quinta-feira, 18 de maio de 2023

Calcanhar - As lutas de Felipe Prasino (2023). Obs:. 6° livro de Felipe Prasino.

Cor: Roxo

Símbolo matemático: Infinito

Temas: Sexualidade, questões corporais, autoestima, hipocrisia, solidão, desejos, sexualização, monotomia, ignorância e despertar espiritual

Data aproximada de escrita: abril a maio de 2023


1. Corpos


Corpos desejados

Não valorizados

Marginalizados

Pelo desprezo de outrem


Corpos variados

Não padronizados

Categorizados

Pelo vezo de alguém


Corpos que almejam

Serem bem tratados

Não coisificados

Pelo vezo de outrem


Corpos que pleiteiam

Serem bem amados

Não desrespeitados

Pelo desprezo de outrem


Corpos

Quebrem todos os preconceitos

Das discriminações e insinuações

Libertem todos os sujeitos

Das violações e opressões


Corpos

Carreguem toda a diversidade

Das cores e formatos

Anulem todos os efeitos

Das dores e boatos


Corpos


2. Chamariz/Chafariz


O meu corpo é um chamariz

Que emana alguns defeitos

A minha mente é um chafariz

Que enfrenta alguns desejos


O meu corpo é um chamariz

Apesar de não querer sofrer

A minha mente é um chafariz

Apesar de não querer saber


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


Não quero ser só um corpo

Não quero ser só minha mente

Quero que entendam minhas lutas

E tudo aquilo que eu tente


Não quero ser só um jogo

Não quero ser só inteligente

Quero que entendam minhas falas

E tudo aquilo que eu invente


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


O meu corpo é um instrumento

Um instrumento da minha expressão

O meu corpo é um portal

Um portal da minha imaginação


O meu corpo tem que ser respeitado

Tem que ser amado, considerado

O meu corpo tem quer ouvido

Tem que ser sentido, vivido


Chamariz

Chafariz

Chamariz

Chafariz


Respeite meu corpo!

Respeite meu corpo!

Me respeite!

Me respeite!


3. Calo


Você sabe que meu calo aperta

E faz tudo pra me provocar

Você sabe que eu penso à beça

E faz tudo pra me ver pirar


Você sabe onde meu calo aperta

E faz tudo pra me abalar

Você sabe que eu lembro da peça

E faz tudo pra me ver chorar


Calo


Você sabe que meu calo

É o lugar onde eu falo

Quem consegue irritá-lo

Não deverá evitá-lo


Você sabe que meu calo

É a vida onde eu estalo

Quem consegue pisá-lo

Não poderá estancá-lo


Calo


Desde que me entendo por gente

Fizeram questão de pisar no meu calo

Só que agora, daqui pra frente

Responderei esse ralo


Desde que me entendo em sociedade

Fizeram questão de mostrar nosso calo

Só que agora, contra toda maldade

Provocarei muito abalo


Calo


Você nunca se importaram com o outro

Viviam de falsidade e afins

Sempre puderam não pisar no nosso calo

Mas gostavam de ser ruins


Vocês nunca se perguntaram a razão

Adoravam a maldade e chacotas

Sempre puderam respeitar o que eu falo

Mas gostavam de ser idiotas 


Calo


Calo

Calo

Calo

Calo


4. Malabares


Minha alma deseja transcendência

Meu corpo deseja futilidade

Meu cérebro deseja razão

E vou vivendo nesses malabares


Minha vida deseja equilíbrio

Meu trabalho deseja atividade

Minha arte deseja inspiração

E vou vivendo nesses malabares


Malabares


Tentar me equilibrar

Me libertar, me motivar

Me apreciar


Tentar me inovar

Me respeitar, me nortear

Me conservar


Malabares


Malabares

Onde testo meu equílibrio

Confirmo meu raciocínio

Sobre tudo que me aflige


Malabares

Onde escrevo minhas teorias

Testo minhas poesias

Sobre tudo que me atinge


Malabares

Onde enfrento meus devaneios

Questiono meus passeios

Sobre tudo que me desperta


Malabares

Onde ensaio meus projetos

Altero meus trajetos

Sobre tudo que me liberta


Malabares


Malabares de todas as lutas

Malabares de todos os pesares


Malabares de todas as lidas

Malabares de todos os olhares


Malabares


Malabares

Malabares

Malabares


5. Colapso


Acabou a beleza

Acabou o desejo

Acabou o amor

Quem já vazou?


Acabou o dinheiro

Acabou o status

Acabou a fama

Quem te salvou?


Nós fomos criados nas mentiras

As verdades estão vindo à tona

Enquanto focarmos apenas no corpo

As vidas estarão sempre tontas


Nós fomos criados para competir

As competições estão piorando

Enquanto pensarmos apenas no dinheiro

As vidas ficarão em segundo plano


Colapso

De toda sociedade

Baseada na mentira

Exploração, violência

Na sexualização


Colapso

De toda humanidade

Baseada na esperteza

Traição, ganância

Na espoliação


Colapso

De toda existência

Baseada na conivência

Mesmice, unidade

Na alienação


Colapso

De toda sexualidade

Baseada no controle

Recalque, hipocrisia

Na repressão


Acabou a mentira

Acabou a esperteza

Acabou o terror

Quem colapsou?


Acabou a conivência

Acabou o controle

Acabou o torpor

Quem colapsou?


6. Perigoso e fatal


Você achou que eu não sabia

Seu falso amor era letal

Até pensei que me entendia

Depois vi que é teatral


Você achou que eu não sofria

Seu falso papo era imoral

Até pensei que te envolvia

Depois vi que é desleal


Você achou que eu não via

Seu falso sonho era anormal

Até pensei que te movia

Depois vi que é parcial


Você achou que eu não lia

Seu falso riso era sinal

Até pensei que me supria

Depois vi que é casual


Perigoso e fatal

Capaz de ser mais legal

Capaz de ver todo o mal

Capaz de livrar outro igual


Perigoso e fatal

Capaz de ser racional

Capaz de ter outro astral

Capaz de ver mais geral


Perigoso e fatal

Não quer mais outro brutal 

Não quer mais ser desleal

Não quer mais ter ventaval 


Perigoso e fatal

Não quer mais ser visceral

Não quer ver outro banal

Não quer mais ter lamaçal


Perigoso é quem decide sobre o próprio corpo, sobre o autopertencimento

Fatal é quem mostra seu valor, sobre o automelhoramento


Perigoso e fatal


7. Calcanhar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu desejei

Tudo que eu vou desejar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu pensei

Tudo que eu vou pensar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu amei

Tudo que eu vou amar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu criei

Tudo que eu vou criar


Sempre atacaram meu calcanhar

E isso marcou meu modo de crer

Senti que precisava me reservar

Caso contrário iria perecer


Sempre via na outra aparência

Aquilo que não encontrava em mim

Compreendi que a carência

Nunca impedia a solidão no fim


Sempre esperava a alteração

Onde eu teria uma nova vida

Colhi com minha própria ação

Toda força que estava escondida


Sempre escolhia o que falar

Temendo as malvadas opiniões

Resolvi não acompanhar

Todas as tristes repressões


Calcanhar

Minha chance de mudar

Minha vida é perguntar

Não me canso ao lembrar

Calcanhar


Calcanhar

Minha garra pra vencer

Minha sina é defender

Não me deixo esquecer

Calcanhar


Calcanhar

Minha busca por valor

Minha arte é compor

Não me moldo ao horror

Calcanhar


Calcanhar

Minha fala é construir

Minha sede é exprimir

Não me deixo ressentir


Calcanhar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu derrubei

Tudo que eu vou derrubar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu alcançei

Tudo que vou alcançar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu provoquei

Tudo que eu vou provocar


Calcanhar

Meu calcanhar

Tudo que eu enfrentei

Tudo que eu vou enfrentar


8. Alegre


Alegre

Alegre


Meu amor

Estou muito alegre

Correrei feito lebres

Nas virtudes que plantar


Meu amor

Estou muito alegre

Sondarei igual enquetes

Até a hora que terminar


Meu amor

Estou muito alegre

Jogarei igual raquetes

Até a vitória que surgir


Meu amor

Estou muito alegre

Pularei feito confetes

Nas bençãos que possuir


Alegre

Alegre


Meu amor

Eu sei que ser alegre

Nem sempre é legal

Muitas vezes é fatal

No mundo intolerante


Meu amor

Eu sei que ser alegre

Já veio de nascença

Marca toda existência

Daqueles muito alegres


Meu amor

Eu sei que ser alegre

É cuidar de outros alegres

Apesar das intempéries

De outros temporais


Meu amor

Eu sei que ser alegre

É lutar com outros alegres

Apesar das divergências

Em vários procederes


Meu amor

Estou muito alegre


Alegre

Alegre


9. Lutas


A luta é diária

A luta é contínua

Afasta, descansa

Mas não desanima


A luta é pesada

A luta é sofrida

Retoma, aclama

Mas não se irrita


A luta do pária

A luta da vida

Levanta, inspira

Mas não subestima


A luta da margem

A luta da lida

Convoca, declama

Mas não se intimida


Lutas

Lutas com fundo

Lutas e mundos

Pelas crias, que em segundos

Saem


Lutas

Lutas com nada 

Lutas e fachadas

Pelas sinas, que em escadas

Sobem


Lutas

Lutas por direitos

Lutas e respeitos

Pelas marcas, que em suspeitos

Caem


Lutas

Lutas por mudanças

Lutas e esperanças

Pelas crenças, que em memórias

Vivem


Lutas

Saem

Sobem

Caem 

Vivem


Lutas

Vivem

Caem

Sobem

Saem


10. Minhas formas


Eu sinto que eu sou a mesma coisa

Eu sinto que todos são a mesma coisa

Eu perdi a confiança na humanidade?

Eu perdi a esperança na humanidade?


Um mundo muito egoísta

Esquecendo a sinceridade

Ao invés de pensarem no outro

Se ocupam com a própria vaidade


A cópia da cópia é o que fazem

Tentando fingir ser o que não é

Esquecem de buscar a autenticidade

No próprio poder que é a sua fé


Olho pro lado e não vejo

Aquilo que eu sempre vi

Não sou mais do mesmo jeito

Estou mais longe, eu sei


Olho pra gente e não vejo

Aquilo que eu sempre curti

Não sou mais do mesmo feito

Estou bem chato, eu sei


Mais do mesmo

Atos previsíveis

Rotas desprezíveis

Forçando o viver


Mais do mesmo

Rancores conservados

Desejos represados

Marcando o querer


Mais do mesmo

Egoístas descarados

Humanos maltratados

Prolongando o sofrer


Mais do mesmo

Posses impossíveis

Rostos insensíveis

Disfarçando o romper


Eu sinto que tudo que eu falo é a mesma coisa

Eu sinto que tudo que vocês falam é a mesma coisa

Eu perdi toda a minha criatividade?

Eu perdi toda a minha sinceridade?


Serei eu mais do mesmo?

Serão vocês mais do mesmo?


Seremos nós mais do mesmo?


12. Sozinho


Eu sempre fui sozinho

Desde a tenra idade

Não imaginava que ser sozinho

Fosse influência da sobriedade


Eu sempre fui sozinho

Mesmo na mocidade

Eu pensava que ser sozinho

Fosse refúgio contra a maldade


Eu sempre estou sozinho

Mesmo na juventude

Eu penso que ser sozinho

É começo de plenitude


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na meia-idade

Eu penso que ser sozinho

Sempre trará sagacidade


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na velhice

Eu penso que ser sozinho

Sempre trará chatice


Eu sempre serei sozinho

Mesmo na eternidade

Eu penso que ser sozinho

É a forma de liberdade


Eu quero transformar a minha solidão

Transformar a solidão em solitude

Já usei os recursos em vão

Sei que a mudança vem da atitude


Atitude de entender que viverei sozinho

Posso não estar preso a ninguém

A solidão é um difícil pergaminho

Melhor decifrar que ser refém


Eu quero orientar a minha decisão

Orientar a decisão em ato

Já avisei que tenho expressão

Apesar de todo tipo de boato


Boato que não me traz benefício

Posso questionar a injustiça

A coragem é um difícil ofício

Melhor inspirar que ter preguiça


Sozinho, sozinho

Sentindo sempre o espinho

Sentido a crítica do vizinho

Melhor que preso no ninho


Sozinho, sozinho

Sentindo sempre o redemoinho

Sentido a paz em desalinho

Bem consciente do caminho


Sozinho


13. Vertigem no despertar


Desperto

Verto

Cresço

Excedo


Desperto

Verto

Percebo

Transcedo


A vertigem no despertar

É uma lógica consequência

Quem lembrou que aprimorar

É uma forma de previdência?


A vertigem no despertar

É uma mudança no existir

Quem lembrou que acreditar

É uma maneira de construir?


A vertigem no despertar

É uma conta da vida que chegou

Quem lembrou que relembrar

É uma via que já passou?


A vertigem no despertar

É uma luta em sua essência

Quem lembrou que contestar

É uma meio de sobrevivência?


Desperto

Verto

Almejo

Recebo


Desperto

Verto

Expresso

Conecto


Vertigem no despertar

Despertar na vertigem

A ordem pode mudar

Mas conserva toda a origem


Vertigem no despertar

Despertar na vertigem

Humanos podem mudar

A dor que mais os afligem


14. Santificou


Santificou

Só mudou de religião

Se salvou

Só mudou de restrição


Santificou

Não mudou a percepção

Se consertou

Não mudou a condenação


Santificou

Só mudou de exaltação

Se respaldou

Só mudou de suspeição


Santificou

Não mudou a recepção

Se limitou

Não mudou a conclusão


Santificou

Pensando que tinha apagado os seus erros anteriores

Santificou

Pensando que isso lhe dava o direito de criticar quem cometeu os mesmos erros


Santificou

Pensando que era exemplo para muitas outras pessoas

Santificou

Pensando que era uma forma de encobrir as suas ações maldosas


Santificou

Pensando que poderia propagar dissabores e ir para um bom lugar

Santificou

Pensando que era um meio de validar os seus atos hipócritas


Santificou

Pensando que poderia enganar ao ser humano falho

Santificou

Pensando que poderia escapar da vista divina


Santificou

Só mudou de religião

Se salvou

Só mudou de restrição


Santificou

Não mudou a percepção

Se consertou

Não mudou a condenação


Santificou

Só mudou de exaltação

Se respaldou

Só mudou de suspeição


Santificou

Não mudou a recepção

Se limitou

Não mudou a conclusão


Santificou


15. O preço das provações


Negro

Gay

Pobre

Vascaíno

Suburbano


Poeta

Brasileiro

Espírita

Socialista

Interiorano


Só isso, quer mais?


Triste

Revoltado

Criticado

Incomodado


Consciente

Magoado

Ignorado

Afastado


Sou isso, quer mais?


Acelerado

Desprezado

Lapidador

Perguntador


Introvertido

Provocado

Divagador

Observador


Sou tudo isso, quer mais?


O preço das provações

Eu vou lembrando todo dia

Parecem infinitas prestações

Que vou pagando minha ousadia


O preço das provações

Eu vou tentando entender

Parecem infinitas obrigações

Que vou sempre satisfazer


O preço das provações

O preço, enfim, o preço


O preço das provações

Eu conheço, enfim, eu conheço


16. Felipe Prasino (Amigo, cavalo, verde)


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Verde-liberdade

Vermelho-revolta

Azul-crise


Amarelo-reparação

Marrom-lembrança

Roxo-luta


Cores-possibilidades


Identidades

Explosões

Ruínas


Libertações

Afetos

Desejos


Interpretações


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


As posturas

As resistências

As desigualdades

As angústias


As tentativas

As histórias

As privações

As energias


As obras prasinianas

As multiplicidades

Felipe Prasino


As ideias prasinianas

As possibilidades

Felipe Prasino


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Felipe!

Felipe!

Felipe Prasino!


Amigo, cavalo, verde

Cavalo, verde, amigo

Poeta que não se decide

Se quer tudo ou nada


Cavalo, verde, amigo

Amigo, cavalo, verde

Poeta que não se decide

Se quer juntar ou espalhar


Felipe Prasino!


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