segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Esparsos e Reunidos - As variedades de Felipe Prasino (2024). Obs:. 16° livro de Felipe Prasino.

Cor: Bordô


Símbolo matemático: Parênteses


Temas: Superação, convenções sociais, homossexualidade, permanências, empatia, memorização, cancelamento, normalidade, fama, saúde, complexidade

Data aproximada de escrita: setembro, outubro e dezembro de 2024


1. Segui sem você


Seu jeito narcisista, vitimista

Pessimista

Me entristecia pra valer

Segui sem você


Seu jeito desdenhoso, orgulhoso

Desastroso

Me convidava pra sofrer

Segui sem você


Pode isso?

Me arruinar?

Me desgastar?

Por uma pessoa que não vai me ajudar?


Pode isso?

Me adoecer?

Me condoer?

Por uma pessoa que não vai me entender?


Segui sem você


Seu jeito carente, envolvente

Incoerente

Me conduzia pra acolher

Segui sem você


Seu jeito instável, notável

Detestável

Me avisava pra perdoar

Segui sem você


Posso isso?

Me humilhar?

Me esforçar?

Por uma pessoa que não vai me acrescentar?


Pode isso?

Me ofender?

Me encolher?

Por uma pessoa que não vai me agradecer?


Segui sem você


2. Eu não cumpri nenhuma delas


Tentando ser o maioral

Um peso em vez de suporte

Buscando ser o trivial

Um muro antes que transporte


Querendo ser o importante

Um prêmio em vez de virtude

Perdendo ser o brilhante

Um hiato em vez de atitude


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Tentando ser o diferente

Um desejo em vez de relação

Buscando ser o ausente

Um corpo em vez de afeição


Querendo ser o normal

Um acordo em vez de revolução

Perdendo ser o essencial

Um círculo em vez de inspiração


A masculinidade e a homossexualidade tem regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Ser viril, ser delicado

Tão hostil, tão odiado

Ser gentil, e adorado


Ser forte, tão pequeno

Tão norte, tão obsceno

Ser consorte, e sereno


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Ser carinhoso, ignorante

Tão generoso, tão pedante

Ser formoso, e brilhante


Ser inteligente, tão maçante

Tão presente, tão frustante

Ser coerente, e vigilante


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


3. Olhos doces


Como eu queria entender

Esses seus olhos doces

Como eu queria romper

Todos os ódios torpes


Como eu queria amparar

Esses seus olhos doces

Como eu queria enfrentar

Todos os medos torpes


Olhos doces

Com sonhos

Desejos e problemas


Olhos doces

Com deveres

Trabalhos e poemas


Olhos doces

Com famílias

Amizades e uniões


Olhos doces

Com chances

Respeitos e canções


Como eu queria inspirar

Esses seus olhos doces

Como eu queria apontar

Todos os contos torpes


Como eu queria reler

Esses seus olhos doces

Como eu queria deter

Todos os ditos torpes


Olhos doces

Com hortas

Obras e louvores


Olhos doces

Com remédios

Cálculos e valores


Olhos doces

Com ideias

Ensaios e projetos


Olhos doces

Com técnicas

Desenhos e trajetos


4. Algo nunca muda (Nada está bom)


Ontem a fogueira

Hoje o cancelamento

Sempre a cegueira

Nunca o questionamento


Ontem a contenda

Hoje o depósito

Sempre a emenda

Nunca o propósito


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem a repressão

Hoje o alheamento

Sempre a divisão

Nunca o melhoramento


Ontem a pilhéria

Hoje o costume

Sempre a miséria

Nunca o perfume


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem a vestimenta

Hoje o emprego

Sempre a tormenta

Nunca o sossego


Ontem a renúncia

Hoje o alimento

Sempre a pronúncia

Nunca o pagamento


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem o descaso

Hoje a preocupação

Sempre o atraso

Nunca a reparação


Ontem a ambição

Hoje o desprendimento

Sempre a provocação

Nunca o entendimento


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


5. Você entende?


O que você deseja

Quem você deseja

Te estimaria?


O que você procura

Quem você procura

Te procuraria?


Você entende

Não tenho paciência

Os jogos não me interessam

Não tenho tempo para isso


Você entende

Me diga o que está sentindo

A verdade não me incomoda

Não tenho vergonha disso


O que você questiona

Quem você questiona

Te questionaria?


O que você retoma

Quem você retoma

Te retomaria?


Você entende?

Não tenho fortuna

Os sonhos não me preenchem

Não tenho sede para isso


Você entende?

Me diga o que está planejando

A inércia não me protege

Não tenho raiva disso


A maldade

A trapaça

A falta de amparo

Te induziriam?


A vaidade

A preguiça

A falta de assunto

Te construiriam?


Você entende?

Você entende o que te motiva?


Você entende?

Você entende o que te vincula?


6. Não sei decorar conceitos


Não sei decorar conceitos

São tantos que perdi as contas

Não sei ignorar trejeitos

São vários que combati as afrontas


Não sei decorar conceitos

São tantos que temi a loucura

Não sei ignorar respeitos

São vários que repeli a amargura


Conceitos antigos

Modernos, contemporâneos

Superados, amigos

Eternos, instantâneos


Conceitos científicos

Filosóficos, espirituais

Gerais, específicos

Catastróficos, habituais


Não sei decorar conceitos


Não sei decorar conceitos

São cursos que perdi a lembrança

Não sei aumentar confeitos

São muitos que combati a segurança


Não sei decorar conceitos

São tantas que temi a lacuna

Não sei ignorar efeitos

São muitos que repeli a fortuna


Conceitos dogmáticos

Pragmáticos, harmoniosos

Agressivos, democráticos

Traumáticos, perigosos


Conceitos artísticos

Bonitos, dedicados

Responsáveis, críticos

Favoritos, preservados


Não sei decorar conceitos


Não consigo decorar meus poemas

Vou decorar conceitos?


Não consigo decorar meus dilemas

Vou decorar conceitos?


7. Olhos tristes


Comparei seus olhos tristes

Era o efeito da condição

Em muitos vi os medos firmes

Não contornava a solidão


Indaguei seu olhos tristes

Era o efeito da divisão

Em muitos vi os jeitos firmes

Não contornava a ingratidão


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


Provoquei seus olhos tristes

Era o efeito da imprecisão

Em muitos vi os ideais firmes

Não contornava a opressão


Destaquei seus olhos tristes

Era o efeito da opinião

Em muitos vi os valores firmes

Não contornava a repetição


Olhos tristes


Querido 

Eu não quero ver seus olhos tristes


Não consigo suportar seus olhos tristes

Esse olhos me causam aflição

Apesar de continuar tão firmes

Esses olhos me revelam incompreensão


Não consigo ajudar seus olhos tristes

Esses olhos me sucitam precaução

Apesar de aguardar tão firmes

Esses olhos me revelam identificação


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


Em que data essa tristeza acabará?

A nossa fortaleza consiste em escrever?


Em que região essa tristeza acabará?

A nossa proeza consiste em defender?


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


8. Reis cancelados


O rei cancelado ficou triste

O rei cancelado adoeceu

Seu mundo já está ultrapassado

A sua dita fama já morreu


O rei cancelado ficou pasmo

O rei cancelado enlouqueceu

O mundo não está romantizado

A sua dita força já cedeu


Ei rei, seu triunfo já passou

Sua turma já andou

O seu brilho não durou


Ei rei, é melhor se adaptar

Tá na hora de buscar

Não se pode ocultar


Reis cancelados

Não estão sendo armados

Já estão incomodados

Por frotas rechaçados


Reis cancelados

Não estão sendo lembrados

Já estão abandonados

Por aldeias criticados


Reis cancelados

Não estão sendo guardados

Já estão expatriados

Por famílias destronados


Reis cancelados

Não estão sendo chamados

Já estão excomungados

Por igrejas condenados


Ei rei, seu legado já cansou

Sua fúria já baixou

O seu erro não vingou


Ei rei, é melhor se conformar

Tá na hora de indagar

Não se pode tapear


Reis cancelados

Não seram auxiliados


Reis cancelados

Não serão apreciados


9. Sou normal?


O bocejo eu tenho muito

O trabalho eu tenho pouco

Na pegada do fortuito

Ilusão me deixa louco


Me seguro, me contorço

Evitando me estressar

Não esqueço do esforço

Pra tentar me conformar


O ensejo eu tenho muito

O sumiço eu tenho pouco

Na pegada do intuito

Solidão me deixa louco


Me misturo, me distorço

Evitando me entregar

Não esqueço do reforço

Pra tentar me alegrar


Sou normal?


Um jardim em estilo Art Nouveau

Uma sala em estilo Art Decó

Decorando tudo misto

Imagino que é retrô


Um poema com rimas comuns

Uma canção com notas apuradas

Reunindo tudo esparso

Imagino as trapalhadas


Uma estágio com falas ilógicas

Uma partida com ideias reduzidas

Querendo tudo pronto

Imagino as medidas


Uma pasta em pilha estreita

Um jogo em caixa distante

Repondo tudo tenso

Imagino a estante


Sou normal?


Me convenço que não sou normal

Olha os meios acertados!


Me convenço que não sou normal

Olha os temas aplicados!


10. Ser só VIP


Flashes toda hora

Cabelo, maquiagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Autógrafos toda hora

Tietes, paparazzi

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

Na capa da revista

Ou na fala de um filme


Ser só VIP

Na tela do outdoor

Ou na cena de um clipe


Na cena de um clipe

Na cena de um clipe


Very Importante Person


Críticos toda hora

Acertos, trairagens

Coisa da imagem

De ser só VIP


Atritos toda hora

Erros, vaidades

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

No programa da TV

Ou na festa de um hit


Ser só VIP

Na live com os fãs

Ou na venda de um kit


Na venda de um kit

Na venda de um kit


Very Important Person


Roupas toda hora

Calçados, repostagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Desafios toda hora

Estilos, reportagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

No ato de uma peça

Ou na hora de um clique


Ser só VIP

No meio da partida

Ou na hora de um tique


Na hora de um tique

Na hora de um tique


Very Important Person


11. Ficará conosco?


Ficará conosco?

As medidas se chocam

Ficará conosco?

Os afetos se afastam


Ficará conosco?

As feridas se agravam

Ficará conosco?

Os conflitos se alastram


Ficará conosco?

As bebidas se trincam

Ficará conosco?

Os saberes se findam


Ficará conosco?

As torcidas se assolam

Ficará conosco?

Os desejos se trocam


Poucos ficarão


Ficará conosco?

Os espelhos se quebram

Ficará conosco?

Os coelhos se revelam


Ficará conosco?

Os conselhos se esquecem

Ficará conosco?

Os joelhos se enrijecem


Ficará conosco?

As cantigas se apagam

Ficará conosco?

As bexigas se estragam


Ficará conosco?

As urtigas são aceitas

Ficará conosco?

As fadigas são refeitas


Poucos ficarão


Pense em quem ficará contigo

Quando não existir respostas


Pense em quem ficará contigo

Quando não existir propostas


Pense em quem ficará contigo

Quando só existir momentos


Pense em quem ficará contigo

Quando só existir lamentos


Poucos pensarão


Ficará conosco?

Poucos importarão


12. A base também desaba


A base também desaba

Se o peso não for dividido

A base também desaba

Se o remorso não for conhecido


A base também desaba

Se o gênero não for debatido

A base também desaba

Se o respeito não for seguido


A base também desaba

Ao contrário do que muitos inventam


A base também desaba

Se o saber não for melhorado

A base também desaba

Se o tempo não for apontado


A base também desaba

Se o desprezo não for rechaçado

A base também desaba

Se o motivo não for estudado


A base também desaba

Ao contrário do que muitos comentam


A base da sociedade

Algo que afirmam escutar

Algo que poucos se importam

Algo que adoram separar


A base da sociedade

Algo que figuram resguardar

Algo que poucos auxiliam

Algo que demoram libertar


A base da sociedade também desaba

Ao contrário do que muitos ostentam


A base da sociedade

Algo que procuram limitar

Algo que poucos entendem

Algo que permitem maltratar


A base da sociedade

Algo que estimam atarefar

Algo que poucos se comovem

Algo que assistem definhar


A base da sociedade também desaba

Apesar do que muitos orientam


13. Não me adoecerão


As coisas que não retornei

As pessoas que não disfarcei

Não me adoecerão


Os erros que não reparei

Os medos que não contornei

Não me adoecerão


Os versos que não suportei

Os focos que não apurei

Não me adoecerão


As lacunas que não ocupei

As histórias que não reparei

Não me adoecerão


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre o desespero


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre a ignorância


As provas que não aprovei

As contas que não acertei

Não me adoecerão


Os brilhos que não procurei

Os egos que não instiguei

Não me adoecerão


Os votos que não confirmei

Os louros que não exaltei

Não me adoecerão


As entregas que não ordenei

As esperas que não reclamei

Não me adoecerão


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre o desprezo


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre a incerteza


E todos os sonhos?

E todos os enganos?

Não ajudarei a adoecer a todos!


E todos os caminhos?

E todos os debates?

Não ajudarei a adoecer a todos!


Não me adoecerão!

Não me adoecerão!


Não me adoecerão!

Não me adoecerão!


14. Esparsos e Reunidos


Os meus versos são diversos

Controversos, modestos

Universos que talvez exploram


Os meus versos são dispersos

Submersos, manifestos

Reversos que talvez afloram


São esparsos, reunidos

Atrevidos, honestos

Convencidos que talvez amolam


São esparsos, reunidos

Repetidos, indigestos

Ressentidos que talvez pioram


Temas que não aturam?

Ideias que não costuram?


Pessoas que não perduram?

Formas que não seguram?


Esparsos e Reunidos

Esparsos e Reunidos


Os meus versos são complexos

Imersos, protestos

Adversos que talvez imploram


Os meus versos são adversos

Emersos, infestos

Tranversos que talvez ignoram


São esparsos, reunidos

Recolhidos, congestos

Oprimidos que talvez apavoram


São esparsos, reunidos

Combatidos, funestos

Preferidos que talvez valoram


Dilemas que não acabam?

Críticas que não desabam?


Palavras que não exalam?

Tempos que não abalam?


Esparsos e Reunidos

Esparsos e Reunidos


São versos esparsos e reunidos

Versos que não tem obrigação


São versos esparsos e reunidos

Versos que contêm consciência


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