sexta-feira, 20 de junho de 2025

Outros lados - As vontades de Felipe Prasino (2025). Obs:. 18° livro de Felipe Prasino.

Cor: Cáqui


Símbolo matemático: Pertence


Temas: Faces, televisões, sapatos, inseguranças, pares, dicionários, anseios, interpretações, ímpetos, costuras, rotinas, desconfianças, loucuras, catálogos, otimizações, partes

Data aproximada de escrita: abril, maio e junho de 2025


1. Minhas unhas


Queria que escondesse minhas unhas

Mas não adiantou


Você propôs a mentira

De certo modo concordei

Porém sabia da fraqueza

E assim não a mantive


Você propôs a repressão

De certo modo de vida

Porém sabia da energia

E assim a rechaçei


Minhas unhas


Você quis esconder meus lados

Todo traço que irritava a maioria

Tive que esconder minhas unhas

Isso só provocou muita agonia


Você quis esconder meus lados

Toda ideia que não seguia a hipocrisia

Agora decidi revelar minhas unhas

Isso só aumentou minha ousadia


Minhas unhas


Não estou aqui para fazer vontades alheias

Tenho minha consciência que pergunta

Se a mentira é a base do sofrimento

Compensa pagar o preço da permuta?


Não estou aqui para escrever ódios alheios

Tenho minha experiência que ensina

Se a revolta é peso da desigualdade

Compensa atiçar o aumento da ruína?


Minhas unhas


Me resta mostrar minhas unhas

Mostre as suas garras assim

Se não consegue as sustentar

Passe as estudá-las também


Me resta aceitar minhas unhas

Aceite as suas garras assim

Se não consegue as aparar

Passe as aceitá-las também


Minhas unhas


Queria que escondesse minhas unhas

Mas não adiantou


2. Sintonia constante


Ligo a TV

Busco canais

A falta de algum

Me leva a indagar


Desligo a TV

Dispenso canais

A chegada de algum

Me leva a esperar


Sintonia constante


Autorizações, outorgas

Canais analógicos, digitais

Canais parabólicos, locais

Sinais via fibras, cabos


Antenas externas, internas

Controles, suportes

Recursos, manuais

Tecnologias, regiões

Sintonia constantes


O universo dos canais

Redes, canais regionais

Religiosos, educativos

Conhecidos, desconhecidos


O mistério dos canais

Programações, mudanças

Retornos, cancelamentos

Assistidos, ignorados


Sintonia constante


A consolidação da era digital

A TV Digital em todas as renovações

A utilidade da TV enquanto instrumento

A TV Digital em todas as inovações


A renovação da era digital

A TV Digital em todos os anseios

A capacidade da TV enquanto inspiração

A TV Digital em todos os torneios


Sintonia constante


A TV inteligente tem limite de interação?

A tela tem limite de polegada?


A TV inteligente tem limite de público?

A tela tem limite de qualidade?


Sintonia constante


Ligo a TV

Reconheço canais

A falha de algum

Me leva a indagar


Desligo a TV

Acolho canais

A partida de algum

Me leva a esperar


Sintonia constante


3. Sapatos, sapatos


Sapatos, sapatos

Quero sapatos

Sapatos, sapatos

Compro sapatos


Sapatos, sapatos

Procuro sapatos

Sapatos, sapatos

Guardo sapatos


Sapatos, sapatos


Sapatos com tantos estilos

Country, urbano, social

Sapatos com tantas texturas

Nobuck, liso, camurça


Sapatos com tantos tons

Preto, amarelo, marrom

Sapatos com tantas alturas

Baixo, médio, alto


Sapatos, sapatos


Trocarei os sapatos?

Limparei os sapatos?

Desenharei os sapatos?

Fabricarei os sapatos?


Olharei mais sapatos?

Suprirei minha carência?

Calçarei mais sapatos?

Exibirei minha potência?


Sapatos, sapatos


Sapatos são identidade

Será que eu só tenho uma?

Sapatos trazem novidade

Será que eu aprovo toda?


Sapatos são experiência

Será que eu só quero uma?

Sapatos trazem tendência

Será que eu alcanço toda?


Sapatos, sapatos


4. Reticente comigo


De uns anos pra cá

Tive, tenho, a reticência comigo


Vou me assustar?

Vou, quem sabe, provocar?

A sua reticência comigo


Vou me aconselhar?

Vou, quem sabe, revelar?

A sua reticência comigo


Reticente comigo


Percebo o lugar que ocupo na sua vida

Que eu sou lembrado na sua solidão

Liberando o sentimento que eu esculpia

Resguardo a grande pedra do respeito


Percebo a fala que escuto da sua lida

Que eu sou afastado da sua afeição

Afagando a frustração que eu reerguia

Aguardo a grande poeira do desprezo


Reticente comigo


O fruto da minha condição te incomoda?

Não vale minha ação correta contigo?

Quando não suportar a festa, falsa

Poderá se aproximar de mim?


O vício da minha opinião te apavora?

Não cabe minha ideia incerta comigo?

Quando não agradar o topo, tosco

Poderá se distanciar de mim?


Reticente comigo


Eu, comigo, construo a reticência

É uma ferida que sou levado a lavar

Não curto tratamentos descabidos

O vestígio permanece longamente


Eu, comigo, costuro a reticência

É uma torcida que sou levado a trocar

Não curto exageros escondidos

O desejo desaparece furtivamente


Reticente comigo


De agora para frente

Tenho, terei, a reticência comigo


5. Pares


Pares

Lugares pares

Horas pares

Datas pares


Pares

Elementos pares

Mundos pares

Frases pares


Pares


Os pares em números romanos

Indo-arábicos, veteranos


Os pares em metas literárias

Musicais, temporárias


Pares


Pares

Cores pares

Sons pares

Estilos pares


Pares

Pessoas pares

Casas pares

Obras pares


Pares


Os pares em coleções

Capítulos, tratados


Os pares em trocados

Tributos, canções


Pares


Exagero por pares?

Admiração por pares?


Cansaço por ímpares?

Antipatia por ímpares?


Pares


Trabalho dos pares

Disputa dos pares

Aliança dos pares

Mapa dos pares


Revelação dos pares

Mistério dos pares

Segredo dos pares

Atalho dos pares


Pares


6. Dicionário


Dicionário

Me consulta quando quer

Se preocupa quando tem dúvida

Te irrita quando não responde


Dicionário

Me ignora quando sai

Se interessa quando tem trabalho

Te aflige quando não confirma


Dicionário


Me rotula

Qual calhamaço que ocupa lugar

Qual objeto que ficou defasado

Um trambolho que pretende descartar


Me atura

Qual artefato que está esquecido

Qual idioma que está desusado

Uma cultura que pretende enterrar


Dicionário


Outros meios mais modernos

O papel se tornou obsoleto?

Se não respondo seus anseios

Devo sofrer o ostracismo?


Outros rumos mais rentáveis

O saber se tornou excesso?

Se não endosso seus protestos

Devo aceitar a decadência?


Dicionário


Ser útil ao sistema econômico é o fim?

A história se resume aos resultados?

Devemos ignorar os povos passados?

A identidade será apenas lembrança?


Ser fiel ao modelo social é importante?

A escolha se almoda aos proventos?

Devemos valorar os talentos?

A diferença será apenas vergonha?


Dicionário


7. Anseio por terminar


Anseio por terminar

De escrever um livro

De apreciar um livro

De conceber um livro


Anseio por terminar

De apoiar uma ideia

De receber uma ideia

De reformar uma ideia


Anseio por terminar


Anseio por terminar

De prosseguir uma amizade

De contestar uma amizade

De decifrar uma amizade


Anseio por terminar

De esperar uma escolha

De rebater uma escolha

De dirigir uma escolha


Anseio por terminar


Começar algo pensando em terminar

Um mal que carrego na existência

Não sei se é desapego, pressa

Sei que sigo nesse estado


Começar algo pensando em terminar

Uma questão que vejo na rotina

Não sei se é hábito, gosto

Sei que padeço nessa trilha


Anseio por terminar


Mal de quem valora?

Mal de quem diferi?

Mal de quem cindi?

Mal de quem nota?

O término impõe lutas?


Mal de quem convida?

Mal de quem resumi?

Mal de quem previni?

Mal de quem vacila?

O término permite fugas?


Anseio por terminar


8. Leio, releio


Leio, releio

Escrevo, reescrevo

A interpretação tem fundamentos


Leio, releio

Evoco, reevoco

A reminiscência tem complementos


Leio, releio


Leio, releio

Muitas vezes releio

A mesma frase

O mesmo parágrafo


Leio, releio

Muitas vezes releio

O mesmo ser

A mesma conduta


Leio, releio

Quando o detalhe foi ignorado?

Quando o enredo foi encurtado?

Quando a música foi apoiada?

Quando a cena foi simplificada?


Quando a moda foi estagnada?

Quando a fome foi recusada?

Quando o diálogo foi tolerado?

Quando o sentido foi evitado?


Leio, releio


Não bastam nomes distintos

A capa dominante, realçada

A vertente convencional

Há também outras estruturas


Não bastam leituras conhecidas

Os vieses restritivos, aprovados

A teoria dominante, fomentada

Há também outras ligações


Leio, releio


Ler é ato que requer

Requer algo que não conhecemos

Algo que surgirá nas leituras


Ler é ato que entrega

Entrega algo que já sabemos

Algo que ampliará nas leituras


Leio, releio


Os fatos adquirem mais valor

As noções ganham potências


As fases pedem mais ensejo

Os conflitos largam certezas


Leio, releio


9. Gana pela vida


Fazer esforço?

Perdoar tropeços?

O que devo fazer para manter?

Manter a gana pela vida


Fazer sonhos?

Implorar recurso?

O que devo fazer para aceitar

Aceitar a gana pela vida


Gana pela vida


A batalha lacrada

Escolhida dos juízos alheios

Conhecida apenas pelo espírito

Aborrecida com os atalhos inventados


A batalha omitida

Informada dos limites alheios

Amparada apenas pela mente

Chateada com os méritos renovados


Gana pela vida


Vida, como é pesado manter a gana

Os problemas dispersam detalhes

Detalhes que eu preciso analisar

Mas como analisar na era da rapidez?


Vida, como é usual perder a gana

Os interesses confinam direções

Direções que eu prefiro ignorar

Mas como ignorar na era da novidade?


Gana pela vida


Fórmulas existem

A gana pela vida tem bajuladores

Apoiadores de antiga visão otimista

Que não sucubem ao estrondo dos rumores


Enganos existem

A gana pela vida tem zombadores

Apoiadores de antiga visão pessimista

Que não suportam ao sossego dos clamores


Gana pela vida


10. Tecer o passado


Nos momentos de ócio teço o passado

Imagino o que as pessoas sentiram


Nas lacunas da história teço o passado

Escrevo o que as pessoas disseram


Nas feridas do grupo teço o passado

Desenho o que as pessoas temiam


Nas risadas de sorte teço o passado

Projeto o que as pessoas sofreram


Teço o passado


O tecido do passado é tênue

Vira conforme o peso que impacta


O tecido do passado é oculto

Mostra conforme a praça que escava


O tecido do passado é precioso

Brilha conforme o prisma que examina


O tecido do passado é disputado

Some conforme o gosto que ordena


Tecer o passado


Passado, preserve seu tecido!

Ele está destroçado


Passado, oriente seu tecido!

Ele está enganado


Passado, estime seu tecido!

Ele está ofendido


Passado, reforçe seu tecido!

Ele está dividido


Tecer o passado


A roupa admirada

A tenda esquecida


O lençol tingido

O filtro aquecido


A rede balançada

A cortina exaurida


O adorno contido

O tapete recebido


Tecer o passado


11. Rotina


Não tenho rotina

A desejo no dia a dia

Porém, vem algo em surdina

E abala a organização


Não cultivo rotina

A desejo no cara a cara

Porém, vem algo em temporal

E derruba a plantação


Rotina


Leituras que começo e não termino

Versos que projeto e não executo

Roupas que lavo e não reparo

Notícias que escuto e não penso


Músicas que admiro e não digo

Afetos que pergunto e não entendo

Opções que procuro e não decido

Batalhas que avanço e não venço


Rotina


Destino, acaso que desata a certeza

Problema, solução que reduz a surpresa

Rotina, castigo que limita a beleza


Lógica, imperícia que mergulha o navio

Desapego, simpatia que aprova o feitio

Rotina, benção que amplia o desafio


Rotina


Rotina que tento mudar, embora cansado

Quase derrubo a meta do equilíbrio perfeito

Ajeito as sobras do que foi confrontado


Rotina que tento aceitar, embora inquieto

Quase lanço o fim do preceito repetido

Bagunço as fibras do que está secreto


Rotina


Teste de uma nova lista de roteiros

Há vigores e formas de adiantar


Teste de uma antiga fonte de tarefas

Há molezas e formas de protelar


Rotina


Apoio, se a rotina for produtiva

Percebida por interesseira economia


Repúdio, se a rotina for esquecida

Julgada por rotineira convenção


Rotina


12. Desconfiado


A ação não concluída

O segredo escavado

A tristeza consentida

O pavor não expulsado


A agonia não refletida

O interesse aumentado

A fronteira redigida

O plano não confirmado


Desconfiado


Desconfio 

Ruídos nas afirmações

Frases evitadas

Presenças insistidas


Desconfio

Silêncios nas recordações

Emoções pausadas

Cautelas derretidas


Desconfiado


A desconfiança entranhada

O riso satisfeito na barriga

A camada de enganos

O brilho simultâneo a quantia

Exemplos de garantias prometidas


A desconfiança externada

O passo exitoso na fadiga

A dureza de espantos

O hiato posterior a ideia

Exemplos de respostas contorcidas


Desconfiado


Desconfie

O laço é repisado na competição

A letra é confundida no alvoroço


Desconfie

A labuta é conduzida no devaneio

O pedido é fincado na serventia


Desconfiado


13. Porta para enlouquecer


A porta para enlouquecer

Essa eu fecho quase totalmente

Muitos antes de me recolher

Antes até de acordar


A porta para enlouquecer

Essa eu vigio quase totalmente

Muito antes de me arrepender

Antes até de inventar


Porta para enlouquecer


Tenho fixação nessa porta

Essa porta guarda minha sanidade

O histórico genealógico pode voltar

O preparo é melhor que o desatino


Tenho medo dessa porta

Essa porta guarda meu equílibrio

A obra poética pode refutar

A pequisa é melhor que o improviso


Porta para enlouquecer


Loucura não é a sina do poeta?

A loucura traz o resultado do torneio?

Quero combater! Quero enganar!

Consigo contornar a porta?


Loucura não é a paga do escritor?

A loucura traz o efeito do gracejo?

Quero escapar! Quero resolver!

Consigo atravessar a porta?


Porta para enlouquecer


Perguntem a porta!

O mistério da loucura 

A escolha da falência

Convoquem o inventário


Ignorem a porta!

O descaso da loucura

A entrega do interesse

Rechaçem a herança


Porta para enlouquecer


14. Eu, Catálogo


Depósito de informações ancestrais, atuais

Sumário de imperfeições pessoais, grupais

Arquivo de peças cultuadas, apagadas


Crônica de assuntos cordiais, bélicos

Resumo de fatos aprovados, rebatidos

Fichário de documentos relevantes, triviais


Eu, Catálogo


Me dizem: Você é inteligente

Eu penso: Não, apenas sei muitas coisas

Vantagem ou prejuízo


Me pergunto: Saber algo acrescenta?

Eu respondo: Sim, segundo o objetivo

Obstáculo ou possibilidade


Eu, Catálogo


Catálogo que se transforma

Catálogo vivo que impressiona

Catálogo que questiona a parte oficial


Catálogo que se dedica

Catálogo eterno que passeia

Catálogo que manifesta outras partes


Eu, Catálogo


Ata de reuniões criativas, repressoras

Ofício de ordens diretas, introspectivas

Bilhete de conselhos úteis, confusos


Prova de questões objetivas, subjetivas

Carta de notícias escondidas, reveladas

Dedicatória de livros misteriosos, famosos


Eu, Catálogo


Me dizem: Você pergunta muito

Eu penso: Sim, tenho muitas dúvidas

Suporte ou reprimenda


Me pergunto: Desconhecer algo pertuba?

Eu respondo: Não, segundo a pessoa

Artimanha ou correção


Eu, Catálogo


Catálogo que se interessa

Catálogo diverso que ambiciona

Catálogo que escolhe o enfoque crítico


Catálogo que se espalha

Catálogo orientado que convida

Catálogo que permite outros enfoques


Eu, Catálogo


Revista de artigos repetidos, raros

Fábula de deveres esperados, rejeitados

Cardápio de pratos conhecidos, inventados


Panfleto de lojas simples, suntuosas

Contrato de cláusulas reais, duvidosas

Declaração de dívidas forçadas, escolhidas


Eu, Catálogo


Eu, Catálogo

Eu, Catálogo

Eu, Catálogo


15. Otimizar


Otimização de tempo

Milhares de segundos

Otimização de tempo

Fontes de absurdos


Otimização da faxina

Milhares de poeiras

Otimização da faxina

Subidas de ladeiras


Otimizar


Otimização do afeto

Milhares de cuidados

Otimização do afeto

Testes de telhados


Otimização do íntimo

Milhares de problemas

Otimização do íntimo

Críticas de sistemas


Otimizar


"Não perca o tempo"

"O ócio é perigoso"

Se me recolho ao sepulcro

Vingará o meu esforço?


"Não perca o tempo"

"A ideia é perigosa"

Se me dedico ao costume

Pegará a minha revolta?


Otimizar


"Ganhe dinheiro"

"A arte não é rentosa"

Se me amarro ao tesouro

Criará a minha obra?


"Ganhe dinheiro"

"O raro não é rentoso"

Se me regulo ao formato

Verterá o meu arrojo?


Otimizar


Otimize

Sonho é extrato?


Otimize

Poema é sustento?


Otimizar


Otimize

Música é imóvel?


Otimize

Filosofia é serviço?


Otimizar


16. Outros lados


Ser um só, apenas chato

Não me convence

Quero outros lados


Ser um livro, apenas calmo

Não me enlaça

Faço outros lados


Outros lados


18 livros, apenas traço

Não me exprime

Levo outros lados


5 anos, apenas átimo

Não me defende

Ganho outros lados


Outro lados


Não acreditei que teria tantos lados

Lados que eu não fomentava

Lados já abandonados


Não acreditei que diria tantos lados

Lados que eu não planejava

Lados já resignados


Outros lados


Não acreditei que olharia outros lados

Lados que não concordava

Lados já apreciados


Não acreditei que juntaria outro lados

Lados que não amparava

Lados já fragmentados


Outros lados


A ruptura e a continuidade dos lados

O descanso e o confronto dos lados

A justiça e a maldade dos lados

O estrago e o remendo dos lados


Outros lados


Lados! Expliquem!

Lados! Outros lados!


Lados! Venham!

Lados! Outros lados!


Outros lados


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.


Todos os direitos reservados.

No vazio (da passagem) - As lacunas de Felipe Prasino (2025). Obs:. 17° livro de Felipe Prasino.

Cor: Índigo


Símbolo matemático: conjunto vazio


Temas: Vazio, falta, subjetividade, espera, mergulho, cotidiano, exagero, esvaziamento, direitos, experiência, cumprimento, direção, afastamento, reorganização, preenchimento, passagem


Data aproximada de escrita: janeiro, fevereiro e março de 2025


1. Ninguém me preencheu


Nunca tive ninguém

Ninguém nunca me teve

Eu quis impor um porém

A recusa não me deteve


Nunca olhei ninguém

Ninguém nunca me olhou

Eu quis ficar mais aquém

O alarme não me agradou


Nunca acudi ninguém

Ninguém nunca me acudiu

Eu quis pensar um além

A penúria não me iludiu


Nunca motivei ninguém

Ninguém nunca me motivou

Eu quis juntar mais vintém

O colapso não me alarmou


Ninguém me preencheu


Esperei

Que respondessem tudo que me movimentou

Desejei

Que acolhessem tudo que me acompanhou


Convoquei

Que repensassem tudo que me transformou

Provoquei

Que recolhessem tudo que me descontrolou


Ninguém me preencheu


A ciência, a religião

A união, a consciência

Não me preencheram


A arte, a natureza

A paz, a filosofia

Não me preencheram


Ninguém me preencheu


A falta de algo, a sexualidade

A sensação da completude

Não me preencheram


A evolução, a solitude

A noção da transitoriedade

Não me preencheram


Ninguém me preencheu


2. Subjetivo


Vivo na minha cabeça

Não ajo com muito viço

Duvido do que me oferecem

Não moldo os atos do mundo


Vivo na minha cabeça

Não ajo com muito relevo

Desvio do que me enviam

Não dito os medos da vida


Subjetivo


Dentro de mim, vivo

O eu interior me provoca

Fora de mim, aguento

O eu exterior me incomoda


Dentro de mim, creio

O eu introvertido me salva

Fora de mim, observo

O eu extrovertido me roga


Subjetivo


Divirto-me por dentro

Espero-me por fora

O problema é o equilíbrio

A resposta me impacta


Refaço-me por dentro

Situo-me por fora

O sentimento é o balanço

A loucura me questiona


Subjetivo


Dentro dos meus escritos, detalho

O passado me acompanha

Fora dos meus gritos, estaco

O presente me impressiona


Dentro das minhas ideias, transcedo

A amizade me aconselha

Fora das minhas traqueias, murcho

A inimizade me entristece


Subjetivo


A palavra me atravessa

A teoria me vincula

Subjetivo


A ação me revela

A prática me pertuba

Subjetivo


3. Esperar


Esperar

Que o poema chegue

Que a ideia se apresente


Esperar

Que a voz questione

Que a pausa se complete


Esperar

Que a guerra desmorone

Que a bagunça se propague


Esperar

Que o desprezo rotule

Que a ignorância se louve


Esperar


Esperar por pessoas que não poderei

alcançar

Esperar por distinções que não poderei alterar


Esperar por direitos que não poderei conservar

Esperar por provocações que não poderei evitar


Esperar


Não consigo bater de frente com o mundo

Ele é mais poderoso, mais apoiado

Sou um mero corpo esquecido


Não consigo encarar de frente a maldade

Ela é mais ardilosa, mais valorizada

Sou um mero ser recolhido


Esperar


Um dia algo se assentará

Não posso move-lo

Não poderei regula-lo


Um dia algo se mostrará

Não posso conte-lo

Não poderei irrita-lo


Esperar


4. Águas que mergulho


Não quero performar gênero

Não quero reforçar nada

Tentar me enquadrar foi fatal

Quase me levou ao esgotamento


Não quero perpetuar crítica

Não quero incomodar nada

Tentar me destacar foi banal

Quase me levou ao esquecimento


Eu e as minhas divagações

Eu e as minhas travessias

Repeli as observações

Codifiquei as entrelinhas


Eu e os meus devaneios

Eu e os meus redemoinhos

Lapidei os isolamentos

Relançei os problemas


Águas que mergulho


Entro em piscinas, mares, oceanos

Lacunas, narrativas, conexões


Me esqueço em derrotas, lidas, partidas

Alegrias, pausas, focos


Me ensaio em procuras, luzes, caminhadas

Subidas, arquivos, rascunhos


Saio de disputas, poderes, avarezas

Faltas, confusões, apegos


Águas que mergulho


Mergulho onde?

No que está saturado?

No que dá polêmica? 


Mergulho onde?

No que não foi explorado?

No que não teve repercussão?


Onde estão essas águas?

No meu inconsciente?

No meu cérebro?


Onde estão essas águas?

Nas minhas células?

Na minha alma?


Águas que mergulho


5. O vazio no cotidiano


Filho da inconstância

Filho da preocupação

Aluno da desconfiança

Aliado da demolição


Filho da escassez

Filho da composição

Aluno da sensatez

Aliado da revelação


Tempo vazio

Templo vazio

Remo vazio


Centro vazio

Cetro vazio

Vento vazio


O vazio no cotidiano


Filho da doença

Filho da alienação

Aluno da desavença

Aliado da provocação


Filho da paciência

Filho da superação

Aluno da experiência 

Aliado da discussão


Ódio vazio

Dito vazio

Medo vazio


Afeto vazio

Esteio vazio

Voto vazio


O vazio no cotidiano


O vazio no cotidiano

A recusa sem pensamento

O discurso conquistando

A lamúria sem momento


O vazio no cotiano

A ajuda sem fundamento

O engodo convocando

A miséria sem aposento


Vazios existem

Temos condições, opiniões

Isso isenta a existência do vazio?


Vazios existem

Temos julgamentos, movimentos

Isso isenta a permanência do vazio?


O vazio no cotidiano tende a se camuflar

Tende a se enganar ainda mais


O vazio no cotidiano


6. Tempestades (Exageros de um poeta)


Mudo em pontos que não mudava

Tentei combater um princípio

Lembro de pontos que não lembrava

Voltei a proteger um ofício


Provo as palavras que não provava

Falhei em arquitetar um martírio

Olho por palavras que não olhava

Cheguei a despertar um delírio


Exageros

Tempestades de um poeta


Uns se soltando

Outros se fechando

Eu no meio da tempestade

Será que ficarei boiando?


Uns se arruinando

Outros se revelando

Eu no meio do cataclisma

Sera que dormirei gritando?


Exageros

Tempestades de um poeta


Mentiras adoradas

Sensos esquecidos

Violências camufladas

Contrastes escolhidos


Instruções afastadas

Prazos descumpridos

Atenções espalhadas

Motivos suprimidos


Exageros

Tempestades de um poeta


Não aturam as diversidades

Acreditam na limitação

Incentivam a padronização


Não impedem as dificuldades

Ferem na omissão

Escolhem a perpetuação


Exageros

Tempestade de um poeta


7. Esvaziar


Será o desejo vazio?

O apoio inconsequente?

Devo ocultar o feitio?

Como esvaziar o inconsciente?


Será o desastre inevitável?

O apagamento conveniente?

Devo tolerar o improvável?

Como alcançar o transcendente?


Esvaziar


Há mais de cinco anos tento me preencher

Foram muitos poemas, livros, ideias e sonhos


Há mais de alguns meses tento me esvaziar

Foram muitos erros, perdas, acidentes e desilusões


Esvaziar


A obrigação da completude me incomoda

Parece errado estar vazio, com dúvidas

Estar desperto em meio as inundações


A confusão da indiferença me assusta

Parece certo estar alienado, com certezas

Estar contente em meio as futilidades


Esvaziar


Passarei a vida escrevendo?

Conseguirei me estruturar?

Será medo da mentira?

Será hábito de questionar?


Alcançarei a paz comovendo?

Buscarei me atrapalhar?

Será culpa da consciência?

Será vontade de compensar?


Esvaziar


Esvaziar e colocar o que no lugar?

Esvaziar não é tentar se libertar?


Esvaziar


8. Chuva de direitos


Quero chuva

Quero aconhego

Não quero um monte de desprezo


Não quero luta

Não quero medo

Eu quero uma torre de respeito


Quero chuva

Quero telhado

Não quero um prédio sem reparo


Não quero rusga

Não quero estrato

Eu quero uma terra sem conhavo


Chuva de direitos


Cadê a chuva?

Chuva que traz sossego

O incentivo racional


Cadê a chuva?

Chuva que traz emprego

O alimento essencial


Cadê a chuva?

Chuva que traz empatia

O cuidado habitual


Cadê a chuva?

Chuva que traz alegria

O descanso natural


Chuva de direitos


Não irão mais dominar

Enganar, zangar

Venha, chova!


Não irão mais disfarçar

Castigar, quebrar

Venha, chova!


Não irão mais instigar

Segurar, atacar

Venha, chova!


Não irão mais assustar

Humilhar, retirar

Venha, chova!


Venha, chuva de direitos!

Venha, chova!


Chuva de direitos


9. Passar!


Passar!

Já foi o desejo de chorar

Já foi o desejo de parar

Passar!


Passar!

Já foi o desejo de calar

Já foi o desejo de provar

Passar!


Passar!


Passar!

Já foi o desejo de mandar

Já foi o desejo de aprovar

Passar!


Passar!

Já foi o desejo de agradar

Já foi o desejo de brilhar

Passar!


Passar!


Ficar triste, e definhar?

Não! Passar!

Ficar hirto, e esperar?

Não! Passar!


Ficar louco, e atrapalhar?

Não! Passar!

Ficar vazio, e entulhar?

Não! Passar!


Passar!


Um jeito de contestar? Passar!

Um jeito de expressar? Passar!

Um jeito de incomodar? Passar!


Uma chance de embelezar? Passar!

Uma chance de mergulhar? Passar!

Uma chance de aproximar? Passar!


Passar!


Até a tranquilidade prosperar? Passar!

Até a experiência recuperar? Passar!


Passar!


10. Falhei em minha passagem?


Não protegi o espelho

Da flecha, do escudo

Falhei?


Não mascarei a vitrine

Do golpe, da enchente

Falhei?


Não procurei o poder

Da fama, do momento

Falhei?


Não descrevi o barulho

Do medo, do dissabor

Falhei?


Falhei em minha passagem?


Não escrevi o detalhe

Da história, do desejo

Falhei?


Não provoquei a mudança

Da ferida, da companhia

Falhei?


Não costurei a estima

Do olhar, do lembrete

Falhei?


Não recebi a garantia

Do saber, do conteúdo

Falhei?


Falhei em minha passagem?


A passagem é penosa?

Tenho que esvazia-la?

A passagem conforta?

Tenho que adorna-la?


A passagem é interessante?

Tenho que preenche-la?

A passagem constrange?

Tenho que estende-la?


Falhei em minha passagem?


Passagem falha tem qualidade?

Passagem falha tem liberdade?


Falhei em minha passagem?


11. Entender a estrada


Entender a estrada é difícil

A regra não é protegida

O jardim é esquecido

A folha não é definida


Entender a estrada é difícil

A vinha não é dividida

O vento é preterido

A chuva não é recolhida


A estrada no seu costumeiro vazio

A estrada na sua misteriosa incerteza


Entender a estrada


Entender a estrada é fatigante

A palavra é distorcida

O tempo é resumido

A vitória é produzida


Entender a estrada é fatigante

A torcida é repetida

O lugar é atingido

A refeição é decidida


A estrada no seu simpático vazio

A estrada na sua horrível incerteza


Entender a estrada


A estrada que não é ignorante

A estrada que não é conduzida

A estrada que não é acomodada


A estrada que não é mentirosa

A estrada que não é beligerante

A estrada que não é competitiva


Entendam essas estradas


A estrada que não é intolerante

A estrada que não é orgulhosa

A estrada que não é agressiva


A estrada que não é limitante

A estrada que não é avarenta

A estrada que não é maldosa


Entendam essas estradas


12. A permanência da falta


A permanência da falta

A maquiagem do vazio

A frequência da raiva

A roupagem do susto


A permanência da falta

A fragilidade do abrigo

A tendência da briga

A leviandade do preço


A permanência da falta


Consumismo, poder

A falta permanece

Não se importam em aprova-la


Extremismo, mentira

A falta permanece

Não se importam em divulga-la


A permanência da fala

Conservam os erros

Evitam os acertos

"Pra que me dedicar ao todo"?


Provocam os pequenos

Bajulam os grandes

"Pra que me amarrar ao outro"?


A permanência da falta


Repelimos a falta?

Enfrentamos os conceitos?

Acordamos os efeitos?

Requeremos os direitos?


Atraímos a falta?

Prolongamos os defeitos?

Toleramos os confeitos?

Comovemos os eleitos?


A permanência da falta


Jamais refletiu nisso?

Viu? A permanência!


Jamais reparou nisso?

Viu? A permanência!


13. Afastamento


Afastamento

De quem pensei que era parecido a mim

Afastamento

De quem eu provei que era longe de mim


Afastamento

De quem implorei que era certo para mim

Afastamento

De quem eu inventei que gostava de mim


Afastamento


Afastei

De quem não sabe recusar

Afastei

De quem não cabe ensinar


Afastei

De quem não sabe procurar

Afastei

De quem não cabe criticar


Afastamento


Afastando

Quem só sabe difamar

Afastando

Quem só curte atazanar


Afastando

Quem só sabe arruinar

Afastando

Quem só curte controlar


Afastamento


Afastarei

Os mentirosos, arrivistas

Afastarei

Os lamentosos, narcisistas


Afastarei

Os avarentos, convencidos

Afastarei

Os briguentos, distraídos


Afastamento


14. Reorganizar


Reorganizar

As lágrimas

Os livros

Os pedidos


Reorganizar

As faltas

Os temas

Os conflitos


Reorganizar

As escolhas

Os cursos

Os sonhos


Reorganizar

As saudades

Os bilhetes

Os votos


Reorganizar


Sei que ando triste

Preciso confrontar a causa

A lacuna me agride

Gostar demais me piora


Sei que vivo tímido

Preciso resolver o trauma

O abandono me choca

Sentir demais me isola


A organização cura?

A organização revela?


A organização ampara?

A organização distribui?


Reorganizar


Reorganizar além das coisas materiais

O que é pouco intrigante, lucrativo

O que é pouco triunfante, chamativo


Reorganizar além das coisas espirituais

O que é muito deturpado, ignorante

O que é muito espalhado, dominante


Reorganizar além das coisas universais

O que é muito evitado, irritante

O que é muito cercado, mitigante


Reorganizar além das coisas regionais

O que é pouco viajante, inventivo

O que é pouco aspirante, expressivo


Reorganizar o vazio, a passagem

Reorganizar a estima, o vínculo


Reorganizar


15. Preencher


Sabe o que quero

Não quis atender

Sabe que eu zelo

E tento conhecer


Sabe o que detesto

Não quis afastar

Sabe que eu espero

E tento reformar


E faço o que?

Impeço você

Volto a mercê

Querendo me preencher


Diz "nossa amizade"

Não indica meu trabalho

Diz "nossa família"

Não lembra do afeto


Diz "meu amor"

Não descobre meu gosto

Diz "meu modelo"

Não aceita meu defeito


E faz o que?

Tenta correr

Recusa o bufê

Querendo te preencher


Preencher pessoas

Preencher ideias

Preencher ações

Preencher plateias


Preencher terras

Preencher ausências

Preencher séculos

Preencher vivências


Fazemos o que?

Comparo vocês?

Valido o clichê?

Querendo nos preencher


Preencher...

Preencher

Preencher...

Preencher...


16. No vazio (da passagem)


No vazio

(da passagem)

Reuso o que provei


No vazio

(da passagem)

Recuso o que cobrei


No vazio

(da passagem)

Entulho o que mostrei


No vazio

(da passagem)

Debulho o que cessei


No vazio

(da passagem)


No vazio

(da passagem)

Liberei a alma?


No vazio

(da passagem)

Revirei o fato?


No vazio

(da passagem)

Alcancei o povo?


No vazio

(da passagem)

Refundei a arte?


No vazio

(da passagem)


Dívidas reavivadas

Buscas nas fases

Vazio


Decepções esperadas

Risos nas lembranças

Passagem


Escolhas superficiais

Prudências no tempo

Vazio


Trabalhos estressados

Bocejos no tumulto

Passagem


No vazio

(da passagem)


Coragem no vazio, na passagem!

Esperança no vazio, na passagem!


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.


Todos os direitos reservados.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Esparsos e Reunidos - As variedades de Felipe Prasino (2024). Obs:. 16° livro de Felipe Prasino.

Cor: Bordô


Símbolo matemático: Parênteses


Temas: Superação, convenções sociais, homossexualidade, permanências, empatia, memorização, cancelamento, normalidade, fama, saúde, complexidade

Data aproximada de escrita: setembro, outubro e dezembro de 2024


1. Segui sem você


Seu jeito narcisista, vitimista

Pessimista

Me entristecia pra valer

Segui sem você


Seu jeito desdenhoso, orgulhoso

Desastroso

Me convidava pra sofrer

Segui sem você


Pode isso?

Me arruinar?

Me desgastar?

Por uma pessoa que não vai me ajudar?


Pode isso?

Me adoecer?

Me condoer?

Por uma pessoa que não vai me entender?


Segui sem você


Seu jeito carente, envolvente

Incoerente

Me conduzia pra acolher

Segui sem você


Seu jeito instável, notável

Detestável

Me avisava pra perdoar

Segui sem você


Posso isso?

Me humilhar?

Me esforçar?

Por uma pessoa que não vai me acrescentar?


Pode isso?

Me ofender?

Me encolher?

Por uma pessoa que não vai me agradecer?


Segui sem você


2. Eu não cumpri nenhuma delas


Tentando ser o maioral

Um peso em vez de suporte

Buscando ser o trivial

Um muro antes que transporte


Querendo ser o importante

Um prêmio em vez de virtude

Perdendo ser o brilhante

Um hiato em vez de atitude


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Tentando ser o diferente

Um desejo em vez de relação

Buscando ser o ausente

Um corpo em vez de afeição


Querendo ser o normal

Um acordo em vez de revolução

Perdendo ser o essencial

Um círculo em vez de inspiração


A masculinidade e a homossexualidade tem regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Ser viril, ser delicado

Tão hostil, tão odiado

Ser gentil, e adorado


Ser forte, tão pequeno

Tão norte, tão obsceno

Ser consorte, e sereno


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


Ser carinhoso, ignorante

Tão generoso, tão pedante

Ser formoso, e brilhante


Ser inteligente, tão maçante

Tão presente, tão frustante

Ser coerente, e vigilante


A masculinidade e a homossexualidade têm regras

Eu não cumpri nenhuma delas


3. Olhos doces


Como eu queria entender

Esses seus olhos doces

Como eu queria romper

Todos os ódios torpes


Como eu queria amparar

Esses seus olhos doces

Como eu queria enfrentar

Todos os medos torpes


Olhos doces

Com sonhos

Desejos e problemas


Olhos doces

Com deveres

Trabalhos e poemas


Olhos doces

Com famílias

Amizades e uniões


Olhos doces

Com chances

Respeitos e canções


Como eu queria inspirar

Esses seus olhos doces

Como eu queria apontar

Todos os contos torpes


Como eu queria reler

Esses seus olhos doces

Como eu queria deter

Todos os ditos torpes


Olhos doces

Com hortas

Obras e louvores


Olhos doces

Com remédios

Cálculos e valores


Olhos doces

Com ideias

Ensaios e projetos


Olhos doces

Com técnicas

Desenhos e trajetos


4. Algo nunca muda (Nada está bom)


Ontem a fogueira

Hoje o cancelamento

Sempre a cegueira

Nunca o questionamento


Ontem a contenda

Hoje o depósito

Sempre a emenda

Nunca o propósito


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem a repressão

Hoje o alheamento

Sempre a divisão

Nunca o melhoramento


Ontem a pilhéria

Hoje o costume

Sempre a miséria

Nunca o perfume


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem a vestimenta

Hoje o emprego

Sempre a tormenta

Nunca o sossego


Ontem a renúncia

Hoje o alimento

Sempre a pronúncia

Nunca o pagamento


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


Ontem o descaso

Hoje a preocupação

Sempre o atraso

Nunca a reparação


Ontem a ambição

Hoje o desprendimento

Sempre a provocação

Nunca o entendimento


Algo nunca muda, né?

Nada está bom


5. Você entende?


O que você deseja

Quem você deseja

Te estimaria?


O que você procura

Quem você procura

Te procuraria?


Você entende

Não tenho paciência

Os jogos não me interessam

Não tenho tempo para isso


Você entende

Me diga o que está sentindo

A verdade não me incomoda

Não tenho vergonha disso


O que você questiona

Quem você questiona

Te questionaria?


O que você retoma

Quem você retoma

Te retomaria?


Você entende?

Não tenho fortuna

Os sonhos não me preenchem

Não tenho sede para isso


Você entende?

Me diga o que está planejando

A inércia não me protege

Não tenho raiva disso


A maldade

A trapaça

A falta de amparo

Te induziriam?


A vaidade

A preguiça

A falta de assunto

Te construiriam?


Você entende?

Você entende o que te motiva?


Você entende?

Você entende o que te vincula?


6. Não sei decorar conceitos


Não sei decorar conceitos

São tantos que perdi as contas

Não sei ignorar trejeitos

São vários que combati as afrontas


Não sei decorar conceitos

São tantos que temi a loucura

Não sei ignorar respeitos

São vários que repeli a amargura


Conceitos antigos

Modernos, contemporâneos

Superados, amigos

Eternos, instantâneos


Conceitos científicos

Filosóficos, espirituais

Gerais, específicos

Catastróficos, habituais


Não sei decorar conceitos


Não sei decorar conceitos

São cursos que perdi a lembrança

Não sei aumentar confeitos

São muitos que combati a segurança


Não sei decorar conceitos

São tantas que temi a lacuna

Não sei ignorar efeitos

São muitos que repeli a fortuna


Conceitos dogmáticos

Pragmáticos, harmoniosos

Agressivos, democráticos

Traumáticos, perigosos


Conceitos artísticos

Bonitos, dedicados

Responsáveis, críticos

Favoritos, preservados


Não sei decorar conceitos


Não consigo decorar meus poemas

Vou decorar conceitos?


Não consigo decorar meus dilemas

Vou decorar conceitos?


7. Olhos tristes


Comparei seus olhos tristes

Era o efeito da condição

Em muitos vi os medos firmes

Não contornava a solidão


Indaguei seu olhos tristes

Era o efeito da divisão

Em muitos vi os jeitos firmes

Não contornava a ingratidão


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


Provoquei seus olhos tristes

Era o efeito da imprecisão

Em muitos vi os ideais firmes

Não contornava a opressão


Destaquei seus olhos tristes

Era o efeito da opinião

Em muitos vi os valores firmes

Não contornava a repetição


Olhos tristes


Querido 

Eu não quero ver seus olhos tristes


Não consigo suportar seus olhos tristes

Esse olhos me causam aflição

Apesar de continuar tão firmes

Esses olhos me revelam incompreensão


Não consigo ajudar seus olhos tristes

Esses olhos me sucitam precaução

Apesar de aguardar tão firmes

Esses olhos me revelam identificação


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


Em que data essa tristeza acabará?

A nossa fortaleza consiste em escrever?


Em que região essa tristeza acabará?

A nossa proeza consiste em defender?


Olhos tristes


Querido

Eu não quero ver seus olhos tristes


8. Reis cancelados


O rei cancelado ficou triste

O rei cancelado adoeceu

Seu mundo já está ultrapassado

A sua dita fama já morreu


O rei cancelado ficou pasmo

O rei cancelado enlouqueceu

O mundo não está romantizado

A sua dita força já cedeu


Ei rei, seu triunfo já passou

Sua turma já andou

O seu brilho não durou


Ei rei, é melhor se adaptar

Tá na hora de buscar

Não se pode ocultar


Reis cancelados

Não estão sendo armados

Já estão incomodados

Por frotas rechaçados


Reis cancelados

Não estão sendo lembrados

Já estão abandonados

Por aldeias criticados


Reis cancelados

Não estão sendo guardados

Já estão expatriados

Por famílias destronados


Reis cancelados

Não estão sendo chamados

Já estão excomungados

Por igrejas condenados


Ei rei, seu legado já cansou

Sua fúria já baixou

O seu erro não vingou


Ei rei, é melhor se conformar

Tá na hora de indagar

Não se pode tapear


Reis cancelados

Não seram auxiliados


Reis cancelados

Não serão apreciados


9. Sou normal?


O bocejo eu tenho muito

O trabalho eu tenho pouco

Na pegada do fortuito

Ilusão me deixa louco


Me seguro, me contorço

Evitando me estressar

Não esqueço do esforço

Pra tentar me conformar


O ensejo eu tenho muito

O sumiço eu tenho pouco

Na pegada do intuito

Solidão me deixa louco


Me misturo, me distorço

Evitando me entregar

Não esqueço do reforço

Pra tentar me alegrar


Sou normal?


Um jardim em estilo Art Nouveau

Uma sala em estilo Art Decó

Decorando tudo misto

Imagino que é retrô


Um poema com rimas comuns

Uma canção com notas apuradas

Reunindo tudo esparso

Imagino as trapalhadas


Uma estágio com falas ilógicas

Uma partida com ideias reduzidas

Querendo tudo pronto

Imagino as medidas


Uma pasta em pilha estreita

Um jogo em caixa distante

Repondo tudo tenso

Imagino a estante


Sou normal?


Me convenço que não sou normal

Olha os meios acertados!


Me convenço que não sou normal

Olha os temas aplicados!


10. Ser só VIP


Flashes toda hora

Cabelo, maquiagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Autógrafos toda hora

Tietes, paparazzi

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

Na capa da revista

Ou na fala de um filme


Ser só VIP

Na tela do outdoor

Ou na cena de um clipe


Na cena de um clipe

Na cena de um clipe


Very Importante Person


Críticos toda hora

Acertos, trairagens

Coisa da imagem

De ser só VIP


Atritos toda hora

Erros, vaidades

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

No programa da TV

Ou na festa de um hit


Ser só VIP

Na live com os fãs

Ou na venda de um kit


Na venda de um kit

Na venda de um kit


Very Important Person


Roupas toda hora

Calçados, repostagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Desafios toda hora

Estilos, reportagem

Coisa da imagem

De ser só VIP


Ser só VIP

No ato de uma peça

Ou na hora de um clique


Ser só VIP

No meio da partida

Ou na hora de um tique


Na hora de um tique

Na hora de um tique


Very Important Person


11. Ficará conosco?


Ficará conosco?

As medidas se chocam

Ficará conosco?

Os afetos se afastam


Ficará conosco?

As feridas se agravam

Ficará conosco?

Os conflitos se alastram


Ficará conosco?

As bebidas se trincam

Ficará conosco?

Os saberes se findam


Ficará conosco?

As torcidas se assolam

Ficará conosco?

Os desejos se trocam


Poucos ficarão


Ficará conosco?

Os espelhos se quebram

Ficará conosco?

Os coelhos se revelam


Ficará conosco?

Os conselhos se esquecem

Ficará conosco?

Os joelhos se enrijecem


Ficará conosco?

As cantigas se apagam

Ficará conosco?

As bexigas se estragam


Ficará conosco?

As urtigas são aceitas

Ficará conosco?

As fadigas são refeitas


Poucos ficarão


Pense em quem ficará contigo

Quando não existir respostas


Pense em quem ficará contigo

Quando não existir propostas


Pense em quem ficará contigo

Quando só existir momentos


Pense em quem ficará contigo

Quando só existir lamentos


Poucos pensarão


Ficará conosco?

Poucos importarão


12. A base também desaba


A base também desaba

Se o peso não for dividido

A base também desaba

Se o remorso não for conhecido


A base também desaba

Se o gênero não for debatido

A base também desaba

Se o respeito não for seguido


A base também desaba

Ao contrário do que muitos inventam


A base também desaba

Se o saber não for melhorado

A base também desaba

Se o tempo não for apontado


A base também desaba

Se o desprezo não for rechaçado

A base também desaba

Se o motivo não for estudado


A base também desaba

Ao contrário do que muitos comentam


A base da sociedade

Algo que afirmam escutar

Algo que poucos se importam

Algo que adoram separar


A base da sociedade

Algo que figuram resguardar

Algo que poucos auxiliam

Algo que demoram libertar


A base da sociedade também desaba

Ao contrário do que muitos ostentam


A base da sociedade

Algo que procuram limitar

Algo que poucos entendem

Algo que permitem maltratar


A base da sociedade

Algo que estimam atarefar

Algo que poucos se comovem

Algo que assistem definhar


A base da sociedade também desaba

Apesar do que muitos orientam


13. Não me adoecerão


As coisas que não retornei

As pessoas que não disfarcei

Não me adoecerão


Os erros que não reparei

Os medos que não contornei

Não me adoecerão


Os versos que não suportei

Os focos que não apurei

Não me adoecerão


As lacunas que não ocupei

As histórias que não reparei

Não me adoecerão


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre o desespero


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre a ignorância


As provas que não aprovei

As contas que não acertei

Não me adoecerão


Os brilhos que não procurei

Os egos que não instiguei

Não me adoecerão


Os votos que não confirmei

Os louros que não exaltei

Não me adoecerão


As entregas que não ordenei

As esperas que não reclamei

Não me adoecerão


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre o desprezo


Ninguém irá me adoecer

Ainda que encontre a incerteza


E todos os sonhos?

E todos os enganos?

Não ajudarei a adoecer a todos!


E todos os caminhos?

E todos os debates?

Não ajudarei a adoecer a todos!


Não me adoecerão!

Não me adoecerão!


Não me adoecerão!

Não me adoecerão!


14. Esparsos e Reunidos


Os meus versos são diversos

Controversos, modestos

Universos que talvez exploram


Os meus versos são dispersos

Submersos, manifestos

Reversos que talvez afloram


São esparsos, reunidos

Atrevidos, honestos

Convencidos que talvez amolam


São esparsos, reunidos

Repetidos, indigestos

Ressentidos que talvez pioram


Temas que não aturam?

Ideias que não costuram?


Pessoas que não perduram?

Formas que não seguram?


Esparsos e Reunidos

Esparsos e Reunidos


Os meus versos são complexos

Imersos, protestos

Adversos que talvez imploram


Os meus versos são adversos

Emersos, infestos

Tranversos que talvez ignoram


São esparsos, reunidos

Recolhidos, congestos

Oprimidos que talvez apavoram


São esparsos, reunidos

Combatidos, funestos

Preferidos que talvez valoram


Dilemas que não acabam?

Críticas que não desabam?


Palavras que não exalam?

Tempos que não abalam?


Esparsos e Reunidos

Esparsos e Reunidos


São versos esparsos e reunidos

Versos que não tem obrigação


São versos esparsos e reunidos

Versos que contêm consciência


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.


Todos os direitos reservados.

Reatar Essências - As bases de Felipe Prasino (2024). Obs:. 15° livro de Felipe Prasino.

Cor: Coral


Símbolo matemático: Colchetes


Temas: Divindade, chakras, desapego, lutas, antepassados, explicação, transcendência, eternidade, evolução, afluência, convergência, instrumentos sagrados, início, espíritos, reunião, essências

Data aproximada de escrita: agosto, setembro e outubro de 2024


1. Partes de Deus


Amon-Rá, te considero parte de Deus

Brahma, te considero parte de Deus

Iluminação, te considero parte de Deus


Zeus, te considero parte de Deus

Javé, te considero parte de Deus

Tupã, te considero parte de Deus


Pacha Mama, te considero parte de Deus

Olodumarê, te considero parte de Deus

Logos, te considero parte de Deus


Partes de Deus


Natureza, te considero parte de Deus

Ser humano, te considero parte de Deus

Absoluto, te considero parte de Deus


Arte, te considero parte de Deus

Essência, te considero parte de Deus

Infinito, te considero parte de Deus


Ciência, te considero parte de Deus

Amor, te considero parte de Deus

Fé, te considero parte de Deus


Partes de Deus


Vejo partes de Deus em tudo

Não posso limitar a compreensão divina

Vejo nas horas, nos sonos

Não posso ignorar os avisos da vida


Vejo partes de Deus em tudo

Não posso vangloriar o fanatismo

Vejo nas ideias, nas ações

Não posso ocultar os saldos do destino


Partes de Deus


Partes de Deus concebem preceitos

Os prismas mudam, mas a luz é a mesma

Partes de Deus ampliam conceitos

O importante é desfazer toda estranheza


Partes de Deus ajudam na elevação

As linhas ajudam, mas a vontade é pessoal

Partes de Deus reduzem a separação

É necessário rever todo vendaval


Partes de Deus


Partes de Deus, eu as entendo

Partes de Deus, eu as respeito

Partes de Deus, eu as estudo

Partes de Deus, eu as observo


Partes de Deus, eu as descrevo

Partes de Deus, eu as procuro

Partes de Deus, eu as estimo

Partes de Deus, eu as divulgo


Inteligência Suprema, te considero parte de Deus

Universo, te considero parte de Deus

Deus, te considero parte de Deus


Partes de Deus


2. Sete redemoinhos


Do topo da cabeça roda a consciência

Do centro dos olhos roda a lucidez

Do centro da garganta roda a expressão


Do centro do coração roda o amor

Do centro do tórax roda a força

Do centro reprodutivo roda a criatividade


Da base do cóccix roda a energia


Sete redemoinhos


Sete redemoinhos rodam continuamente

Rodam mesmo se não acreditarem

Sete redemoinhos modelam

Modelam mesmo se não concordarem


Sete redemoinhos mostram precisamente

Mostram mesmo se evitarem

Sete redemoinhos rogam

Rogam mesmo se bloquearem


Sete redemoinhos


Violeta roda conhecimento

Anil roda intuição

Azul roda inspiração


Verde roda compaixão

Amarelo roda personalidade

Laranja roda sociabilidade


Vermelho roda segurança


Sete redemoinhos


Sete redemoinhos revisam nitidamente

Revisam mesmo se não estudarem

Sete redemoinhos arquivam

Arquivam mesmo se não buscarem


Sete redemoinhos agitam totalmente

Agitam mesmo se disfarçarem

Sete redemoinhos validam

Validam mesmo se alinharem


Sete redemoinhos


Conheçamos os nossos redemoinhos!

Valorizemos os nosso redemoinhos!


Sete redemoinhos


3. Não se apegue a Matéria


A amizade da infância? Só lembranças!

A paixão da adolescência? Só loucuras!

O esboço da vida adulta? Só lamentações!


O amor não é encontrado? Só carências!

O poema não é aplaudido? Só correções!

A pessoa foi apagada? Só tristezas!


Não se apegue, isso não é seu

Não se apegue à Matéria


O esforço do trabalho? Só críticas!

A dúvida da evolução? Só brigas!

A espera da melhoria? Só mentiras!


A ajuda não é aumentada! Só faltas!

A coragem não é incentivada! Só aversões!

O poder foi combatido? Só ganâncias!


Não se apegue, isso não é seu

Não se apegue a Matéria


A Matéria é temporária

O Espírito, atemporal

A mudança é temerária

O engodo, trivial


A Matéria é limitada

O Espírito, colossal

A atitude é evitada

O ócio, desigual


Não se apegue, isso não é seu

Não se apegue à Matéria


A visão é parcial

A sabedoria, completa

A alegria é sazonal

A felicidade, desperta


A audição é pontual

A palavra, reticente

A ideia, contextual

A ação, estridente


Não se apegue, isso não é seu

Não se apegue a Matéria


Não se apegue com o que foi escrito, isso não é nosso

Não se apegue com o que foi destacado, isso não é nosso


Não se apegue, isso não é seu

Não se apegue à Matéria


4. As lutas estão terríveis


A luta entre a matéria e o espírito está terrível

Não evito, mas tento me sublimar

A fuga de mim foi um abismo

A busca da saída irá me esmiuçar


A luta entre o consciente e o inconsciente está terrível

Não evito, mas tento me estudar

A ideia de mim foi um tabu

A busca da reflexão irá me indicar


As lutas estão terríveis


Nasceu em um tempo de transição?

Rebateu um monte de opinião?

Escrever em um tempo de aceleração?

Viver em um pódio de decepção?


Atiçar os problemas do fundo?

Ressaltar os ritos do moribundo?

Desprezar as escolhas do segundo?

Arruinar as fortalezas do mundo?


As lutas estão terríveis


A luta entre o bem e o mal está terrível

Não evito, mas tento me proteger

O descaso de mim foi uma tolice

A busca da verdade irá me responder


A luta entre a vida e a morte está terrível

Não evito, mas tento não adoecer

O ódio de mim foi uma sandice

A busca da paciência irá me envolver


As lutas estão terríveis


As angústias estão terríveis

As lutas expandem, consomem

As angústias estão visíveis

As lutas revelam, protelam


As mentiras estão terríveis

As lutas agridem, dividem

As mentiras estão visíveis

As lutas derrubam, perturbam


As lutas estão terríveis


5. Antes de mim


Hindus, antes de mim

Judeus, antes de mim

Budistas, antes de mim

Zoroastristas, antes de mim


Essênios, antes de mim

Epicuritas, antes de mim

Cristãos, antes de mim

Taoístas, antes de mim


Antes de mim


Mulçumanos, antes de mim

Sufistas, antes de mim

Católicos, antes de mim

Protestantes, antes de mim


Rosacruzes, antes de mim

Deístas, antes de mim

Espíritas, antes de mim

Teosofistas, antes de mim


Antes de mim


Espiritualistas, antes de mim

Umbandistas, antes de mim

Candomblecistas, antes de mim

Hermetistas, antes de mim


Humanidade, antes de mim

Fraternidade, antes de mim

Espíritos, antes de mim

Essência, antes de mim


Antes de mim


Diversas filosofias existiram antes de mim

Muitas formas de conceber a divindade

Diversas poesias aludiram antes de mim

Muitas horas para entender a verdade


Diversos movimentos existiram antes de mim

Muitas formas de conhecer a espiritualidade

Diversos conhecimentos instruíram antes de mim

Muitas normas para escrever a sublimidade


Todos, antes de mim

Todos, depois de mim


6. Não poderei ficar aqui


Não poderei ficar aqui

Vão me abandonar

Buscarei mudar aqui

Vão te abandonar


Não poderei ficar aqui

Vão me questionar

Tentarei chorar aqui

Vão te questionar


Não poderei ficar aqui

Vão...


Ficaria onde tudo é instável?

Onde o sofrimento parece não acabar?

Ficaria onde o medo é desejável?

Onde o conhecimento parece desmoronar?


Ficaria onde tudo é complicado?

Onde a tristeza parece não esgotar?

Ficaria onde o ódio é incentivado?

Onde a proeza parece escassear?


Não poderei ficar aqui

Vão...


Eu quero transcender!

Aqui não quero ficar!

Eu quero outras vidas!

A ilusão não vai prosperar!


Eu quero compreender!

Aqui não quero focar!

Eu quero outros sonhos!

A opinião não vai religar!


Não poderei ficar aqui

Vão...


A ganância é aplaudida

O apodo continua arruinando

A ignorância é homicida

O lodo continua piorando


A iniquidade é ocultada

O nome continua imperando

A banalidade é renovada

A fome continua enganando


Não poderei ficar aqui

Vão...


Precisamos sair daqui!

Precisamos elevar aqui!


Não poderei ficar aqui

Vão...


7. Versos Transcendentes


Estes versos são transcendentes

Transcendem todas as questões materiais

Buscam o capítulo do futuro

Almejam as histórias coerentes


Estes versos são transcendentes

Transcendem todas as questões mundiais

Plantam a harmonia do convívio

Juntam as sociedades resistentes


Versos Transcendentes

Transcendam as repetições do globo

Versos Transcendentes

Transcendam os conceitos da humanidade


Versos Transcendentes

Transcendam as rimas da poesia

Versos Transcendentes

Transcendam as tintas da pintura


Esses versos são transcendentes

Transcendem todas as religiões milenares

Forjam o olhar do pensamento

Apuram as bases da alma


Esses versos são transcendentes

Transcendem todas as filosofias seculares

Comparam o benefício do estudo

Frisam as semelhanças das ideias


Versos Transcendentes

Transcendam as noções de espiritualidade

Versos transcendentes

Transcendam os efeitos da existência


Versos Transcendentes

Transcendam as horas de aflição

Versos transcendentes

Transcendam as voltas da inconstância


Versos Transcendentes

Transcendam as verdades parciais!

Versos Transcendentes

Transcendam as conversas triviais!


Versos Transcendentes

Transcendam os poderes temporais!

Versos Transcendentes

Transcendam os argumentos desiguais!


8. Somos eternos


Somos eternos

Vivos, mesmo no desenlace

Somos eternos

Ricos, mesmo no embaraço


Somos eternos

Pacientes, mesmo na omissão

Somos eternos

Conscientes, mesmo no disparate


Eternos, com os sonhos

As promessas ao voltar

Eternos, bem risonhos

As vontades de apurar


Eternos, com os zelos

Os reparos ao sorver

Eternos, bem modelos 

Os ensejos de colher


Somos eternos

Acompanhamos

Somos eternos

Acrescentamos


Somos eternos

Gratos, mesmo na afliação

Somos eternos

Extratos, mesmo na rispidez


Somos eternos

Artistas, mesmo na algazarra

Somos eternos

Otimistas, mesmo na divisão


Eternos, com as escolhas

As atenções ao comentar

Eternos, com as folhas

As maneiras de cultivar


Eternos, com as tentativas

Os motivos ao responder 

Eternos, com as missivas

Os sentidos de percorrer


Somos eternos

Colaboramos

Somos eternos

Coordenamos


9. Ser em evolução


Quantas vezes tenho que lembrar?

Você é um ser em evolução

Todo fardo para encarar?

Sou um ser em evolução


Quantas vezes tenho que começar?

Sou um ser em evolução

Todo fardo para analisar?

Você é um ser em evolução


Ser em evolução


Ser em evolução

Que erra, chora, incomoda

Que procura entender a multidão


Ser em evolução

Que ama, implora, amola

Que procura suportar a ingratidão


Ser em evolução


Quantas vezes te critiquei?

Você é um ser em evolução

Sempre indo para desabar?

Sou um ser em evolução


Quantas vezes me amparei?

Sou um ser em evolução

Sempre indo para confrontar?

Você é um ser em evolução?


Ser em evolução


Ser em evolução

Que hesita, aproxima, magoa

Que busca chamar a atenção


Ser em evolução

Que afasta, tagarela, inspira

Que busca ocultar a solidão


Ser em evolução


Focando em coisas interessantes

Ser em evolução


Focando em coisas importantes 

Ser em evolução


10. Afluência, Confluência


As ideias afluem na minha mente

Convergem para os versos que eu escrevo

A inspiração não vem de forma recorrente

Meu limite se amolda ao meu desejo


As vidas afluem na minha mente

Convergem para os assuntos que eu pelejo

A dúvida não vem de forma consciente

Meu espírito se alarga ao meu relevo


Afluência, Convergência


Talvez não saiba os detalhes da Física

E muito menos as nuances da Biologia

Mas sei que a força sempre flui

Independentemente dos temores


Talvez não saiba as riquezas da Poesia

E muito menos as técnicas da Música

Mas sei que a mudança sempre fala

Independentemente das ignorâncias


Afluência, Convergência


Não conseguirei escrever, cantar tudo

Mas sei que é preciso me dedicar

Eu preciso comentar a interpretação

Não posso me abster do essencial


Não conseguirei explicar, mudar tudo

Mas sei que é preciso me preparar

Eu preciso aprimorar a comunicação

Não posso me convencer do trivial  


Afluência, Convergência


Sejam águas, palavras

Tudo aflui, converge

É indicado dedicar atenção


Sejam fases, espaços

Tudo diluí, repete

É indicado procurar conexão


Afluência, Convergência


Natureza, Qualidade

Afluência, Convergência


Pureza, Eternidade

Afluência, Convergência


11. Linguagens divinas (Os sons de Deus)


Sânscrito, Grego

Latim, Iorubá

Aramaico, Chinês

Árabe, Persa


Francês, Tupi

Português, Fon

Inglês, Guarani

Quíchua, Polinésio


Linguagens divinas

(Os sons de Deus)


Atabaques, órgãos

Flautas, violinos

Harpas, trombetas

Sinos, chocalhos


Conchas, apitos

Poemas, canções

Peças, juramentos

Danças, avisos


Linguagens divinas

(Os sons de Deus)


Escutem o silêncio

Analisem o tom

Procurem o vento

Vigiem o discurso


Apreciem a nota

Multipliquem a harmonia

Sustentem a palavra

Respeitem a voz


Linguagens divinas

(Os sons de Deus)


Coros, solos

Recitais, saraus

Monólogos, preces

Diálogos, parábolas


Pregações, rodas

Chamados, profecias

Rituais, declarações

Passos, filmes


Linguagens divinas

(Os sons de Deus)


12. Voltaremos ao ponto inicial


Voltaremos ao ponto inicial


Voltaremos ao ponto inicial

Onde a morte não vai atingir

Voltaremos ao ponto essencial

Onde a vida não vai agredir


Voltaremos ao ponto inicial

Onde o medo não vai produzir

Voltaremos ao ponto fraternal

Onde o ócio não vai existir


O ponto inicial

Onipotente

Onisciente

Onipresente


O ponto inicial

Eternidade

Bondade

Verdade


Voltaremos ao ponto inicial

Onde a ideia não vai divergir

Voltaremos ao ponto autoral

Onde a obra não vai destruir


Voltaremos ao ponto inicial

Onde o ódio não vai eclodir

Voltaremos ao ponto universal

Onde o cobre não vai conduzir


O ponto inicial

Amor

Sabedoria

Inspiração


O ponto inicial

Tolerância

Instrução

Dignidade


Poderemos voltar!

Não teremos confusões!


Poderemos voltar!

Não teremos omissões!


Voltaremos ao ponto inicial


13. Poema para os Espíritos


Este poema não precisa agradar ninguém

Vocês superaram as convenções humanas

Quero agradecer a ajuda de vocês

Sei que tenho que me dedicar


Este poema não precisa chatear ninguém

Vocês superaram os orgulhos mundanos

Quero destacar a esperança de vocês

Sei que tenho que acreditar


Poema para os espíritos


Este poema não precisa maltratar ninguém

Vocês superaram os poderes humanos

Quero destacar a alegria de vocês

Sei que tenho que me alegrar


Este poema não precisa ocultar ninguém

Vocês superaram as ilusões mundanas

Quero agradecer a sabedoria de vocês

Sei que tenho que saber


Poema para os espíritos


A vida se torna nítida

O valor da morte é esquecido

Procuramos a elevação


A verdade se torna meta

O sabor da briga é dissolvido

Encontramos a harmonia


Poema para os espíritos


O amor se torna caminho

O andar do tempo é examinado

Requeremos a razão


A divindade se torna morada

O falar do medo é rechaçado

Recebemos a justiça


Espíritos, por favor, recebam esse simples poema


Espíritos, por favor, recebam esse sincero poema


Poema para os espíritos


14. Reatar essências


Reatar Essências

Reatar Essências


Houve um medo

A essência se perdeu

A busca se tornou errada

A essência enfraqueceu


Houve um desleixo

A essência se perdeu

A ajuda se tornou errada

A essência entristeceu


Houve uma guerra

A essência se perdeu

A paz se tornou errada

A essência excedeu


Houve uma mentira

A essência se perdeu

A verdade se tornou errada

A essência encolheu


Tudo necessário aconteceu

A essência se mostrou


Tudo alarmante aconteceu 

A essência se mostrou


Deuses potenciais

Seres em eterna evolução

Moradas siderais

A matéria em dispersão


Retornos adversos

Jornadas em antiga repetição

Caminhos submersos

A alma em purificação


Experiências comoventes

Modos em eterna avaliação

Projetos abrangentes

A raiva em dissolução


Descobertas singulares

Ideias em antiga indagação

Saberes basilares

A estima em multiplicação


Tudo está acontecendo rapidamente

A essência está se mostrando


Tudo está acontecendo nitidamente

A essência está se mostrando


Reatar Essências

Oração, meditação

Ação, reparação


Reatar Essências

Instrução, preparação

Motivação, reunião


Reatar Essências

Lembretes, mensagens

Verbetes, coragens


Reatar Essências

Saberes, paragens

Deveres, viagens


Tudo acontecerá no lugar propício

A essência será mostrada


Tudo acontecerá no ciclo propício

A essência será mostrada


Reatar Essências

Reatar Essências


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.


Todos os direitos reservados


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A Era dos Reajustes - As observações de Felipe Prasino (2024). Obs:. 14° livro de Felipe Prasino.

Cor: Branca


Símbolo matemático: Chaves


Temas: Interesse, voz, limite, preparação, condição, decepção, aparência, aventura, escolha, indagação, advertência, ação, reajustes


Data aproximada de escrita: julho e agosto de 2024


1. O pedaço que agrada


O pedaço que agrada

Pula tudo o que importa

Esconde o lado mais bonito

Mostra ao próximo o que deplora


O pedaço que agrada

Joga fora o que espanta

Esconde o lado mais sublime

Mostra ao próximo o que arranca


Esquece, ou faz questão de esquecer

Existem dois lados, duas bases

Existem respeitos a esmaecer


Repele, ou faz questão de repelir

Reúnem dois fardos, duas fases

Reúnem direitos a resistir


O pedaço que agrada

Não confere o escrutínio

A força que desaba

Não concebe o extermínio


O pedaço que agrada

Não impele a renovação 

A natureza que degrada

Não ingere a reprovação


Escrevo, ou faço questão de escrever

Envio dois bardos, dois carismas

Envio romances a escolher


Canto, ou faço questão de cantar

Cavo dois brados, dois prismas

Cavo histórias a reconsiderar


O pedaço que importa

Vai cair por ter mentido

Jogou fora a confiança

Vai sofrer por ter omitido


O pedaço que importa


Vai cair por ser questionado

Pulou fora a temperança

Vai sofrer por ter manipulado


O pedaço que agrada

E agradou

Não agradará sozinho


O pedaço que agrada

E agradou

Não definirá caminho


2. Só falarei... (Não consigo)


Agora só falarei o trivial

Tomar um lado me trouxe problema

Esquecerei o mundo tão desigual

Confrontar não burlou o sistema


Agora só falarei a futilidade

Estudar o fato me trouxe dilema

Descansarei a mente em saudade

Lamentar não derrubou o esquema


Só falarei...

Não consigo

Só falarei...

Não consigo


Não consigo desver a desigualdade

A crueldade cometida desde muito tempo

Não consigo desver a cumplicidade

A humildade ignorada desde muito evento


Gênero que se impôs a custa do outro

Vida repressora como sinal de desgosto

A imprudência sendo validade por um lado

Vida privativa como sinal de imposto


Liberdade que se trilhou a custa da outra

Vida cansativa como sinal de aprovação

A angústia sendo incentivada por um lado

Vida supressora como sinal de redenção


Só falarei o que quero alterar

Malgrado a posição que me defronta

Sei que tenho muito a remexer

Malgrado a situação que me remonta


Só falarei o que quero indicar

Malgrado a limitação que me avança

Sei que tenho muito a conceber

Malgrado a inspiração que me balança


Medo que se criou, alegando proteção

Trauma que se fincou, alegando reputação

Ódio que se alastrou, alegando distinção

Ensino que se evitou, alegando rebelião


Casamento que se arranjou, alegando companhia

Felicidade que se enterrou, alegando histeria

Posse que se retirou, alegando mentoria

Vida que se travou, alegando alegria


Só falarei...

Não consigo

Só falarei...

Não consigo


3. O limite em ceder


Exaustão

Apagamento

Confusão

Isolamento


Imposição

Afobamento

Decepção

Sofrimento


O limite em ceder

Quanto poderei diminuir?

A rotina de sorver

Quanto poderei garantir?


O limite em ceder

Quanto poderei recuperar?

A fadiga de prever

Quanto poderei sustentar?


O desprezo em não perceber

O esforço pra não demolir

O perigo em não entender

O cuidado pra não afligir


O descaso em não precaver

O pedido pra não explodir

O barulho em não acolher

O jeito pra não ressentir


Quem estudará o limite?

Quem estudará o ceder?

Se uma parte sempre suporta tudo

Quando a outra irá receber?


Quem estudará a necessidade?

Quem praticará o ceder?

Se uma parte sempre aproveita tudo

Quando a outra irá devolver?


Ceder

Sem ofender sua condição

Ceder

Sem exaltar sua posição


Ceder

Sem fixar seu pensamento

Ceder

Sem remover seu sentimento


O limite em ceder


4. Preparação


Quatro anos me dediquei

Os poemas são as minhas indagações

Houve vezes que repensei

As respostas são as minhas sugestões


Várias linhas escreverei

Os problemas são as minhas reparações

Houve perdas que lastimei

As lições são as minhas depurações


Preparação


Questiono frequentemente

Porque continuar o ofício de escrever?

O vazio será preenchido escrevendo?

E quando eu não conseguir discorrer?


Sofro conscientemente

Porque trilhar o caminho de procurar?

O saber será alcançado procurando?

E quando eu não conseguir encontrar?


Preparação


Quantos séculos me desviei

Os delírios são as minhas provações

Houve vezes que fraquejei

As quedas são as minhas punições


Vários livros meditarei

Os conceitos são as minhas expansões

Houve vezes que hesitei

As lacunas sãos as minhas motivações


Preparação


A igualdade que eu almejei

A rima que eu conquistei

O respeito que eu lapidei

O descaso que eu indiquei


A valorização que eu levantei

A beleza que eu transmutei

O reajuste que eu amparei

O período que eu informei


Preparação


5. Condição


Reafirmo, cravo o pé

Minha condição não é sortilégio

Realizo, chamo a fé

Minha condição não traz privilégio


Desconfio, cravo o pé

Minha condição não é império

Desafio, chamo a fé

Minha condição não traz mistério


Mentalizo, cravo o pé

Minha condição não é dispensa

Medianizo, chamo a fé

Minha condição não traz ofensa


Reescuto, cravo o pé

Minha condição não é licença

Refuto, chamo a fé

Minha condição não traz doença


Condição


O gênero que não é respeitado

É preciso gritar?

O caminho que é desprezado

É preciso gritar?


A ignorância que é continuada?

É preciso gritar?

A orientação que é atacada?

É preciso gritar?


O sexo que é estimado?

É preciso gritar?

O medo que é incitado?

É preciso gritar?


A luta que é zombada?

É preciso gritar?

A vida que é dizimada

É preciso gritar?


Condição não é limite

Sexualidade não é limite

Religião não é limite

Arte não é limite


Política não é limite

Sociedade não é limite

Ciência não é limite

Opinião não é limite


Não deixe te maltratar!

Não deixe te apagar!

Não deixe te governar!

Não deixe te arruinar!


Não se limite!

Não se limite!

Não deixe te limitar!

Não deixe te limitar!


Condição


6. Ainda gostará de mim?


Ainda gostará de mim?

Quando apontar as ruínas?

Quando desgastar a sociedade?

Quando refazer as gravuras?

Quando incomodar a maldade?


Ainda gostará de mim?

Quando desagradar as criaturas?

Quando esquecer a utilidade?

Quando remover as falhas?

Quando apurar a felicidade?


A sexualidade será estudada, respeitada

A empatia será incentivada, valorizada

A ignorância será abandonada, evitada

A harmonia será retomada, desejada


A existência será ponderada, melhorada

A igualdade será encontrada, almejada

A mentira será condenada, rechaçada

A busca será aguçada, orientada


Ainda gostará de mim?

Quando o reajuste terminar?

Ainda gostará de mim?

Quando a ira abrandar?


Ainda gostará de mim?

Quando o respeito começar?

Ainda gostará de mim?

Quando a discórdia revidar?


Talentos são diferentes

Escolhas deveriam florescer

Preconceitos são controversos

Multidões deveriam conhecer


Medos são enganosos

Ideias deveriam construir

Conflitos são horrorosos

Uniões deveriam instruir


Ainda gostará de mim?

Quando tudo for falado?

Ainda gostará de mim?

Quando tudo for lembrado?


Ainda gostará de mim?

Quando tudo for guardado?

Ainda gostará de mim?

Quando tudo for mudado?


7. Nada segura (O vazio da aparência)


Olho pra você

Não tenho nada pra dizer

Você olha pra mim

Não tenho nada pra contar


Pergunto pra você

Não tenho nada pra rever

Você pergunta pra mim

Não tenho nada pra somar


Nada segura

Se a superfície desabar

Se é complexo perdura

Até o mistério decifrar


Nada segura

Se a imagem engessar

Se é esbelto costura

Até o manto depurar


Nada segura

(O vazio da aparência)


Sua masculinidade forçada

Ninguém atura

Sua feminilidade forjada

Ninguém atura


Sua integridade forçada

Ninguém atura

Sua moralidade forjada

Ninguém atura


O vazio da aparência

Não pode mais apoiar

O poder que é cesura

Não pode mais saciar


O vazio da aparência

Não pode mais afastar

O prazer que é loucura 

Não pode mais simular


Nada segura

(O vazio da aparência)


8. Minhas andanças


Minhas andanças me afastaram de você

Eu não poderia apoiar a desigualdade

Minhas lembranças me alertaram de você

Eu não poderia suportar a fragilidade


Minhas andanças me afastaram de você

Eu não poderia ajudar a insensatez

Minhas cobranças me livraram de você

Eu não poderia imaginar a mesquinhez


Minhas andanças


A fraqueza é um terreno perigoso

Pisei em solos que poderiam me ceifar

O desgosto é um remédio doloroso

Tomei em goles que deveriam me curar


A independência é um voo belicoso

Respirei em ares que poderiam me lograr

O aprimoramento é um meio laborioso

Trabalhei em feitos que deveriam me lavar

Minhas andanças


Andanças que mostraram o vazio

A tranquilidade que ainda não atingi

Andanças que chamaram desafio

O conhecimento que ainda não refleti


Andanças que moldaram o caminho

A hesitação que ainda não resolvi

Andanças que ajeitaram o desalinho

O entendimento que ainda não acolhi


Minhas andanças


Andanças confrontam divisões

Os focos que são letais

Andanças confrontam imitações

As brigas que são banais


Andanças confrontam multidões

Os medos que são mentais

Andanças confrontam omissões

As vigas que são centrais


Minhas andanças


9. Por que, Feminino?


A repressão te limitou

A mancha foi ter te ignorado

O ódio te isolou

O golpe foi ter te arruinado


A ignorância te condenou

A traição foi ter te expulsado

O temor te apagou

O erro foi ter te assustado


Porque, Feminino?


Por que, Feminino?

Você foi tão desprezado?

Tão demonizado?


Por que, Feminino?

Você não foi estudado?

Não foi valorizado?


Por que, Feminino?

Você é tão vigiado?

Tão controlado?


Por que, Feminino?

Você não é respeitado?

Não é incentivado?


Por que, Feminino?


Você é muito cobrado

Os críticos te chamam de vitimista

Você é muito anulado

Os leigos te chamam de feminista


Você é muito previdente

Os machistas te acusam de privilégios

Você é muito consciente

Os moralistas te acusam de sortilégios


Por que, Feminino?


Masculino, reconhecerá a produção do Feminino?

Masculino, reconhecerá a estima pelo Feminino?


Masculino, reconhecerá a relevância do Feminino?

Masculino, reconhecerá a admiração pelo Feminino?


Por que, Feminino?


10. Evito gente alienada (Sou alienado?)


Evito gente alienada

Que não enxergam a própria condição

Que tem desprezo pela situação

Que só pensa nos próprios problemas


Evito gente alienada

Que não ajudam a conhecida multidão

Que tem fascínio pela rebelião

Que só grita pelos antigos dilemas


Evito gente alienada


Perdi meu tempo com gente alienada

Foi um erro que paguei alto preço

Me ignoram no virtual e na rua

Ampará-los me causou só tropeço


Perdi meu tempo com gente alienada

Foi um desgosto que recebi espinho

Me odiaram no sol e na lua

Estimá-los me legou só desalinho


Evito gente alienada


Alienados e alienados, se estudem!

Não veem que a vossa alienação atrapalha o mundo?

Não veem que a exaltação geral não dura um segundo?

Não veem que o desvio não mostra tudo?


Alienados e alienadas, se estudem!

Não veem que a vossa alienação impede a apuração da humanidade?

Não veem que a renovação total estraçalha a maldade?

Não veem que o vazio não ensina tudo?


Evito gente alienada


Sou alienado? Contribuo para alienação?

Quais impressões são alienadas?

Quais produções são alienadas?

Quais observações são alienadas?


Sou alienado? Contribuo para alienação?

Quais hesitações são alienadas?

Quais informações são alienadas?

Quais reflexões são alienadas?


Evito gente alienada


11. Não, não vão!


Zombaram de você

O que dizia é sem sentido?

Não!


Cansaram de você

O que vivia é sem sentido?

Não!


Roubaram de você

O que queria é sem sentido?

Não!


Ocultaram de você 

O que sabia é sem sentido?

Não!


Não vão zombar, não!

Já tentaram me calar

Não!


Não vão cansar, não!

Já tentaram me julgar

Não!


Não vão roubar, não!

Já tentaram me vetar

Não!


Não vão ocultar, não!

Já tentaram me matar

Não!


Não, não vão!


Não adoeçam mais!

Reformem o viver!

Não atrapalhem mais!

Instruam o poder!


Não ofendam mais!

Rejeitem a divisão!

Não estraguem mais!

Destruam a opressão!


Será que vão?


12. A Era dos Reajustes


Meu amor, estamos na Era dos Reajustes

Não endossaremos banalidades


A Era dos Reajustes

A mulher deverá viver

O erro que nos desune

Irá se arrepender


A Era dos Reajustes

O homem deverá respeitar

A ideia que nos assume

Irá se aprimorar


A Era dos Reajustes

A mulher deverá prosperar

O cuidado que nos habita

Irá reaproximar


A Era dos Reajustes

O homem deverá entender

A divisão que nos limita

Irá desaparecer


Pessoas, essa é a Era dos Reajustes!

Pessoas, não queremos mais embustes!


Pessoas, essa é a Era dos Reajustes!

Pessoas, não queremos mais abutres!


Mulheres, sejam as donas de todas as eras!

Mulheres, sejam as donas! Percebam as esperas!


Mulheres, sejam as donas de todas as eras!

Mulheres, sejam as donas! Percebam as esferas!


A Era dos Reajustes é agora!

Vamos aprender com a era!


A Era dos Reajustes é agora

Vamos escrever com a era!


Meu amor, estamos na Era dos Reajustes

Não endossaremos atrocidades


É proibida a reprodução desta obra sem a devida citação/menção do autor.


Todos os direitos reservados