todos

Mostrarei quantas nuances minhas forem necessárias

Viver é respeitar a eterna construção da existência humana


Retrospecto

Eu tudo que eu digo

Em tudo que eu serei


8. Meu pé de acerola


Meu pé de acerola

O termo sempre assola

Meu pé de acerola

O termo sempre isola


Meu pé de acerola

A paz nunca controla

Meu pé de acerola

A paz nunca amola


Meu de acerola era lindo

Bem verde e cuidado

Cheio de acerola vermelha


Meu pé de acerola era infindo

Bem grande e amado

Cheio de fruta parelha


Mas meu pé de acerola

Como tudo de bem nesse mundo

Descansou bem lá no fundo

Do chão do meu quintal


Mas meu pé de acerola

Como tudo que tem memória

Fez jus a sua triste história

Criou raízes no meu astral


Mas meu pé de acerola

Me rendeu umas lembranças

Do tempo que as esperanças

Não pereciam no total


Mas meu pé de acerola

Através dos meus versos

E também dos meus excessos

Transformou-se em imortal


Meu pé de acerola

Seu amigo se lembra

Meu pé de acerola

Seu amigo te acena


Meu pé de acerola

Você é um fato

Meu pé de acerola

Eu sou muito grato 


Meu pé de acerola


9. Torta de banana


Eu relembrei daquela torta de banana

Que eu comi em 2006

Eu relembrei de toda aquela varanda 

Que eu desci outra vez


Eu relembrei daquela torta de banana

Que eu senti em 2006

Eu relembrei de toda aquela ciranda

Que eu reuni outra vez


Eu relembrei

Da torta de banana

Eu relembrei

Daquela varanda


Eu relembrei

Da torta de banana

Eu relembrei

Daquela ciranda


Eu jamais vou esquecer

Eu quero a torta de banana

Que ficou na minha memória


Eu sempre vou entender

Eu quero a torta de banana

Que marcou minha trajetória


Daquela torta de banana

O sabor não lembro mais

A pressa da vida é insana

Só restam os fatos banais


Daquela torta de banana

Quem a fez eu lembro mais

A luta da vida é profana

Só restam os ritos locais


Eu relembrei

Não vou esquecer

Eu relembrei

Eu vou entender


Eu já cansei de te dizer

Eu quero a torta de banana

Que eu vivi em 2006


10. Momentos catequéticos


Eu gostava dos momentos catequéticos


Eu gostava de pintar

Mas minha pintura era feia

Eu gostava mais de observar

A pintura que era alheia


Eu gostava de rezar

Mas minha reza era automática

Eu gostava mais de cantar

A música que era enfática


Pinturas

Observações

Rezas

Músicas


Eu gostava de brincar

Mas minha brincadeira era veloz

Eu gostava mais de esperar

O fim da partida que era feroz


Eu gostava de dançar

Mas minha dança era terrível

Eu gostava mais de imaginar

Se a história da música era possível


Brincar

Veloz

Esperar

Feroz


Dançar

Terrível

Imaginar

Possível


Eu gostava, eu gostava

De um jeito ou de outro

Eu gostava


Eu gostava, eu gostava

De um ano para outro

Eu não sentia que acabava


Foram quase 7 anos

Dos momentos catequéticos

Eu gostava, eu gostava

Eu não sentia os céticos


11. Amenidades, disparidades


No curto recreio da minha escola

Eu ia bem feliz comer o meu lanche

Às vezes eu comprava de outrem

Isso quando eu não trazia na mochila


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Pastel, enroladinho, pão

Batata chips, refrigerante

Bolacha, biscoito, pipoca-doce

Era comprada a unidade ou o fardo


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Os anos 2000 acontecendo

Os 2010 se apresentando

Gerações e gerações se convergindo

A infância e adolescência se encaixando


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Embaixo do pé de sete-copas 

A sombra bem-vinda que acalma

O calor que o sol da tarde ainda provoca

Lembranças de uma vida pouco amarga


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Sentados num banco de madeira

A base do banco é feita de pedras

Conversas que saem verdadeiras

O mundo se altera bem depressa


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Deitado e lendo o meu livro de literatura

Imagens e ideias povoam a minha cabeça

Na tarde de um sábado bem pacato

Escritores e movimentos me enleiam


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Os anos e as décadas correm depressa

Foi indo 90, 2000, 2010

Os anos 2020 ainda começam

São os mesmos dramas, outros papéis


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


Eu sinto que após longos 10 anos

Muitas coisas mudaram em muitos pontos

Assuntos que jamais eram pensados

Pessoas que esqueceram desenganos


Amenidades, disparidades

Amenidades, disparidades


12. Algumas saudades


Algumas saudades eu digo

Algumas saudades eu ouço

Algumas saudades eu vejo

Algumas saudades eu sinto


Algumas saudades


Algumas saudades me lembram

Lembram-me do tempo que passou 

Algumas saudades me alertam

Alertam-me da vida que já mudou


Algumas saudades me alimentam

Alimentam-me dos momentos que vivi

Algumas saudades me inspiram

Inspiram-me nas chances que não perdi 


Algumas saudades me ensinam

Ensinam-me dos erros que cometi

Algumas saudades me animam

Animam-me na esperança que aprendi


Algumas saudades me confrontam

Confrontam-me dos atos que arrependi

Algumas saudades me questionam

Questionam-me das ideais que corrigi


Algumas saudades


Algumas saudades das pessoas

Pessoas que estão em outros lugares

Algumas saudades das garoas

Garoas nos arredores de muitos lares


Algumas saudades das estimas

Estimas exibidas de vários jeitos

Algumas saudades dos valores

Valores protegidos em muitos feitos 


Algumas saudades da verdade

Verdade na conduta bem sincera

Algumas saudades da felicidade

Felicidade espalhada na atmosfera


Algumas saudades da cortesia

Cortesia que era pouco ignorada

Algumas saudades da fantasia

Fantasia que era muito celebrada


Algumas saudades


Algumas saudades eu conservo

Algumas saudades eu manifesto

Algumas saudades eu partilho

Algumas saudades eu eternizo


Algumas saudades


13. Se eu tivesse


Se eu tivesse te confrontado

Se eu tivesse te orientado

Se eu tivesse te revelado

Se eu tivesse te ajudado


Se eu tivesse me transformado

Se eu tivesse me informado

Se eu tivesse me afirmado

Se eu tivesse me poupado


Se eu tivesse te incentivado

Se eu tivesse te respeitado

Se eu tivesse te inspirado

Se eu tivesse te cativado


Se eu tivesse me aproximado

Se eu tivesse me destacado

Se eu tivesse me estudado

Se eu tivesse me revoltado


Se eu tivesse, se eu tivesse

Conectado

Recordado

Analisado

Exaltado


Se eu tivesse todas os meios

Meios para tentar

Apesar dos defeitos


Se eu tivesse todas as vontades

Vontades para caminhar

Apesar das temeridades


Se eu tivesse todos os tempos

Tempos para plantar

Apesar dos impedimentos


Se eu tivesse todas as glórias

Glórias para lutar

Apesar das trajetórias


Se eu tivesse, se eu tivesse

Pensamentos

Conflitos

Ações


14. Várias


Faz tempo, eu não te vejo

Desde aquele verão de 2014

Faz tempo, eu não percebo

O quanto mudou de repente


Faz tempo, eu reconheço

Que eu preciso te dizer

Faz tempo, eu reconheço

O quanto me fez conhecer


Você já foi de várias cores

Branca, verde, amarela

Agora é azul

Que cor você terá amanhã?


Você já teve várias turmas

Anos, séries, turnos

Agora é pequena

Que jeito você terá amanhã?


Você era

Você é

Você será

Várias


15. Último dia de aula


Hoje é o último dia de aula

Dia de brincar e sorrir

Há muitos colegas que irão sumir

E muitos não vão se reunir

Desde o último dia de aula


Hoje é o último dia de aula

Dia de brincar e pensar

Há muitos colegas que irão mudar

E muitos não vão se comunicar

Desde o último dia de aula


Hoje é o último dia de aula

Dia de brincar e viver

Há muitos colegas que irão descrer

E muitas ideias vão se perder

Desde o último dia de aula


Hoje é último dia de aula 

Dia de cultivar a amizade

Há muitos que irão ver a maldade

E vão lidar com a adversidade

Desde o último dia de aula


Hoje não é o último dia de aula

Já não brincaram e sentiram

Há muitos colegas que já partiram

E muitas lembranças já se extinguiram

Desde o último dia de aula


16. Sensações do meu mundo


Sensações do meu mundo

Onde tudo eu vivia

Mal sabia que a vida

Não era só aquilo


Sensações do meu mundo

Na sala de informática

Conhecendo a Internet

Expandindo o que eu pensava


Sensações do meu mundo

Assistindo algum filme

Criando a identidade

Percebendo as mudanças


Sensações do meu mundo

Meu espaço eu já fazia

A leitura era amiga

Dos dias que passavam


Sensações

De um tempo que passou

De uma vida que mudou

Para mal ou para bem


Sensações

De sonhos que eu construí

De pessoas que eu convivi

Para mal ou para bem


Meu mundo

Campos, pastos, animais

Pessoas, trabalhos, roças

Gostasse ou não gostasse


Meu mundo

Botas, poeiras, estradas

Festas, reuniões, rezas

Gostasse ou não gostasse


Sensações do meu mundo

Que eu sei que lá no fundo

Ainda me acompanham

Por mais que ainda estranhem

Do tanto que que eu mudei


Sensações do meu mundo

Que eu volto em um segundo

Ainda me questionam

Por mais que ainda assustem

Do tanto que eu lembrei


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.

Todos os direitos reservados.


Desamargar, ou tentar - As restaurações de Felipe Prasino(2023). Obs:. 4° livro de Felipe Prasino.

Cor: Amarelo

Símbolo matemático: Multiplicação

Temas: secura, amargura, resignação, sarcasmo, erros, ilusões, mudanças, dor, libertação, superação, esforço, força, independência, tentativa, mudança, restauração, espiritualidade

Data aproximada de escrita: janeiro a fevereiro de 2023


1. Seco


Você zombou de mim eu fiquei seco

Seco e cada vez mais isolado

Você me excluiu da rede eu fiquei seco

Seco e cada vez mais desolado


Você não me respondeu eu fiquei seco

Seco e cada vez mais revoltado

Você me bloqueou eu fiquei seco

Seco e cada vez mais chateado


Seco, cada vez mais

Seco, atitudes fatais

Seco, mentiras habituais

Seco, consequências reais


Não odeio ninguém

Não tenho amor por todo mundo

Você sabe meu bem

Que tentar viver é tão profundo


Não odeio ninguém

Não tenho amor por todo mundo

Você sabe meu bem

Que ter o ódio é bem imundo


Não odeio ninguém 

Não tenho amor por todo mundo

Você sabe meu bem

Que tentar o amor é tão inseguro


Não odeio ninguém

Não tenho amor por todo mundo

Você sabe meu bem

Que desamargar é bem infundo


2. Amargo


Quem já provou do tal amargo

Sabe entender o que senti

Sua presença foi o estrago

Da minha vida que eu perdi


Quem já provou do tal amargo

Sabe entender o que temi

Sua presença foi o vago

Da minha carência que eu supri


Quem já provou do tal amargo

Sabe entender o que sofri

Sua presença foi o afago

Da minha ilusão que eu vesti


Quem já provou do tal amargo

Sabe entender o que cedi

Sua presença foi o embargo

Da minha paz que eu teci


Amargo

Estrago

Vago

Afago

Pressago


Amargo

Senti

Perdi

Vivi

Supri


Amargo

Sofri

Vesti

Medi

Abri


Que minha amargura seja expelida

Como um mal a ser combatido

Que minha amargura seja entendida

Como um problema a ser debatido


Que minha amargura seja escolhida

Como um experimento a ser analisado

Que minha amargura seja percebida

Como um amor a ser explorado


3. Esquecer


Hoje eu entendi

Que talvez não te esqueça

Mesmo que desapareça

Pelas escolhas do caminho


Eu também compreendi

Que talvez algo floresça

Porém, na minha cabeça

Fico até melhor sozinho


Hoje eu entendi

Que talvez não me suporta

Mesmo que eu mude a rota

Não posso impor o que eu sinto


Eu também compreendi

Que talvez eu ainda aprenda

A lidar com esse dilema

Meu querer não é faminto


Esquecer


Te esquecer, me esquecer

É algo a ser pensado

Recurso a ser lembrado

Na hora de dizer


Te esquecer, me esquecer

É algo a ser timbrado

Recurso a ser usado

Na hora de rever


Esquecer


4. Sarcástico


Será que devo ser sarcástico?

É de bom tom não rebater?

Será que devo ser metálico?

É de bom tom não aborrecer?


Será que devo ser sarcástico?

É de bom tom não esquecer?

Será que devo ser monástico?

É de bom tom não perecer?


O sarcasmo é um escudo

Usado contra o horror

Ser sarcástico é perigoso

Pois enfrento esse furor


O sarcasmo é um absurdo

Dito a palavra proferida 

Ser sarcástico é doloroso

Pois disputo essa partida


Sarcástico

Por que não recusa ser elástico?

Por que não recusa ser drástico?

Por que não recusa ser fanático?


Sarcástico

Por que não tenta ser estático?

Por que não tenta ser simpático?

Por que não tenta ser apático?


Sarcástico


5. Intacto


In, in, intacto

Poeira no meu vitral

In, in, intacto

Vidros embaçados


In, in, intacto

Penúria do meu igual

In, in, intactos

Seres desprezados


Eu já quis me manter numa redoma

Eu já quis me esquecer lá na ilha

Eu já quis me proteger da vida

Eu já quis me abster do desprezo


Eu já quis me proteger da afronta

Eu já quis me abster da vigília

Eu já quis me manter numa sina

Eu já quis me esquecer no espelho


Intacto, eu bem queria ser

Blindado contra toda piada

Intacto, eu bem queria estar

Preparado contra todo dissenso


Intacto, eu bem queria ter

Inspirado contra toda estafa

Intacto, eu bem queria andar

Revoltado contra todo silêncio


In, in, intacto

O vidro é esquisito

In, in, intacto

Pedaços rechaçados


In, in, intacto

O ódio é construído

In, in, intacto

Juízos deturpados


In, in, intacto


6. Erros


Errei por deixar escolher

Limitar meu viver

Eu não podia saber

O que queria fazer


Errei por deixar remover

Desprezar meu saber

Eu não podia entender

O que queria esconder


Errei por deixar criticar

Em vez de me aceitar

Buscando te agradar

Tentei me encaixar


Errei por deixar recordar

O que devia largar

Buscando te respeitar

Tentei me afastar


Olhando minha vida com vontade

Vou percebendo o quanto eu errei

Olhando minha vida com bondade

Vou vendo o quanto eu tentarei


Os meus erros foram muitos

Alguns externos, alguns profundos

Talvez nem lembre porque errei


Os meus erros serão muitos

Alguns eternos, alguns minutos

Talvez me lembre porque errarei


Errei, e errarei novamente

Sei que infelizmente

Não mudarei os meus feitos


Errei, e errarei novamente

Sei que visivelmente

Procurarei outros jeitos


Errei, Errarei

Errei, Errarei


7. Ilusões


Ilusões, as despertas ilusões

As perversas ilusões

A amiga das ambições

Que carregam a vaidade 


Ilusões, as diversas ilusões

As cobiçadas ilusões

A inimiga das sedições

Que procuram a verdade 


Ilusões, as perenes ilusões

As exaltadas ilusões

A intriga das conclusões

Que lapidam a imagem


Ilusões, as sofridas ilusões

As controversas ilusões

A fadiga das sugestões

Que desejam a vantagem


Ilusões

Velhas canções adoradas

Ilusões

Novas defesas criadas


Ilusões

Velhos apegos justificados

Ilusões

Novos conceitos esvaziados


Ilusões

Velhas manias petrificadas

Ilusões

Novas versões futilizadas


Ilusões

Velhos respeitos abandonados

Ilusões

Novos vazios premeditados


Ilusões


8. Mudanças


Elas vieram sorrateiras

Quase me derrubaram

Me causaram uma canseira

Quase me arruinaram


Elas vieram apressadas

Quase me ignoraram

Me causaram uma cilada

Quase me eliminaram


Elas vieram devagar

Quase me fascinaram

Me causaram um divagar

Quase me transformaram


Elas vieram reformar

Quase me anularam

Me causaram um confrontar

Quase me preocuparam


Elas vieram

Vieram de várias formas

As mudanças têm o eixo

Pra mudar todas as normas


Elas vieram

Vieram de vários espaços

As mudanças têm o campo

Pra mudar todos os traços


Mudanças de pensamentos

Mudanças e outros ventos

Mudanças de sofrimentos

Mudanças e outros intentos


Mudanças de residências

Mudanças e outras vivências

Mudanças de consciências

Mudanças e outras essências


9. Dói


Dói

Eu não via que destrói

Ainda te achava um de nós

Dói


Dói

Eu te julgava um herói

Ignorei o mal que te corroí

Dói


Dói ter que lidar com a maldade

Dói ter que lutar pela verdade

Dói ter que implorar humanidade

Dói ter que esperar simplicidade


Dói ter que assumir todo o desprezo

Dói ter que gerir todo o medo

Dói ter que assistir todo o erro

Doí ter que sentir todo o deszelo


Dói ter que chorar toda a saudade

Dói ter que enfrentar a realidade

Dói ter que almejar a dignidade

Dói ter que lembrar a impiedade


Dói ter que conviver com o horror

Dói ter que demover com o dissabor

Dói ter que debater com o rigor

Dói ter que precaver com o furor


Dói


10. Me libertando


Não ficará mais entalado em mim

Todas as coisas que eu suportei

Não ficará mais estragado em mim

Tudo de ruim que eu não limpei

 

Não ficará mais obrigado em mim

Todas as coisas que eu não gostei

Não ficará mais sufocado em mim

Tudo de bom que eu não falei


Eu fiquei por muito tempo

Tão preso e desatento

A maldade em todo intento

Tão indefeso, ao desalento


Eu fiquei por muito tempo

Tão triste e revoltado

A crueldade em todo lado

Tão fraco, ao descuidado


Porque, eu estou...


Me libertando do que eu já vivi

Me libertando do que eu já mudei

Me libertando do que eu já perdi

Me libertando do que eu já pensei


Me libertando do eu já sofri

Me libertando do que eu já achei

Me libertando do que eu já teci

Me libertando do que eu já errei



11. Esforçar


Em várias linhas do ano

Em várias vidas do século

O esforçar é humano

Princípio de tudo que é certo


Em vários ofícios mundanos

Em vários labores etéreos

O esforçar é humano

Princípio de tudo que é reto


Em várias barreiras do ano

Em várias brigas do século 

O esforçar é humano

Repúdio de tudo incerto


Em vários ideais insanos

Em vários ódios modernos

O esforçar é humano

Repúdio de tudo incorreto


Esforçar pelo preço

Esforçar pela lida

Esforçar pela paz

Esforçar pelo afeto


Esforçar

Labutar

Não brigar

Esforçar


Esforçar

Acalmar

Não odiar

Esforçar


O esforçar é o grito humano

Que resulta no trabalho plano

Em busca de toda melhoria social


O esforçar é o mérito veterano

Que resulta no trabalho mundano

Em busca de toda utilidade coletiva


O esforçar é o meio de libertar

Que resulta no trabalho exemplar

Em busca de toda conexão sublime


O esforçar é o ato de transformar

Que resulta no trabalho salutar

Em busca de toda paga posterior


12. Forte


Eu não consigo me mudar

O que dirá mudar outra pessoa

Apesar de tudo tento suportar

Esse limite que mais me magoa


Eu não posso querer evitar

Todo o sofrimento que ressoa

A vida me mostrou o esperar

E entender toda falta de escolha


Forte

Alguns falaram que foi sorte

Já caminhei sem ter um norte

Me confundi nos holofotes

Da vaidade humana


Forte

Eu me livrei da minha morte

Não esqueci do seu suporte

Me apoiei nos camarotes

Da experiência humana


Forte

Já escrevi meu próprio mote

Eu desarmei vários chicotes

Me descobri nos boicotes

Da violência humana


Forte

Eu já versei o seu magote

Cataloguei vários caixotes

Me introduzi nos serrotes

Da habilidade humana


Forte

Forte


13. Independente


Eu já fui assim muito carente

Sem esperança, inconsequente

Provando o tão temido terror


Hoje eu sou mais independente

Com cautela, bem prudente

Evitando o tão falado amor


Você achou que ia consentir?

Você achou que ia perecer?

Você não me viu emergir?

Você não me viu reerguer?


Você não me viu resistir?

Você não me viu superar?

Você achou que ia decair?

Você achou que ia lamentar?


Independente

Tão contundente

Tão evidente

Abertamente


Independente

Tão persistente

Tão exigente

Precisamente


Independente

Tão livremente

Tão envolvente

Sinceramente


Independente

Tão diferente

Tão pertinente

Expressamente


Independente

Profundamente

Honestamente

Criticamente


Independente


14. Desamargar, ou tentar


Foi vivendo que aprendi a desamargar

Foi vivendo que aprendi a tentar

Foi vivendo que aprendi a pensar

Foi vivendo que aprendi a imaginar


Foi vivendo que encarei a ingratidão

Foi vivendo que encarei a solidão

Foi vivendo que encarei a multidão

Foi vivendo que encarei a podridão


Foi vivendo, conectando

Foi vivendo, aprendendo

Foi vivendo, enfrentando

Foi vivendo, percebendo


Foi vivendo, transformando

Foi vivendo, conhecendo

Foi vivendo, incentivando

Foi vivendo, defendendo


Desamargar, ou tentar

Superar, mas não esquecer

Lutar pra não desabar

Viver sem medo de ver


Desamargar, ou tentar

Inventar, sem desmerecer

Orar pra não afundar

Saber pra não perecer


Foi vivendo

Foi vivendo


O amargo não vai mais me atormentar

Eu viverei para sempre desamargando

Não sei se eu vou conseguir mudar

Mas eu prometo que vou morrer tentando



Foi vivendo

Foi vivendo


Desamargar, ou tentar


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Todos os direitos reservados.