Cor: Marrom
Símbolo matemático: Igual
Temas: Memória, lembrete, infância, adolescência, escrita, leitura, lar, casas, livros, utensílios domésticos, trajetória, árvores, quintal, frutas, comidas, relações sociais, diferenças, saudades, escola, aulas, arte, religião, natureza, família, culinária, sensações
Data aproximada de escrita: março de 2023
1. Não te quero na minha vida
Não te quero, já te suportei bastante
Não te quero, já te ajudei bastante
Não te quero, já me fez sofrer bastante
Não te quero, já me fez errar bastante
Não te quero....
Não te quero na minha vida
Não esqueci que me fez muito mal
Por mais que eu possa ter uma recaída
Te afastar de mim foi fundamental
Não te quero na minha vida
Não esqueci todo o seu desprezo
Por mais que eu possa ter uma retraída
Te situar no seu lugar foi bem coeso
Não quero te quero na minha vida
Não esqueci sua falta de respeito
Por mais que eu possa ter uma saída
Te lembrar seus intentos é o único jeito
Não quero você na minha vida
Não esqueci todos os seus ardis
Por mais que eu possa ter uma ferida
Te alertar foi o que eu sempre quiz
Talvez...
Talvez pode estar arrependido
Suponho já tenha até repensado
Penso em tudo o que tenho vivido
Procuro não ficar mais ressentido
Talvez pode estar transfigurado
Suponho já tenha até melhorado
Penso em tudo o que tenho rechaçado
Procuro não ficar mais preocupado
Na retrospectiva da minha vida
Você foi um ponto do passado
Pode até ser mencionado
Mas não merece ser festejado
Na retrospectiva da minha vida
Você foi um erro a ser analisado
Pode até ser suscitado
Mas não merecer ser destacado
Não te quero na minha vida
2. Minhas paródias
(Nas minhas aulas de Artes
A professora sempre pedia uma paródia de uma música
E eu adorava fazer paródias
Talvez ali estava o começo da minha vontade de brincar com as palavras)
Qual o tema da paródia que eu vou fazer?
Como é possível rimar sem sofrer?
Qual a música da paródia que eu vou fazer?
Como é possível cantar sem sofrer?
Qual o sentido da paródia que eu vou fazer?
Como é possível criar sem sofrer?
Qual a nota da paródia que eu vou fazer?
Como é possível mudar sem sofrer?
Nas minhas paródias
Invento histórias
Talvez trajetórias
De outros viveres
Nas minhas paródias
Evoco memórias
Talvez transitórias
De outros saberes
Por meio das minhas paródias
Exercitei minha liberdade criativa
Apesar delas ainda serem gérmens
Foi com elas que fui construindo a minha vida
Por meio das minhas paródias
Demonstrei minhas várias emoções
Apesar delas ainda serem simples
Foi com elas que fui criando as minhas expressões
Obrigado minhas paródias, muito obrigado
3. Chinelos marrons
Aqueles chinelos marrons
Teve que decifrar outros tons
Teve que burilar alguns dons
Aqueles chinelos marrons
Aqueles chinelos marrons
Teve que escutar outros sons
Teve que guiar alguns bons
Aqueles chinelos marrons
Aqueles chinelos marrons viram muitas novidades
Viram casas construídas, viram comportamentos mudados
Aqueles chinelos marrons viram muitas histórias
Viram gerações se sucederem, viram calendários trocados
Aqueles chinelos marrons tiveram muitas lembranças
Lembraram fatos esquecidos, lembraram pessoas ignoradas
Aqueles chinelos marrons tiveram muitos amores
Amaram galhos da mesma árvore, amaram árvores do mesmo pomar
Aqueles chinelos marrons suportaram muitos dissabores
Suportaram a incompreensão, suportaram o sofrimento
Aqueles chinelos marrons suportaram muitas ramificações
Suportaram rupturas, suportaram despedidas
Mas, apesar de suportar muitas coisas
Aqueles chinelos marrons foram muito inspiradores
Inspiraram resiliência, inspiraram saudade
Aqueles chinelos marrons legaram coragem
Legaram tantas coisas boas que não podem ser resumidas em poucas palavras
Aos chinelos marrons, desejo toda a gratidão possível e impossível
4. Casa de adobo, fundação de pedra
Casa de adobo, fundação de pedra
A vida se expressa na mais simples união
Casa de adobo, fundação de pedra
A vida se rebela contra toda ingratidão
Casa de adobo, fundação de pedra
O mundo se eleva na mais pura emoção
Casa de adobo, fundação de pedra
O mundo se revela contra toda dispersão
Casa que foi feita pelas mãos de alguns pendores
Casa que foi feita pelas mãos de algumas flores
Casa que foi eleita para o lar de alguns louvores
Casa que foi eleita para o lar de algumas dores
Casa que foi base para algumas gerações
Casa que foi base para algumas divisões
Casa que foi fase para um prosseguir maduro
Casa que foi fase para um refletir seguro
Casa, adobo, fundação, pedra
Pedra, fundação, adobo, casa
Casa, adobo, fundação, pedra
Pedra, fundação, adobo, casa
Não deixem a casa desabar!
Se a casa acabar acabam-se histórias, memórias
Acabam-se personagens e cenários
Acabam-se afetos e identidades
Não deixem a casa desabar!
Se a casa acabar tudo vai se perder
Não vai adiantar se comover depois
A decisão precisa ser direta e simples
Não deixem a casa desabar!
Casa de adobo, fundação de pedra
A vida se expressa na mais simples união
Casa de adobo, fundação de pedra
A vida se rebela contra toda ingratidão
Casa de adobo, fundação de pedra
O mundo se eleva na mais pura emoção
Casa de adobo, fundação de pedra
O mundo se revela contra dispersão
5. Livro de Português
De Português?
Sim, tenho certeza
Era o livro didático de Português
De Português?
Sim, tenho certeza
É o livro do primário que me fez
Hoje eu lembrei
Eu lendo aquele livro de Português
A série era a terceira do Fundamental
Pensando que o tempo não volta outra vez
Hoje eu lembrei
Eu lendo aquele livro de Português
A capa era azul claro
Pensando que a memória é um gosto da infância
Hoje eu lembrei
Eu lendo aquele livro de Português
Na casa de adobo, fundação de pedra
Piso vermelhão bem encerado
Pensando quão agradável era aquela leitura no chão
Hoje eu lembrei
Eu lendo aquele livro de Português
Livro bem ilustrado, textos interessantes
Pensando quão agradável pode ser a leitura infantil
De Português
Sim, de Português
O livro que me fazia viajar nas histórias
Era o livro de Português
De português
Sim, de Português
O livro que me faz evocar minhas lembranças
É o livro de Português
6. Filtro de barro
O filtro de barro, com a água espalhada
Arruma o filtro, com a vela quebrada
Completa o filtro, com a água esperada
Repara na água, que sai bem filtrada
O filtro de barro, com portes diversos
Marrom e vermelho, nuances dispersos
Contempla o filtro, a linda estética
Peças e linhas, a forma sincrética
O filtro de barro pesava na espinha
O filtro de barro gostava da despensa
O filtro de barro ficava na cozinha
O filtro de barro estava na expensa
O filtro de barro, se abro agora
Recordo da minha essência
Talvez da minha existência
O filtro de barro, se tampo agora
Recordo dos meus cuidados
Talvez dos meus legados
O filtro de barro, se encho agora
Assumo os ritos das minhas memórias
Talvez de muitas histórias
O filtro de barro, se limpo agora
Repito os atos dos meus precedentes
Talvez dos meus subsequentes
O filtro de barro
O filtro de barro
O filtro de barro
A brasilidade
Na localidade
Do lar brasileiro
O filtro de barro
A criatividade
Na plasticidade
Da argila moldada
O filtro de barro
7. Retrospecto
Quando penso em mim
Sobre tudo que eu fiz
Vejo a vida lembrar outros inventos
Quando entro em mim
Sobre tudo que eu quis
Vejo a vida lembrar outros momentos
Quando olho em mim
Sobre tudo que eu fiz
Vejo a vida em um introspecto
Quando sinto em mim
Sobre tudo que eu quis
Vejo a vida em um retrospecto
Retrospecto
De tudo que eu perdi
De tudo que eu achei
Retrospecto
De tudo que eu parti
De tudo que eu ganhei
Retrospecto
De tudo que eu criei
De tudo que eu sofri
Retrospecto
De tudo que eu falei
De tudo que que eu vivi
A minha vida é uma eclética caminhada
Eu já fui assim, assado
Eu já coloquei tudo o que sentia para fora
A minha vida é um eclético aprendizado
Eu já fiz parte de um processo intermitente
Eu já desamarguei, ou, pelo menos, tentei
No futuro mostrarei meu calcanhar para todos
Mostrarei quantas nuances minhas forem necessárias
Viver é respeitar a eterna construção da existência humana
Retrospecto
Eu tudo que eu digo
Em tudo que eu serei
8. Meu pé de acerola
Meu pé de acerola
O termo sempre assola
Meu pé de acerola
O termo sempre isola
Meu pé de acerola
A paz nunca controla
Meu pé de acerola
A paz nunca amola
Meu de acerola era lindo
Bem verde e cuidado
Cheio de acerola vermelha
Meu pé de acerola era infindo
Bem grande e amado
Cheio de fruta parelha
Mas meu pé de acerola
Como tudo de bem nesse mundo
Descansou bem lá no fundo
Do chão do meu quintal
Mas meu pé de acerola
Como tudo que tem memória
Fez jus a sua triste história
Criou raízes no meu astral
Mas meu pé de acerola
Me rendeu umas lembranças
Do tempo que as esperanças
Não pereciam no total
Mas meu pé de acerola
Através dos meus versos
E também dos meus excessos
Transformou-se em imortal
Meu pé de acerola
Seu amigo se lembra
Meu pé de acerola
Seu amigo te acena
Meu pé de acerola
Você é um fato
Meu pé de acerola
Eu sou muito grato
Meu pé de acerola
9. Torta de banana
Eu relembrei daquela torta de banana
Que eu comi em 2006
Eu relembrei de toda aquela varanda
Que eu desci outra vez
Eu relembrei daquela torta de banana
Que eu senti em 2006
Eu relembrei de toda aquela ciranda
Que eu reuni outra vez
Eu relembrei
Da torta de banana
Eu relembrei
Daquela varanda
Eu relembrei
Da torta de banana
Eu relembrei
Daquela ciranda
Eu jamais vou esquecer
Eu quero a torta de banana
Que ficou na minha memória
Eu sempre vou entender
Eu quero a torta de banana
Que marcou minha trajetória
Daquela torta de banana
O sabor não lembro mais
A pressa da vida é insana
Só restam os fatos banais
Daquela torta de banana
Quem a fez eu lembro mais
A luta da vida é profana
Só restam os ritos locais
Eu relembrei
Não vou esquecer
Eu relembrei
Eu vou entender
Eu já cansei de te dizer
Eu quero a torta de banana
Que eu vivi em 2006
10. Momentos catequéticos
Eu gostava dos momentos catequéticos
Eu gostava de pintar
Mas minha pintura era feia
Eu gostava mais de observar
A pintura que era alheia
Eu gostava de rezar
Mas minha reza era automática
Eu gostava mais de cantar
A música que era enfática
Pinturas
Observações
Rezas
Músicas
Eu gostava de brincar
Mas minha brincadeira era veloz
Eu gostava mais de esperar
O fim da partida que era feroz
Eu gostava de dançar
Mas minha dança era terrível
Eu gostava mais de imaginar
Se a história da música era possível
Brincar
Veloz
Esperar
Feroz
Dançar
Terrível
Imaginar
Possível
Eu gostava, eu gostava
De um jeito ou de outro
Eu gostava
Eu gostava, eu gostava
De um ano para outro
Eu não sentia que acabava
Foram quase 7 anos
Dos momentos catequéticos
Eu gostava, eu gostava
Eu não sentia os céticos
11. Amenidades, disparidades
No curto recreio da minha escola
Eu ia bem feliz comer o meu lanche
Às vezes eu comprava de outrem
Isso quando eu não trazia na mochila
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Pastel, enroladinho, pão
Batata chips, refrigerante
Bolacha, biscoito, pipoca-doce
Era comprada a unidade ou o fardo
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Os anos 2000 acontecendo
Os 2010 se apresentando
Gerações e gerações se convergindo
A infância e adolescência se encaixando
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Embaixo do pé de sete-copas
A sombra bem-vinda que acalma
O calor que o sol da tarde ainda provoca
Lembranças de uma vida pouco amarga
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Sentados num banco de madeira
A base do banco é feita de pedras
Conversas que saem verdadeiras
O mundo se altera bem depressa
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Deitado e lendo o meu livro de literatura
Imagens e ideias povoam a minha cabeça
Na tarde de um sábado bem pacato
Escritores e movimentos me enleiam
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Os anos e as décadas correm depressa
Foi indo 90, 2000, 2010
Os anos 2020 ainda começam
São os mesmos dramas, outros papéis
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
Eu sinto que após longos 10 anos
Muitas coisas mudaram em muitos pontos
Assuntos que jamais eram pensados
Pessoas que esqueceram desenganos
Amenidades, disparidades
Amenidades, disparidades
12. Algumas saudades
Algumas saudades eu digo
Algumas saudades eu ouço
Algumas saudades eu vejo
Algumas saudades eu sinto
Algumas saudades
Algumas saudades me lembram
Lembram-me do tempo que passou
Algumas saudades me alertam
Alertam-me da vida que já mudou
Algumas saudades me alimentam
Alimentam-me dos momentos que vivi
Algumas saudades me inspiram
Inspiram-me nas chances que não perdi
Algumas saudades me ensinam
Ensinam-me dos erros que cometi
Algumas saudades me animam
Animam-me na esperança que aprendi
Algumas saudades me confrontam
Confrontam-me dos atos que arrependi
Algumas saudades me questionam
Questionam-me das ideais que corrigi
Algumas saudades
Algumas saudades das pessoas
Pessoas que estão em outros lugares
Algumas saudades das garoas
Garoas nos arredores de muitos lares
Algumas saudades das estimas
Estimas exibidas de vários jeitos
Algumas saudades dos valores
Valores protegidos em muitos feitos
Algumas saudades da verdade
Verdade na conduta bem sincera
Algumas saudades da felicidade
Felicidade espalhada na atmosfera
Algumas saudades da cortesia
Cortesia que era pouco ignorada
Algumas saudades da fantasia
Fantasia que era muito celebrada
Algumas saudades
Algumas saudades eu conservo
Algumas saudades eu manifesto
Algumas saudades eu partilho
Algumas saudades eu eternizo
Algumas saudades
13. Se eu tivesse
Se eu tivesse te confrontado
Se eu tivesse te orientado
Se eu tivesse te revelado
Se eu tivesse te ajudado
Se eu tivesse me transformado
Se eu tivesse me informado
Se eu tivesse me afirmado
Se eu tivesse me poupado
Se eu tivesse te incentivado
Se eu tivesse te respeitado
Se eu tivesse te inspirado
Se eu tivesse te cativado
Se eu tivesse me aproximado
Se eu tivesse me destacado
Se eu tivesse me estudado
Se eu tivesse me revoltado
Se eu tivesse, se eu tivesse
Conectado
Recordado
Analisado
Exaltado
Se eu tivesse todas os meios
Meios para tentar
Apesar dos defeitos
Se eu tivesse todas as vontades
Vontades para caminhar
Apesar das temeridades
Se eu tivesse todos os tempos
Tempos para plantar
Apesar dos impedimentos
Se eu tivesse todas as glórias
Glórias para lutar
Apesar das trajetórias
Se eu tivesse, se eu tivesse
Pensamentos
Conflitos
Ações
14. Várias
Faz tempo, eu não te vejo
Desde aquele verão de 2014
Faz tempo, eu não percebo
O quanto mudou de repente
Faz tempo, eu reconheço
Que eu preciso te dizer
Faz tempo, eu reconheço
O quanto me fez conhecer
Você já foi de várias cores
Branca, verde, amarela
Agora é azul
Que cor você terá amanhã?
Você já teve várias turmas
Anos, séries, turnos
Agora é pequena
Que jeito você terá amanhã?
Você era
Você é
Você será
Várias
15. Último dia de aula
Hoje é o último dia de aula
Dia de brincar e sorrir
Há muitos colegas que irão sumir
E muitos não vão se reunir
Desde o último dia de aula
Hoje é o último dia de aula
Dia de brincar e pensar
Há muitos colegas que irão mudar
E muitos não vão se comunicar
Desde o último dia de aula
Hoje é o último dia de aula
Dia de brincar e viver
Há muitos colegas que irão descrer
E muitas ideias vão se perder
Desde o último dia de aula
Hoje é último dia de aula
Dia de cultivar a amizade
Há muitos que irão ver a maldade
E vão lidar com a adversidade
Desde o último dia de aula
Hoje não é o último dia de aula
Já não brincaram e sentiram
Há muitos colegas que já partiram
E muitas lembranças já se extinguiram
Desde o último dia de aula
16. Sensações do meu mundo
Sensações do meu mundo
Onde tudo eu vivia
Mal sabia que a vida
Não era só aquilo
Sensações do meu mundo
Na sala de informática
Conhecendo a Internet
Expandindo o que eu pensava
Sensações do meu mundo
Assistindo algum filme
Criando a identidade
Percebendo as mudanças
Sensações do meu mundo
Meu espaço eu já fazia
A leitura era amiga
Dos dias que passavam
Sensações
De um tempo que passou
De uma vida que mudou
Para mal ou para bem
Sensações
De sonhos que eu construí
De pessoas que eu convivi
Para mal ou para bem
Meu mundo
Campos, pastos, animais
Pessoas, trabalhos, roças
Gostasse ou não gostasse
Meu mundo
Botas, poeiras, estradas
Festas, reuniões, rezas
Gostasse ou não gostasse
Sensações do meu mundo
Que eu sei que lá no fundo
Ainda me acompanham
Por mais que ainda estranhem
Do tanto que que eu mudei
Sensações do meu mundo
Que eu volto em um segundo
Ainda me questionam
Por mais que ainda assustem
Do tanto que eu lembrei
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